Pelos vistos, os senhores que mandam na companhia dos comboios, estão muito contentes com a forma como lhes está a correr a vida no que toca aos comboios turísticos que apitam pelas bandas do Douro.
Estão tão contente e satisfeitos, que até pensam já em multiplicar os investimentos nessa área, e quase nem estão para olhar a custos no potencializar de um negócio que pelos vistos só não é da China, porque se passa onde se passa.
Por nós, ou por mim, até fico muito contente que a vida lhes corra, e fico mesmo todo orgulhoso de ver a minha região ser assim apreciada por milhares e milhares de pessoas de fora, fico satisfeito de ver que finalmente ela com os seus encantos vai sendo desfrutada, e registo que o seu valor vai sendo revelado.
Só é pena, é que no que toca aos comboios, que é esse o assunto deste artigo, os tais senhores que mandam nessas coisas, não se lembrem de nós para outras coisas, e que somente se tivessem lembrado de nós, agora que viram o que lhes podemos dar, e o que nos podem vir buscar.
Basta vermos os soturnos, desconfortáveis, e atrasados comboios em que viajamos de cá para lá e de lá para cá, para termos a ideia do estado a que se deixaram chegar as viagens de comboio na Linha do Douro, agora tão celebrada.
A minha experiência pessoal, diz-me que as condições de tempo, de conforto e de trajecto, são imutáveis há várias décadas. Já no inicio dos anos setenta, portanto há já trinta anos ou mais, eu viajava para os lados do Porto no inicio e no fim das férias escolares, e ainda hoje se me aperta a garganta quando entro numa carruagem destes nossos comboios que deslizam pachorrentamente junto ao rio Douro.
Tenho quase a certeza, de que em algum daqueles bancos, já antes, nessa altura, eu sentei o meu rico dito cujo. Existe obviamente a diferença, de antes o banco ser de unicamente de pau frio e rijo, e agora estar revestido de napa com uma delgada tira de esponja a amortecer o contacto dos ossos que já não são o que eram, com o assento.
No que respeita aos tempos de viagem, eles não são muito diferentes, nem muito mais curtos, e se antes davam para muito espera, agora, dão para moer a paciência a um santo. Note-se no entanto, que o tempo já não é o que era, e nem o que com ele fazemos é a mesma coisa, por isso não se compreende que quando se fala em implementar comboios que andam a trezentos e tal quilómetros à hora, aqui para os cem entre a Régua e o Porto, levam-se para cima de duas valentes horas.
Que os ditos senhores da CP estejam contentes com o negócio dos comboios turísticos, e queiram mesmo aumentar ao negócio com mais e novas composições, como eles dizem, a mim muito me apraz, e até sou de lhes bater palmas.
No entanto, já agora, que se lembrem que a Linha do Douro também tem os outros comboios, que são muito necessários, e sem os quais não podemos passar. É que a passar, andamos nós a vê-los desde sempre, e havemos de continuar, caso de uma vez por todas não soubermos mostrar que não somos para aqui uns indígenas à espera do fumo dos comboios trazido pelos ventos que nada mudam.
A ver os comboios

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