Não sei, mas tenho para mim que alguém nos deitou mau olhado. Parecia que a navegação mesmo que à vista ia de vento em popa e num repente estancámos. Aliás, mais parece que os ares em movimento favoráveis viram de feição e com um jeito vamos pôr-nos às arrecuas. Só pode ter sido inveja de alguém. Séculos a esta parte até diria que anda por aí mão dos castelhanos. Mas não. Agora somos amigos.
Crónicas de ...
O turismo em Portugal está em alta. Há pessoas a rodos vindas de todos os cantos do mundo buscando e usufruindo das nossas coisas boas, e nós todos contentes. A brincar a brincar, são hoje em dia uma das nossas principais fontes de riqueza e de sustentabilidade das contas.
Estamos num ponto tal que até muito nos admiramos e não falta por aí quem se debruce a encontrar explicação para semelhante fenómeno. Que é dos comeres que são de se chorar por mais, dizem uns, que a paisagem é de muito se admirar dizem outros, e que é da paz que se quase apalpa, dizem ainda outros.
O pessoal lá em baixo, em Lisboa, circulando pelos aveludados corredores dos palácios do Poder, deve achar que o Alto Douro Vinhateiro é assim algo como uma Reserva de Índios, que em vez de bisontes nas pastagens tem pipas de vinho muito bom metido em armazéns. Não serão alguns tão ignorantes ao ponto de não saber que o néctar é feito com muito trabalho de granjeio das vinhas, já nem vou por aí, mas se tivessem noção do trabalho que dá, e do nosso contributo para a economia nacional com o vinho e com o turismo, com outros olhos no veriam e melhor trato nos dariam.
Não há ninguém como nós. A sério. Venha quem vier. Quando arregaçámos as mangas, ninguém nos para. Se nos dá para queremos a independência, desatamos à espadeirada e corremos com os mouros e com os espanhóis. Se nos vira para descobrir mundos novos, vamos velas ao vento por aí afora e nem o mostrengo nos detém.
Ainda muito recentemente calhou a estar no átrio da estação dos combóis na Régua e tive vergonha para não dizer oura coisa. No fundo, no fundo, foi mais até uma certa revolva que se me desenvolveu nas estranhas ao deparar-me com algo que lhes vou falar se fizerem o especial obséquio de me ler.
Era uma vez um pintainho que se sentia desprotegido e abandonado por tudo e por todos. Não fazia nada por ele mesmo e passava a vida a lamentar-se. Chamava-se Calimero e atirava todas as culpas para os outros. Para ele as coisas nunca lhe corriam bem e chorava apelando à comiseração, mas nunca à justiça. Era diferente, mas não marcava a diferença.
Das duas, uma. Ou o mundo anda muito torto, ou então nós estamos muito grossos, com as devidas desculpas perante vossemecês que ainda não perceberam o alcance deste meu dizer neste ponto da coisa.
Mas eu explico. Ou melhor, desenvolvo que é mais disso que se trata. Por exemplo. Aqui há uns dias, disseram as notícias, que um português que trabalha lá fora e que não cabe cá dentro, liderou um negócio em que uma empresa de carros comprou outra por dois milhões de euros, ou a passar. Limpinho.
Ao longo da História, o povoamento do território a administrar sempre foi uma das principais preocupações de quem governa. Na Antiguidade Clássica, às conquistas de impérios, sucediam-se sempre movimentos de verdadeiras massas humanas tendo em vista a sua ocupação. Na Idade Média e tomando como exemplo o nosso país, à medida que se ia conquistando o chão aos mouros, logo havia a preocupação de nele colocar gente nossa.
No Alto Douro Vinhateiro, a nossa terra, está a germinar algo que pode muito bem ser coisa interessante para além de recomendável. As associações culturais espalhadas pela região e habituadas a trabalharem isoladamente com os olhos no umbigo de cada qual, vão organizar-se em rede. Colocando o habitual ceticismo de lado, vão conseguir. Digo eu cá para mim.
Esta história que assim vos conto não aconteceu há muitos, muitos anos, e não foi lá muito, muito longe. Está ainda a suceder hoje em dia, muito perto de mim e de si, e ambos estamos dentro dela. Somos personagens de uma peça que parece de loucos, restando-se esperar que ao cair do pano ainda haja ânimo para alguns aplausos.
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