O presidente da Câmara de Ribeira de Pena disse hoje estar convicto que a Mina do Barroso “não pode avançar”, após uma sessão de esclarecimentos no concelho de Boticas, que deixou o autarca local “muito mais preocupado”.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) realizou uma sessão de esclarecimentos em Boticas, no âmbito do processo de consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da Mina do Barroso, que está previsto desenvolver-se no concelho de Boticas, mas afetará também o município de Ribeira de Pena, localizado a jusante, ambos no distrito de Vila Real.

A sessão, onde participaram também representantes da Savannah e da Visa Consultores, responsável pela elaboração do EIA, foi dirigida aos autarcas, instituições e movimentos cívicos, estando fechada à participação da população e da comunicação social.

Por isso mesmo, na rua, concentraram-se opositores à mina a céu aberto que a empresa Savannah Lithium, Lda., quer explorar em território das freguesias de Dornelas e Covas do Barroso.

“A minha convicção é que não pode haver mina porque, em primeiro lugar, todo este EIA é uma autêntica falácia. Os dados não estão devidamente avaliados, nem as repercussões de impacte ambiental”, afirmou, no final da reunião, o presidente da Câmara de Ribeira de Pena, João Noronha.

O autarca apontou para a previsão de construção de duas pontes, no seu território, sem que “nunca” tenha sido consultado.

João Noronha referiu ainda que, nas medidas compensatórias previstas, se fala-se de Vila Pouca de Aguiar e não de Ribeira de Pena, considerando tratar-se de “um engano”.

Chamou também a atenção para a poluição no rio Covas, um afluente do rio Beça, onde a sua autarquia está a fazer uma forte aposta em termos turísticos, de pesca e de recuperação ambiental.

“Se estamos a falar de um estudo sério, não podemos ignorar um território como Ribeira de Pena”, frisou.

Também no final da sessão, o presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, disse ter ficado mais “confuso” e “muito mais preocupado”.

Porque, explicou, “a análise feita não tem em conta a realidade deste concelho”.

“Este EIA é retirado de um outro qualquer estudo de uma outra qualquer área do globo, não têm especifica e objetivamente em conta as realidades de Covas do Barroso e do concelho de Boticas, não tem. Depois tem linguagem imprópria, aliás, diz que vão dar formação a chefes locais. Neste concelho não há qualquer reserva (…), não são nomes aplicados aqui”, referiu.

Fernando Queiroga apontou os “três pilares fundamentais” deste território: a paisagem, a população e a imagem do Barroso”.

“E este projeto é em Covas do Barroso, não é noutra aldeia qualquer, tem a palavra Barroso, e vai danificar a nossa imagem”, sublinhou, considerando estar em causa uma “devassa ambiental”.

O EIA é um dos passos obrigatório para o avanço da exploração mineira.

A consulta pública prolonga-se até 02 de junho.

“Este é mais um passo, nada está decidido”, afirmou Fernando Queiroga.

A Savannah já disse que teve como prioridade desenvolver para a Mina do Barroso um projeto que permita assegurar que os impactes serão de “baixa incidência” ou “mesmo eliminados”.

Segundo empresa, o investimento na Mina do Barroso “resultará em significativos benefícios económicos, sociais e demográficos, de longo prazo, como o investimento de cerca de 110 milhões de investimento para desenvolvimento e construção de infraestruturas locais, e a criação de 215 empregos diretos e entre 500 a 600 indiretos”.

O projeto tem como foco principal a produção de concentrado de espodumena, para posterior alimentação de estabelecimentos mineralúrgicos de processamento de lítio, tendo como subprodutos o feldspato e quartzo para alimentar a indústria cerâmica e vidreira, e prevê a instalação de um estabelecimento industrial (lavaria).

Os manifestantes permaneceram durante a tarde toda junto ao edifício onde decorreu a reunião munidos de cartazes onde se podia ler: “Covas do Barroso Património Agrícola Mundial diz não à mina”, “Verde é o Barroso”, “Não queremos minas na nossa terra” e “Matos Fernandes [ministro do Ambiente] coveiro do Barroso”.

Traziam também muitas enxadas, sachos e sacholas, ferramentas de trabalho dos agricultores que residem neste território que vive essencialmente do trabalho do campo e que é, desde 2018, Património Agrícola Mundial.



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