A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (AVADouriense) exigiram hoje medidas de caráter estrutural na Região Demarcada do Douro (RDD), após os anunciados cortes à produção do Vinho do Porto.
Na sexta-feira, o conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) anunciou a transformação de 75 mil pipas de mosto em vinho do Porto nesta vindima, menos 15 mil do que em 2024.
O benefício de 75 mil pipas (550 litros cada) de mosto para produção de vinho do Porto foi o principal resultado do comunicado de vindima aprovado pelo conselho interprofissional do IVDP, que esteve reunido na sexta-feira no Peso da Régua, distrito de Vila Real. No ano passado, o quantitativo foi fixado nas 90 mil pipas.
Na reação ao anúncio, a CNA entende que, sobretudo para os pequenos e médios viticultores, este corte “significa mais uma machadada nos seus rendimentos, levando a situação desesperada de muitos produtores para lá do suportável”.
Neste contexto, prossegue o comunicado, confirma-se “também a necessidade de, para além de apoios urgentes, serem tomadas medidas de caráter estrutural na RDD, tal como os viticultores têm reclamado e continuarão a reclamar, junto do IVDP, do Ministério da Agricultura e do primeiro-ministro”.
“Este corte impõe de forma mais aguda a tomada de medidas imediatas que compensem os produtores pela perda de rendimento nesta vindima, direcionando-as sobretudo para os pequenos e médios viticultores, de forma desburocratizada e com dotações suficientes”, acrescenta a nota de imprensa.
Sublinhando que os viticultores “rejeitam liminarmente o arranque da vinha”, considera a CNA que “isso é mais do mesmo: empurrar os pequenos e médios viticultores para o abandono, desertificando e empobrecendo ainda mais a região, descaracterizando-a e pondo em risco o seu elevado valor económico, social e cultural”.
A CNA e a AVADouriense reafirmam a rejeição deste corte que afeta os cerca de 20 mil viticultores da região e que, denunciam, acontece “depois de grandes operadores da região terem enviado cartas aos viticultores avisando que não receberão as uvas, num contexto em que se mantém a prática injusta que faz com que muitos viticultores entreguem as uvas sem saberem quanto vão receber por elas, quando a situação de muitas adegas é de crise acentuada e de falta de capacidade de armazenamento e no decorrer de uma campanha com custos de produção acrescidos”.
A confederação alerta que a situação “põe em evidência o desastroso resultado da política que continua a favorecer o desequilíbrio de poder de mercado na RDD entre a produção, a transformação e o comércio, sempre em prejuízo dos produtores e que só favorece a concentração de terras e da produção nas mãos das grandes casas comercializadoras e exportadoras”.
“É esta mesma política que permite que os viticultores continuem a receber pelas uvas o mesmo preço que há 25 anos, enquanto os custos de produção tiveram subidas vertiginosas”, acusa ainda.
O comunicado termina com a CNA e a AVADouriense a reafirmar o seu compromisso com os viticultores durienses na exigência da saída da crise, pelo escoamento das uvas a preços justos, por rendimentos dignos, por uma região viva e com futuro e a ameaçar tomar as “iniciativas necessárias para prosseguir esta justa luta”.