Ribeira de Pena retoma no sábado a tradição do desfile das carranhosas que junta mulheres, de todas as idades, com os rostos pintados, mascaradas e preparadas para os "ataques" dos homens com cinza e farinha.

No centro de convívio de Ribeira de Pena ultimam-se os preparativos para o desfile que junta cada vez mais participantes e atrai mais visitantes àquele concelho do distrito de Vila Real.

Fátima Dias, 62 anos, prepara uma massa com cinza, farinha, ovos e água. A esta mistura junta pelos de cão e coloca um pouco no rosto de Ana Borges, 55 anos, a fingir ser um sinal que faz lembrar "as carranhosas de antigamente".

"Algumas mulheres tinham uns sinais muito feios, com pelos", explicou Fátima Dias à agência Lusa.

Esta é a primeira vez que Ana Borges se transforma em carranhosa e disse que está a gostar da experiência.

"Isto é muito bonito, é uma tradição que a gente fica a gostar e vem muita gente para ver. Toda a gente devia participar que é para a tradição não acabar", referiu.

Mulheres, desde as mais novas às mais velhas, pintam os rostos, põem máscaras pintadas à mão, vestem-se a preceito para o desfile e preparam-se para os ataques dos homens e rapazes com farinha, cinza e confetes.

"Eu vou ser uma viúva para não ser atacada com farinha. Venho vestida de preto, faço-me muito tristinha e assim ninguém pega comigo", brincou Fátima Dias.

Não há documentos escritos sobre as origens deste cortejo, mas foi passando de geração em geração através da tradição oral e foi, ao fim de quatro décadas, retomado em 2016 para dar vida e movimento às ruas deste concelho.

"Sou uma carranhosa de profissão e gosto deste divertimento, adoro", gracejou Maria de Fátima Igreja, de 55 anos.

Já "antigamente" participava na festa. "Os rapazes aproveitavam para nos enfarinhar e botar água, íamos todas cheias de farinha para casa. Antigamente também se usava o pó de arroz. Compravam aos pacotes para despejar na cabeça da gente", recordou.

Agora, lamentou, os jovens "já não brincam às tradições e passam o tempo nos computadores".

Clementina Fernandes, 67 anos, disse é carranhosa há dois anos e garantiu que é divertido.

"É para não esquecermos a tradição da terra. Gosto do convívio, a gente distrai-se e não está sentada no sofá todo o dia a ver televisão", frisou.

Domingos Limões, 65 anos, está preparado para voltar "a atacar" as mulheres no sábado.

"O forte era a cinza, porque a farinha era muito cara e não havia, era precisa para fazer o pão. Quanto mais sujas mais bonitas elas ficavam", recordou.

Enquanto as mascotes, participantes disfarçados de gigantones e cabeçudos, percorrem as ruas da vila para chamar a atenção para a festa, outro grupo de voluntários enfeita os carros de bois que vão participar no cortejo, um deles carregado com uma urna.

"Desde pequenino que me lembra disto, as mocitas vinham por aí fora, todas chiques, mas a malta jovem juntava farinha e cinza, apanhava-as desprevenidas e... bumba. Daí nasceram as carranhosas porque ficavam cheias de carrapetas na cara, ficavam todas sujas. Então nós dizíamos que era mais uma carranhosa e ficou o nome", contou Joaquim Pimenta, 63 anos.

Este ano, Joaquim vai ser o rei do cortejo. "Não, os homens são os galãs. Atenção, aqui não há carranhosos, há só carranhosas", brincou.

O "rei" garante que vai "fazer força" para que a tradição se mantenha. "É uma iniciativa muito bonita, criativa e cultural", sublinhou.

O evento é organizado pela Junta de Freguesia de Salvador e Santo Aleixo d'Além Tâmega, a Fábrica da Igreja Paroquial do Salvador e conta com o apoio do município de Ribeira de Pena.

"O objetivo foi retomar esta parte do que era antigamente e mostrar às gerações de agora e às vindouras", afirmou o presidente da junta de Salvador, Daniel Carvalho.

O autarca destacou ainda a parte solidária da iniciativa, já que, a verba angariada nos almoços e jantares, será entregue aos bombeiros, Santa Casa da Misericórdia e igreja paroquial.

O desfile das carranhosas insere-se nas comemorações do dia de São Brás, que se assinala no sábado e que junta uma componente religiosa à pagã.

O programa da festa arranca hoje e inclui o almoço típico de São Brás, com o caldo de farinha, orelheira cozida e a partilha de pão benzido, ainda cantares ao desafio, e, à noite, serão servidos os tradicionais milhos com carnes.

Um dos pontos altos é a "queimada das carranhosas".

Esta é também uma festa que dá início às comemorações do Carnaval em Ribeira de Pena.


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