Licenciada em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, Maria Manuela de Oliveira Jacinto, natural de Odemira, é Vice-Presidente da Escola Portuguesa de Moçambique-Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP). Em entrevista ao NL conta-nos a sua vivência.

Por Catarina Martins

Constitui com mais dois elementos, uma Presidente e um Vice-Presidente, a equipa de gestão. Nesta entrevista, Manuela Jacinto dá-nos a conhecer a instituição onde trabalha, a qual “é sem dúvida a obra mais marcante do investimento do Estado Português em Moçambique após a sua independência” palavras que António Melo, presidente da Associação de Pais, deixou registadas no jornal mensal da escola, o “Pátio das Laranjeiras”.

Fale-nos um pouco da Escola Portuguesa de Moçambique?

A Escola Portuguesa de Moçambique-Centro de Ensino e Língua Portuguesa é uma Instituição Educativa do Estado português em Moçambique, localizada em Maputo.
Em 1995 foi celebrado um Acordo de Cooperação entre os Estados Português e Moçambicano para a sua construção, visando a cooperação no domínio da educação e formação e ainda da difusão da língua e cultura portuguesas. Surgiu assim a Escola portuguesa de Moçambique em Maputo, a qual acabou de ser construída em 1999 e à data comemora cinco anos de existência.

Qual a origem dos alunos que frequentam a escola?

Os estudantes são oriundos de diversos países. Embora 40% dos alunos sejam portugueses coexistem neste Instituto crianças e jovens de 21 nacionalidades.As aulas são assim frequentadas por moçambicanos, sul-africanos, indianos, paquistaneses, chineses, americanos, espanhois, franceses, belgas, entre outros. Muitos dos alunos são filhos de quadros técnicos portugueses ou estrangeiros, que trabalham em Moçambique ou trabalharam noutros paises de expressão portuguesa e moçambicanos cuja segunda lingua é o português.

Como funciona o sistema educativo português em Moçambique?

A Escola Portuguesa de Moçambique é uma instituição educativa com três vertentes. É uma escola integrada com todos os ciclos de estudo, desde a educação Pré-escolar aos ensinos básico e secundário. Suporta ainda a realização dos exames nacionais para o ingresso no ensino superior português.
Na escola estudam cerca de 1250 alunos, trabalham 100 professores e 60 funcionários. Tem um centro de formação para professores e técnicos de educação, proporcionando acções de formação ao abrigo da cooperação com Moçambique e ainda um Centro de Língua responsável pela difusão da língua portuguesa através de aulas e outras actividades para estrangeiros que ambicionem aprender português.
Possui ainda um centro de recursos educativos que produz material didáctico multimédia, para apoio às diversas acções de formação realizadas e à prática pedagógica da componente escolar.
As linhas orientadoras têm todas as referências do sistema educativo português, constituindo o principal suporte legislativo ao seu funcionamento o Decreto-Lei nº241/99, de 25 de Junho.

Quais as perspectivas dos alunos que finalizam o ensino na EPM-CELP?

O percurso mais frequente dos alunos que optam pelo ensino superior é o ingresso nas universidades em Portugal ou na África do Sul, a grande maioria para a Cidade do Cabo. Muitos permanecem também em Moçambique, nas instituições de ensino superior como o ISPU, o ISCTEM ou a Universidade Eduardo Mondlane, entre outros.

Que actividades oferece a Escola Portuguesa?

Para além das actividades curriculares inerentes ao currículo nuclear português, a EPM-CELP oferece uma diversidade de actividades de complemento curricular e extra- curriculares, visando o desenvolvimento pessoal e social dos alunos e a participação das famílias. Lecciona-se a disciplina de História e Geografia de Moçambique, em alguns anos de escolaridade, para um melhor entendimento do contexto em que se vive. Entre as actividades de complemento curricular e extra-curriculares destacam-se o judo, a patinagem, o xadrez, as artes domésticas, modalidades do desporto escolar, flauta, piano, viola, violino, entre outras.
No âmbito do seu projecto educativo “Educar para a cidadania”, evidenciam-se os programas “Escola segura “ e “Educação para a Saúde” através de metodologias para a prevenção e focalizando as problemáticas mais pertinentes para os jovens de hoje como a preparação para uma vida saudável, uma sexualidade responsável, o problema da gravidez precoce e das doenças sexualmente transmissíveis.
Para tal conta-se com uma equipa constituída por uma médica escolar, uma enfermeira, uma psicóloga, que com a Direcção constituem uma equipa de trabalho de prevenção.
A EPM-CELP acompanha, supervisiona e acredita oito escolas moçambicanas de direito privado que leccionam em diversas regiões de Moçambique, o currículo português, como sejam as escolas do Songo, Nacala, Nampula, Quelimane, Beira e Maputo, apoiando o seu pessoal dirigente, docente e administrativo.

Como são as instalações e que recursos disponíveis têm?

O espaço escolar é amplo, bonito, com jardins repletos de buganvílias e outras espécies. É um edifício imponente, de cor amarela rodeado de calçada à portuguesa.
A escola tem instalações adequadas e bem conservadas tendo o orgulho da comunidade educativa, que coopera e participa activamente nos diversos projectos, de que é exemplo a existência de 20 pavões e galinhas africanas que se passeiam pela escola transmitindo calma às crianças e evitando que estes corram nos espaços escolares com maior velocidade.
Para além das instalações já referidas possui ainda uma Biblioteca, já com um acervo notável, a biblioteca “Poeta José Craveirinha”e um auditório para 175 pessoas com um moderno equipamento de som e de luzes, com duas cabines de tradução simultânea, para três línguas, onde se concretizam diversas acções e eventos culturais, não só para a comunidade escolar como para a comunidade local.

Celebram os feriados e as festividades portuguesas?

Comemoram-se os feriados nacionais de Portugal e de Moçambique, embora respeitando um calendário escolar alargado. Realizam-se as férias escolares do calendário de Portugal, com ligeiras diferenças, resultado da adaptação ao contexto local.
Festejamos as datas mais marcantes com festas para a comunidade, em que colaboram também a Associação de Estudantes e a Associação de Pais da EPM-CELP.
Festeja-se o Dia de Portugal, o Dia da Escola, o 25 de Abril, os Santos Populares e o Magusto com a presença de toda a comunidade portuguesa e moçambicana que trabalha e se associa à EPM-CELP.

Sente-se Portugal em Moçambique?

Com uma Instituição desta natureza, Portugal não pode passar de maneira nenhuma despercebido em Moçambique.
É costume convidar a comunidade local à Escola. Damos igualmente constante apoio a algumas escolas locais sempre que possível. Estas têm poucas condições e por isso, como prática de solidariedade e cooperação, são oferecidos livros, outro material escolar, alguns alimentos e trocam-se experiências.
A EPM-CELP é regularmente visitada por várias personalidades moçambicanas e portuguesas que se deslocam a Moçambique, o que muito nos orgulha, e impele a fazer cada vez mais e melhor por forma a que esta Instituição constitua no presente e no futuro um marco na educação e na difusão da língua e cultura portuguesas em África.



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