Que Cavaco Silva não é um comunicador, já todos sabíamos.
Que Cavaco Silva é austero na sua contabilidade privada, também já todos sabíamos.
Que Cavaco Silva cultiva a sua imagem com óleo de alecrim e a candura de um inocente já todos suspeitávamos.
Que Cavaco Silva não queria perder o vencimento de Presidente da República, que queria acumulá-lo com as suas reformas e que só o perdeu porque a isso foi obrigado, já todos concluímos.
Que Cavaco Silva andou a apelar ao sacrifício de todos para salvar o país, todos pudemos constatar.
Que Cavaco Silva não censurou o recente regabofe de nomeações para a EDP nem os vencimentos escandalosos dos novos gestores da Águas de Portugal, todos nos escandalizámos.
Que Cavaco Slva se arvore em Provedor do Povo, todos achamos de uma hipocrisia intolerável face a todas estas circunstâncias.
Resta uma constatção: Cavaco Silva é o retrato do esbanjamento a que a classe política da democracia nos conduziu e ao qual suspeito que não seja possível pôr fim nesta nossa democracia.
Não porque a democracia, abstractamente considerada, não o permita mas porque estes nossos democratas parecem ter muito pouco de democratas. E o pior defeito da democracia é não conseguir fazer democratas mas sim que as pessoas o sejam antes de a exercerem.
Como foi possível chegarmos a este estado de coisas, com um país de tanga e cidadãos sem norte e sem valores?
Peçamos então um moedinha por Cavaco Silva, não para lhe pagar as despesas mas sim para acender uma velinha ao nosso santo preferido no sentido de que nos livre deste Presidente e de políticos assim.