A Fundação Côa Parque e a Universidade de Coimbra estão a proceder a trabalhos de documentação da arte rupestre na Ribeira de Piscos, no Parque Arqueológico do Vale do Côa, através de decalques feitos à noite.

“A Ribeira de Piscos é um dos núcleos mais conhecidos da arte rupestre do Vale do Côa, mas a sua quase centena de rochas gravadas apenas se encontra parcialmente documentada”, explicou à agência Lusa o arqueólogo da Universidade de Coimbra André Santos.

Segundo o especialista, com este trabalho de decalque das figuras rupestres da Ribeira de Piscos, obtém-se um maior conhecimento das diversas imagens da pré-História e da História posterior, nesta área do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC).

“Esta campanha visa sobretudo a documentação dos grafismos atribuídos à fase Magdalenense [Paleolítico Superior], mas também da Idade do Ferro e da época moderna”, indicou André Santos.

Em diferentes ensaios, André Santos explica que o decalque direto executado em ambiente noturno ou escurecido, apoiado por luzes artificiais, é um método de documentação privilegiado no estudo de superfícies de pedra com grafismos incisos, como acontece em Foz Côa.

O arqueólogo explicou que se estão a encontrar várias figuras através dos decalques feitos durante a noite, que de outra forma não seria possível identificar, tais como cavalos, auroques, cabras e outras figuras, que enriquecem o repertório figurativo do Vale do Côa

“Esta campanha já trouxe a lume motivos anteriormente desconhecidos, como alguns cavalos e auroques, que só a análise detalhada do decalque noturno permite identificar”, vincou André Santos.

De acordo com os especialistas envolvidos nesta ação de decalques noturnos, os trabalhos visam a documentação de todos os traços gravados nos painéis estudados, com apoio de fotografia diurna e noturna e de levantamentos fotogramétricos.

Esta ação tem igualmente uma componente prática e didática para alunos de licenciatura, mestrados e até mesmo de doutoramentos das áreas de arqueologia e antropologia.

Eleonor Cadete, aluna de segundo ano de mestrado na Universidade de Coimbra, disse à Lusa que a participação nestes trabalhos de campo é positiva e essencial para a formação dos estudantes de diversos graus de ensino superior.

“Durante este estágio estamos a ter interação com pessoas de outras universidades e nacionalidades, o que é muito positivo, e com quem discutimos novas ideias, para aprender mais sobre estas matérias da arqueologia e antropologia", vincou a aluna.

Nesta campanha de decalques noturnos no PAVC, participam alunos das universidades de Coimbra, Porto, de Santiago de Compostela e de Alcalá de Henares, em Espanha, assim como da Sorbonne, em Paris.

Quando da criação do PAVC, em agosto de 1996, foram identificadas 190 rochas com arte rupestre. Atualmente há 1511, das quais 38 são pintadas, o que representa um total de 15.661 motivos identificados, em mais de uma centena de sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30 mil anos, num ciclo artístico que nunca foi interrompido.

A Arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Como uma imensa galeria ao ar livre, o PAVC ocupa 20 mil hectares de terreno que estão distribuídos pelos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, a que se junta o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, com manifestações de arte rupestre.

Foto: Museu do Côa



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