Escolheram o recanto comunitário de Stoughton, onde gente das Flores reunida no Clube Luís de Camões, sob a batuta de José Câmara, festejaram os 100 anos de Alfredo Luís, nascido no Pico Redondo, freguesia da Fajãzinha, a 30 de Abril de 1902.
“A nossa festa foi toda pautada pela simplicidade e respeito ao homenageado.
Hoje ele é a única razão de estarmos aqui juntos e nada mais bonito do que ver um poeta a falar de outro”, começou por dizer José Câmara, mestre de cerimónias de uma noite em que tudo foi cuidadosamente traçado em homenagem
àquela ilustre figura das letras.
“A vossa estadia entre nós reveste-se de uma importância que ultrapassa uma visita normal. A comunidade de Stoughton tem sido esquecida. Com a vossa ajuda e da Direcção Regional das Comunidades vamos pôr Stoughton nos mapas da comunidade açoriana e nas rotas da cultura”, prosseguiu José Câmara.
“A identidade de um povo afirma-se pelas suas tradições, língua, cultura, religião. Numa palavra, a sua cultura. Muitas das nossas organizações, nem todas, como seria nosso desejo, têm pautado a sua existência pela transmissão dessa cultura. Muitos tem sido aqueles que ao longo dos anos vêm tentando e glorificando a sua terra e transmitindo o seu portuguesismo e a sua açorianidade. Ninguém o fez com tanta paixão, carinho e saudade como o fez Alfredo Luís”, concluiu José Câmara.
Álamo de Oliveira esteve em Stoughton, trazendo consigo uma mensagem de Alzira Silva, directora regional das Comunidades, cuja presença foi impossibilitada por razões de saúde.
António Corvelo de Freitas seria o próximo orador. Banqueiro de profissão, jornalista por opção, director do Jornal Monchique, da ilha das Flores. Fez parte da comissão de homenagem a Alfredo Luís, na freguesia da Fajãzinha e veio aos EUA com paragem nas duas costas que homenageou aquela ilustre figura das artes.
“Foi assim que há uns meses atrás, na centenária igreja da Fajãzinha, a comissão de festas e Nossa Senhora dos Remédios dava conta da homenagem a Alfredo Luís. Hoje também aqui, pela mão da Secretaria Regional das Comunidades e de muita gente que se empenhou para a tornar uma realidade fica registada nesta terra bonita de Stoughton no clube que tem por nome Luis de Camões, que lembra o maior nome das nossas letras e no seio de gente amiga, que nasceu nas Flores ou até na Fajãzinha a sentida homenagem a Alfredo
Luis”, disse José Corvelo.
“Há um ano, na mesma freguesia, dava-se início às comemorações do centenário de Alfredo Luís, pela mão da Gabriela Silva, aproveitando a estadia de um grupo de estudantes da Califórnia que ali se tinham deslocado com o professor Dinis Borges a convite da Direcção Regional das Comunidades”, prossegue José Corvelo, director do Jornal Monchique.
“O século XX já pertence ao passado, nós pertencemos a esse passado e muitos de nós já tivemos oportunidade de olhar da janela do novo século muitos dos acontecimentos que marcaram este curto espaço de tempo. Temos bem presente o atentado das torres em New York”, começou por dizer José Corvelo, de pequena estatura mas demonstrando grande àvontade no que dizia.
“O que nos trouxe hoje aqui foi alguém longe das luzes da ribalta, longe dos movimentos que então se faziam sentir na Europa e no mundo vem a nascer no sítio do Pico Redondo, freguesia da Fajãzinha, a 30 de Abril de 1902. Alfredo Luís cedo começou a olhar o horizonte à procura das Américas não tivesse sido o pai mineiro e baleeiro nesta terra que mais tarde o acolheu para sempre”, prosseguiu José Corvelo. “Cedo o desejo de se expressar através da palavra escrita foi mais forte do que a pacatez da Fajãzinha. Provavelmente porque no Pico Redondo o pôr do sol tinha uma tonalidade diferente. Uma vez o professor pediu uma descrição desse fenómeno que recebeu os melhores elogios do mestre.
Estava então na quarta classe e a partir daquele momento foi acometido de uma sede incontrolável de escrever”, prossegue José Corvelo, descrevendo a carreira do homenageado a obrigar juntar homens das letras e artes na sala do Clube Luis de Camões, curiosamente erguido em nome do nosso maior homem das letras. “Mas como diz Afredo Luís “Contudo, não se pode almoçar um poema e que o pão foi e ainda é um elemento a considerar”, adiantou o autor, que terminada a escola e outros estudos particulares, o desejo de partir para o novo mundo foi mais forte. Os pais acabaram por vender uns terrenos que lhe deram a possibilidade de chegar à Califórnia. Com ele, leva num saco de chita cosido pela mãe, um maço dos seus próprios versos. Chegou à Califórnia, condado de Merced, em 1922, onde já se encontrava o irmão. Começou por apanhar batata mas esta experiência durou pouco tempo. Decidiu procurar emprego em São Francisco, mas o desconhecimento da língua inglesa foi uma barreira. Ficou-se então por ajudante de cozinnheiro num restaurante português e foi aqui, quando um dia “atingido por um severo ataque de saudade, ao escrever para o Jornal de Notícias, Alfredo Luís dá início a uma nova fase da vida, aquela que mais gosta, escrever. O redactor Pedro da Silveira convidou-o a trabalhar no semanário Revista Portuguesa. Aqui passou uma boa parte da sua vida até que recebe um novo convite, este de Artur Ávila, redactor e editor na época do Lavrador Português em Tulare. Entretanto o jornal é encerrado, Alfredo Luís regressa a Atwater, onde se emprega numa loja”, assim conta José Corvelo, perante uma audiência reunida no salão do Clube Luis de Camões.
“Entretanto foi-lhe diagnosticado uma tuberculose que obriga a internamento num sanatório. É ali que acaba por aprender inglês. Sai do sanatório e é convidado por uns amigos a ir para Los Banos, com a promessa de emprego num escritório de um advogado. Estamos em 1926. Casa em 1930 com uma jovem de origem italiana e no final da década de trinta cursa na Universidade de Direito na Califórnia que mais tarde lhe viria a dar a posição de juiz municipal, que mais tarde abandonaria motivado por uma contenda com os vereadores daquela cidade”, prossegue José Corvelo, a quem coube a responsabilidade de traçar o trajecto do homenageado.
“Ao ler-se a autobiografia concluiu-se que Alfredo Luís, além de juiz foi conselheiro para as centenas de portugueses radicados no Vale de São Joaquim, desde escrever cartas, preencher documentos de forma a tornar a experiência desta gente na América tão agradável quanto possível. Mas a escrita estava-lhe no sangue e possivelmente a descrição do pôr do sol no Pico Redondo na sua terra natal. Assim, em 1951, vê publicado em New York (USA) e Toronto (Canadá) o livro “Home Is an Island” (A Minha Pátria é uma Ilha). O livro foi alvo das melhores críticas. O seus olhos fecharam-se para o mundo a 10 de junho de 1977 mas a sua escrita ficará eterna entre nós”, concluiu José Corvelo.
Concluia a sessão solene Gabriela Silva, deputada, escritora (Brumas da Califórnia). Começou por enaltecer a acção de Alzira Silva, directora regional das Comunidades, que disse ser “possuidora de sensibilidade extrema com a qual dá gosto trabalhar”, disse Gabriela Silva no encerramento da sessão solene em homenagem a Alfredo Luís e que teve por palco o salão do Clube Luis de Camões.
Fátima Vargas é orgulhosamente uma mulher nascida nas flores. “Deixo uma palavra amiga em casa de toda a gente e um abraço a todos”, disse aquela oradora, enaltecendo em seguida a comunidade de Stoughton. “Os florentinos onde estão marcam uma presença importante”, prosseguiu Gabriela Silva deixando-se transportar às origens e levando consigo todos os presentes aos tempos de professora primária na Fajãzinha.



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