Produtores de castanha de Carrazedo de Montenegro, Valpaços, falam de um “ano atípico” com quebra de produção de 30% e preocupações acrescidas com o escoamento, a covid-19 e a falta de mão-de-obra que fomenta uma aposta na mecanização.

Lino Sampaio trabalha no souto, perto de Carrazedo de Montenegro, distrito de Vila Real, com um ajuntador, uma nova máquina que adquiriu e serve para juntar a castanha caída no chão para, depois, ser apanhada por outra máquina que aspira, através de grandes mangueiras, o fruto, o separa e o ensaca.

“É o futuro. Temos que nos mecanizar”, afirmou Lino Sampaio, produtor e responsável pela associação Agrifuturo.

As duas máquinas facilitam o trabalho do produtor e ajudam a colmatar o problema da falta de mão-de-obra que se intensifica, de ano para ano, neste território envelhecido.

E são também, acrescentou, uma mais valia nesta campanha marcada pela pandemia de covid-19 e em que há mais movimentação de trabalhadores e receio de contágio.

“É um ano completamente atípico para nós, temos que aprender esta nova realidade”, salientou.

Por causa da falta de água e do calor intenso do verão, verifica-se neste território uma quebra de produção que deverá rondar os 30%.

A produção média anual da Denominação de Origem Protegida (DOP) “Castanha da Padrela” ronda as 12 mil toneladas, cerca de 80% da produção destina-se ao mercado externo e, em anos normais, este é um produto que não tem dificuldade de venda.

“Esperemos que não haja problema de escoamento, mas as incertezas decorrentes da pandemia causam preocupações”, afirmou Lino Sampaio.

Há receios com a instabilidade nos mercados internacionais e este é também um ano sem feiras dedicadas à castanha, canceladas por causa da covid-19, e que eram um palco para a divulgação deste fruto.

“Este ano não se vai gastar tanta castanha nos assadores de rua, no São Martinho, nos Santos, nos magustos das escolas (…). As televisões sempre mostravam as feiras aqui e ali e incentivava-se o consumo”, salientou o também produtor Artur Esteves.

Por estes dias, intensifica-se a apanha e o agricultor perspetiva uma quebra na colheita.

“O calibre até será melhor, como há menos frutos, mas no fundo estou a contar em colher para aí menos 30%”, frisou.

Nos soutos, Artur Esteves diz que os apanhadores vão obrigatoriamente usar máscara e estar dispersos por mais árvores, não havendo também cruzamento de pessoas de grupos ou aldeias diferentes.

“É um ano complicado, não chegava a vespa das galhas do castanheiro e ainda mais esta praga”, frisou.

Dinis Pereira, produtor e responsável pela unidade de transformação, embalagem e comercialização de castanha - a Agromontenegro - disse que é preciso “haver uma atenção muito especial” porque se surgirem casos pode haver “dificuldades em concluir a apanha”.

Prevendo também uma quebra de produção devido “à escassez de água no período de verão e ao tempo muito quente”, este responsável frisou que este é um “bom ano em termos de qualidade e de sanidade”.

A Agromontenegro vende o fruto em fresco, a castanha desidratada e farinha para unidades de distribuição, e exporta para países como o Brasil, Estados Unidos da América e Canadá.

Lino Sampaio referiu que, nesta campanha, já se verifica também uma quebra de produção “entre os 15 a 20%” em algumas variedades, associada à vespa das galhas do castanheiro, e frisou que o combate está a ser feito com as largadas dos parasitóides que eliminam a praga, a denominada luta biológica.

É na Serra da Padrela que se situa a maior mancha de castanha judia da Europa. Espalhados por 18 localidades existem 3.700 hectares de soutos e cerca de 2.000 produtores.

A castanha é a fonte de rendimento de muitas famílias. Lino Sampaio diz que vive em Carrazedo de Montenegro por causa deste fruto e apela ao seu consumo, lembrando que, para além da castanha crua ou assada, se pode ainda comer cozida, frita em azeite, desidratada, ou ser transformada em farinha para pão ou bolos.

“A judia tem características especiais, tem um brilho especial, um sabor e um poder de conservação muito grande”, sublinhou Dinis Pereira.

Paula Lima, da agência Lusa



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