A Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso adiantou hoje que o projeto do lítio em Boticas, distrito de Vila Real, é “pouco transparente”, razão pela qual não a surpreende a investigação que levou à demissão do primeiro-ministro.

“A nós não nos surpreende nada porque já tínhamos alertado há muito tempo que o processo [da mina do Barroso] tinha sido pouco transparente, havendo muita coisa que não correspondia à verdade”, disse à Lusa Nelson Gomes, presidente da associação que foi criada para lutar contra a exploração mineira naquele concelho.

Segundo o dirigente, a investigação em curso vem “dar razão” às populações que contestam a exploração mineira e demonstrar que “estas é que estão certas”.

Assumindo nunca ter perdido a esperança de que a exploração do lítio não iria avançar em Boticas, Nelson Gomes confessou que essa esperança é “agora maior”.

“Já acreditávamos, mas agora acreditamos muito mais”, ressalvou.

A investigação que visa as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas) são uma “boa notícia” porque estes processos foram, desde o início, “pouco transparentes”, reforçou.

No final de maio, foi anunciada uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada à mina de lítio do Barroso, uma decisão contestada pelo município, população local e organizações ambientalistas.

O projeto proposto pela Savannah Resources prevê a construção de quatro minas a céu aberto e a ocupação de uma área de quase 600 hectares a poucos metros das aldeias de Covas do Barroso, Romainho e Muro. A concretizar-se, será a maior mina de lítio a céu aberto na Europa.

Este foi o primeiro projeto de lítio em Portugal com uma DIA favorável e, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a mina do Barroso obedecerá “a exigentes requisitos ambientais” e incluirá “um pacote de compensações socioeconómicas, tais como a alocação dos encargos de exploração (‘royalties’) devidos ao município de Boticas e, entre outros benefícios locais, a construção de um novo acesso que evite o transtorno das populações”.

O primeiro-ministro, António Costa, pediu hoje a sua demissão ao Presidente da República, que a aceitou, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.

O Presidente convocou para quarta-feira os partidos para uma ronda de audiências no Palácio de Belém, em Lisboa, e vai reunir o Conselho de Estado na quinta-feira.

Numa declaração no Palácio de São Bento, António Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável” e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça “em tudo o que entenda necessário”.



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