Anaísa Susano nasceu em Bragança no dia 27 de Fevereiro de 1981. Veio para a Suíça com a 4ª classe completa, com 10 anos de idade, e nunca frequentou os cursos de língua e cultura portuguesas na Suíça. Até aos 10 anos de idade viveu com os seus avós maternos. No seu primeiro ano na Suíça repetiu a 4ª classe na escola de Luzern e nunca frequentou qualquer curso de alemão.

A sua aprendizagem e integração fê-la com os seus colegas de escola suíços. Uma das suas grandes paixões é a leitura, como tal reconhece que o seu gosto pelos livros ajudou-a a integrar-se rapidamente e a adquirir uma base de conhecimentos que lhe foi uma mais valia na escola. Excelente aluna, começou por tirar um curso de contabilidade antes de se decidir pela advocacia, onde frequenta neste momento o 2° ano na Universidade. Vive com os seus pais e irmão na cidade de Luzern.

Gazeta Lusófona - Como é que tiveste a ideia de tirar um curso de jurisprudência?
Anaísa Susano - Bem, tenho que recuar um pouco. Eu tirei um curso de Contabilidade e fiz um estágio na SUVA do departamento de Direito onde tive a oportunidade de ter um contacto directo com diversos problemas jurídicos.

GL - Quer dizer que antes de frequentares este curso já te tinhas formado em Contabilidade?
AS - Sim, frequentei a escola de Contabilidade, que é uma escola média. Como estava a dizer, depois de tirar esse curso, tive então a oportunidade de ir fazer o estágio à SUVA no departamento de Direito, onde conheci muitos advogados e relacionei-me com muitos problemas de litígio. Foi aí verdadeiramente que me interessei pela advocacia. Para entrar tive que frequentar mais dois anos de escola e depois fazer o exame da Matura. Depois sim, comecei o meu curso de Direito onde estou a terminar o segundo ano.

GL - Quais são as maiores dificuldades que tu encontras-te neste novo curso?
AS - Uma das dificuldades tem a ver com a língua. Não estou a falar do alemão em si, mas sim da Língua jurídica em alemão que é totalmente diferente. Por exemplo, a “culpa em direito na língua alemã”, não tem o mesmo significado que nós utilizámos no nosso dia a dia. É mais aí que enfrento as maiores dificuldades. No entanto, está tudo a correr muito bem.

GL - Tens algum contacto com outros alunos portugueses na Universidade de Luzerna?
AS - Não…não tenho nenhum contacto com outros alunos portugueses. Conheço um rapaz que está a estudar Direito, mas em Zuri-que…agora na Universidade que frequento não conheço ninguém português a frequentar qualquer curso. Neste cantão, existem muitos poucos a estudarem a nível superior. Há uns anos era só eu e o meu irmão a estudar na escola média superior. Nos dias de hoje penso que a situação já se alterou para melhor.

GL - O que é que te interessou mais neste curso e quais são as tuas perspectivas para o futuro?
AS - Bom, eu estou a tirar este curso, não porque quero ser advo-gada, mas porque quero ter uma carreira na área social e é um curso que me dá saber em muitas áreas e que me dá também muitas oportunidades. O que eu gosto mesmo é de trabalhar com pessoas. Pode ser, por exemplo, trabalhar numa secção de pessoal de uma grande firma, onde o contacto com as pessoas é sempre muito estreito, ou até num Consulado na área Social, ou mesmo num Sindicato. Ou seja, resolver problemas de pessoas. Ver quais as melhores perspectivas para resolver certo tipo de problemas. Não sou aquele tipo de pessoa de estar a trabalhar com aquelas leis todas e aplicá-las no local próprio, mas sim ter conhecimento dessas mesmas leis e aplicar esses mesmos conhecimentos para resolver os problemas das pessoas no foro social.

GL - Como é o teu contacto com os teus colegas suíços? Já tiveste alguma situação em que te sentis-te, de certa forma, descriminada?
AS - As minhas relações com os meus colegas são normais. No entanto, efectivamente, já houve dois ou três casos em me senti um pouco descriminada. Não de uma forma directa contra os portugueses, mas sim contra os estrangeiros. Mas foram casos pontuais, por norma a aceitação é excelente.

GL - E com os professores?
AS - Com os professores é engraçado porque havia um professor que estava sempre a dizer brincadeiras dos portugueses. A fazer troça de uma certa forma.
Um dia tive a coragem de lhe perguntar directamente se tinha algo contra os portugueses. Foi então que ele me disse que era casado com uma portuguesa e ia muitas vezes a Portugal de férias. No entanto, com os professores não existe assim muito contacto.

GL - Neste cantão alemão, como já referis-te, existem poucos alunos a frequentar uma escola superior. Segundo a tua opinião, qual será a razão?
AS - Eu acho que tem a ver com a integração. Eu penso que muitos jovens portugueses vivem aqui mas não se integram muito bem na sociedade. Um dos pontos principais é a língua…e muitos não a falam bem. Reparo que muitos deles têm dificuldades em se integrarem em grupos de jovens suíços. A mim ajudou-me imenso ter sempre colegas suíços por perto, isto não quer dizer que tenhamos que esquecer a cultura portuguesa ou o nosso idioma. Também tem a ver com a educação que os pais dão aos seus filhos. A escola suíça é muito rigorosa e selectiva, como tal é necessário os alunos serem muito empenhados com o estudo.

GL - Pensas um dia voltar a Portugal de vez?
AS - Não! Eu gosto muito do nosso país para passar férias. O meu horizonte e objectivos profissionais passam apenas pela Suíça. Defenderei sempre as minhas origens e a cultura portuguesa, mas a minha vida é aqui.

GL - Este curso universitário é custoso a nível económico?
AS - Isso é perguntar aos meus pais que eles dizem logo que sim. (risos) É claro que tem os seus custos, os livros são muito caros, chego a gastar mil francos em livros por semestre, as propinas são semestrais e eu tenho a sorte de poder viver na cidade onde estudo. Caso tivesse que de deslocar para outra cidade, é óbvio que os custos seriam muito superiores.

GL - Qual é a mensagem que poderás deixar a todos os alunos portugueses?
AS - Muita dedicação e empenho. Muita perseverança e acreditar sempre que são capazes de atingir os objectivos a que se propõem.



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