Opositores às minas juntaram-se hoje numa caravana com uma centena de carros e percorreram quatro aldeias “ameaçadas” pela mineração, em Montalegre e Boticas, para apelarem à suspensão e rescisão de todos os contratos de exploração.

A caravana antiminas partiu de Morgade e seguiu para a Borralha, ambas no concelho de Montalegre, depois para Dornelas e parou em Covas do Barroso, já em Boticas, aldeias onde se localizam os projetos mineiros que estão numa fase mais avançada nesta região do Norte do distrito de Vila Real.

A iniciativa, segundo Nelson Gomes, presidente da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, quis alertar para “os oito projetos de mineração que estão projetados só para a região do Barroso, classificada como Património Agrícola Mundial”.

“Imaginem a área que isto destrói”, apontou.

A caravana passou por zonas “ameaçadas” pelas minas de lítio do Romano (Morgade) e do Barroso (Covas do Barroso), projetos concessionados às empresas, respetivamente, Lusorecursos Portugal Lithium e Savannah Resources, e que obtiveram uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável, mas condicionada à concretização de medidas de compensação e de mitigação.

São também projetos incluídos na investigação judicial Influencer, que levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa.

“Continuamos em luta e a demonstrar que não é este modo de desenvolvimento que queremos para a nossa terra. Isto destrói a vida das pessoas, destrói os ecossistemas e o meio ambiente”, salientou Nelson Gomes.

O responsável falava aos jornalistas depois de a caravana parar em Covas, onde os opositores às minas se juntaram e mostraram cartazes onde se podia ler mensagens como “Covas do Barroso Património Agrícola Mundial diz não à mina” ou “Não à mina, sim à vida,”.

“Querem-nos impingir uma transição energética justa, sustentável e ecológica e isto é precisamente o contrário. Ela não está a ser justa porque está a ser imposta à força, não está a ser verde porque destrói as florestas, os cursos de água e o meio ambiente e nem é sustentável porque sabemos que, no fim da mineração, não dá lá mais nada”, referiu Nelson Gomes.

Por sua vez, Armando Pinto, da Associação Montalegre Com Vida afirmou que “desistir nunca”.

“Nós só vamos parar quando, obviamente, estas concessões sejam dadas como terminadas. É isto que a população quer e está aqui demonstrado”, sublinhou.

O responsável lembrou a polémica recente que envolveu os projetos, devido à investigação judicial, e pediu que “haja uma análise cuidada de tudo o que já foi feito”.

“E nós achamos que há aqui matéria para que estas concessões caiam. É isso que nos move”, salientou.

Na Borralha, a empresa Minerália-Minas, Geotécnia e Construções está a realizar trabalhos de perfuração e sondagem com vista à exploração de volfrâmio e outros minerais.

“Então com uma mina a céu aberto a 100 metros da minha casa não hei de estar preocupada. Como é que eu vou viver com a poeira, com o barulho, com a lama, com aquela destruição toda. Como é que eu vou viver?”, afirmou à agência Lusa Lurdes Frutuoso, que reside perto da área para onde está prevista a mina da Borralha e que disse que, neste momento, decorrem trabalhos de prospeção no terreno.

Em Dornelas, as queixas são dirigidas à mina do Barroso e à ampliação da mina a céu aberto de Lousas, que está a ser explorada desde 2008 pela empresa Felmica.

Os trabalhos de exploração na mina de Lousas têm como foco principal a exploração de rocha pegmatítica (composta, entre outros minerais, por quartzo e feldspato) a aplicar na indústria cerâmica.

Felisbela Magalhães disse que o impacto já provocado pela mina de Lousas, de pequena dimensão, é já um exemplo “da destruição e poluição” que a mina do Barroso pode provocar neste território.

“Vamos usar os meios todos possíveis para impedir que as minas avancem”, frisou.

A caravana foi uma iniciativa conjunta de oito associações locais e nacionais, designadamente a Associação Povo e Natureza do Barroso (PNB), a Unidos pela Natureza - Associação de Desenvolvimento de Dornelas, a Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), a Associação Bio-N, o Movimento Não às Minas – Montalegre, o Espaço A Sachola, a Rede Minas Não e a Iris – Associação Nacional de Ambiente.

Foto: DR



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