A Cooperativa Agrícola de Boticas vai constituir na sexta-feira o Agrupamento de Baldios, que irá abranger uma área de 15 mil hectares no concelho e permitirá “uma gestão efetiva das florestas”, adiantou hoje à Lusa o presidente.

“Este protocolo vai marcar uma viragem, para encarar de uma maneira diferente a gestão dos baldios e para que tenhamos uma gestão efetiva das nossas matas, o que não acontecia há muitos anos, pois o Estado não tinha meios capazes no terreno para a gestão”, explicou Albano Álvares, presidente da cooperativa de Boticas, no distrito de Vila Real.

O projeto Agrupamento de Baldios do concelho de Boticas resulta de uma parceria entre a Cooperativa Agrícola de Boticas (Capolib), o município de Boticas, o Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), a Associação Florestal de Portugal (Forestis) e os órgãos gestores de baldios.

O protocolo será assinado na sexta-feira, durante o seminário “Viver na Ruralidade – Ajustamento e Diversificação na Floresta”, iniciativa da Capolib, que se realiza no Auditório Municipal de Boticas e que deverá contar com a presença do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas.

Para Albano Álvares, a criação do Agrupamento de Baldios, que tem 20 projetos-piloto em todo o país, permite mudar a “gestão técnica” das florestas sem que o Estado perca competências.

“Temos que fazer cadastros, ter as florestas geridas e planeadas, para saber onde vamos cortar e intervir pois, caso contrário, a natureza encarrega-se de fazer as coisas e é por isso que surgem os incêndios”, vincou.

O protocolo permite ainda que só no concelho de Boticas sejam geridos 15 mil hectares.

Também na sexta-feira irá decorrer a apresentação pública e a assinatura de protocolos da “maior candidatura aprovada para cabras sapadoras”, direcionado a produtores de pequenos ruminantes.

“É uma nova forma de gerir os rebanhos, fazendo ao mesmo tempo o combate a incêndios florestais, como se fazia antigamente”, realçou Albano Álvares.

O projeto, que envolve a colocação de um ‘chip’ nos animais, o que permite a sua georreferenciação, está em fase experimental e pronto para ser também protocolado e implementado, entre o final do mês de setembro ou início de outubro.

“Está perfeitamente em funcionamento, não há falhas, e podemos acompanhar o trajeto do rebanho, podemos limitar as áreas e saber se os rebanhos estão ou não dentro das áreas”, explicou.

O presidente da Capolib lembra que as regiões de montanha, como é o concelho de Boticas, vão perdendo população e, assim, também os pastores e rebanhos, o que obriga a fazer agora o pastoreio de “uma forma seletiva, para que em zonas de risco elas [cabras sapadoras] possam prevenir os incêndios florestais”.

O facto da região do Barroso, que envolve os concelhos de Boticas e Montalegre, integrar o Sistema Importante do Património Agrícola Mundial (GIAHS), classificação anunciada em 2018 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) leva à necessidade de serem implementadas medidas que “protejam o ambiente, as florestas e que ao mesmo tempo criem riqueza aos agricultores”.

No caso do projeto das cabras sapadoras, os agricultores irão receber uma subvenção, que ainda não está definida, por cada cabeça de pequenos ruminantes, adiantou Albano Álvares.

“Há para os agricultores um benefício palpável o que é muito justo e deveria ser estendido ao próximo quadro comunitário e a todo o país”, lembrou.

O responsável pela cooperativa de Boticas alertou também que é preciso dar “condições às pessoas para viveram nestas regiões”.

“Penso que se conseguirmos arranjar medidas, que sejam seletivas, de apoio ao mundo rural, teremos com certeza a região com mais pessoas”, assegurou, considerando que a “cumplicidade estratégica” entre as várias entidades é o caminho para o desenvolvimento do território.



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