A aldeia de Cidões, no concelho de Vinhais, prepara-se para uma enchente no sábado, na Festa da Cabra e do Canhoto, disse hoje à Lusa um dos membros da organização, Luís Castanheira.

A localidade do distrito de Bragança, concelho de Vinhais que tem ao longo do ano 20 moradores, na maioria idosos, espera “três a quatro mil pessoas”, adiantou Luís Castanheira: “As pessoas querem ir a essa festa porque sabem que ‘quem da cabra comer e ao canhoto se aquecer, um ano de sorte irá ter’. É esse o lema. E sentem que têm um ano diferente, melhor”.

“A aldeia tem 20 habitantes. Na organização somos 30. Temos muita gente que nos ajuda. Não é nada profissional, é tudo com base na amizade e do amadorismo”, referiu.

A tradição é de origem celta. Aos visitantes, é servida cabra confecionada no pote. Faz-se ainda uma fogueira, com um ‘canhoto’, que em Trás-os-Montes é um pau torto e grosso, mas que também é um nome para o diabo.

“Os celtas comemoravam o Samahain, que era a passagem da estação clara para a escura. Era a forma de dizer adeus ao bom tempo, ao sol. E passar para a estação escura que aí vem, com o inverno e as noites frias”, explicou Luís Castanheira.

“À volta de uma fogueira gigante, queimavam todo o azar e má sorte, porque só os mais fortes, e com sorte, iriam sobreviver ao inverno europeu sem as condições que temos hoje”, relembrou ainda Luís Castanheira.

Em Cidões, festeja-se ainda “na forma mais pura”, comendo a cabra como símbolo “da mulher do demónio” e queimando a figura do bode, que representa o diabo.

“Queimámos o bode e comemos a cabra. Diabo só há um. Não teve descendentes. Por isso, a mulher dele é a cabra machorra [infértil]”, acrescentou Luís Castanheira, revelando que a figura do diabo “com 2 ou 3 metros de altura”, foi feita pelos estudantes do agrupamento de escolas de Vinhais.

A festa do Samahain pertence à noite de 31 de outubro.

“Toda a vida se fez nessa data, mas ninguém se interrogava porquê. O Dia das Bruxas é uma tradição europeia, celta, que se espalhou para o mundo. Os irlandeses levaram para a América e espalhou-se por todo o lado”, elucidou Luís Castanheira.

Este ano, a data passou para o fim de semana mais próximo. “Não gostamos de mudar a data, mas as exigências do público-alvo assim o fez”, afirmou, destacando que a tradição antigamente era só para os locais por não haver “muita comunicação para fora do distrito”.

“Era uma noite muito caseira, feita pelas pessoas da aldeia”, disse Luís Castanheira

Tudo mudou a partir dos anos 90, quando “a comunicação social descobriu o ritual”. E a partir daí, a cada ano, mais gente tem viajado até Cidões, “também de Espanha”.

“Tivemos que mudar a data para um sábado, para conseguir organizar toda a logística. Num dia normal da semana, não seria possível porque todos nós da organização trabalhamos”, justificou Luís Castanheira.

Este ano, e para facilitar o transporte “sem preocupação com estacionamento”, há um autocarro que de Bragança às 17:00.


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