Uma lágrima correu célere pela face lisa e perdeu-se no espaço, não sem antes deixar a marca da sua passagem na cara constrangida de dor e sofrimento.
Igual a ela, outras lágrimas se juntaram e deslizaram por idênticas faces e todas se perderam no espaço, um espaço silencioso, vazio, que cedo se encheu
de gritos lancinantes.
Longe, do outro lado deste espaço infinito, as lágrimas davam lugar a sorrisos e gritos de uma alegria inexplicável, doentia, mórbida.
A causa desta dualidade de acções tão opostas como paradoxais, provinham de uma chacina horrorosa, de um atentado sem precedentes, de um ataque mesmo no
seio de um orgulho desmedido.
Quanta raiva incontida, quanto ódio incomensurável, quanta brutalidade, misturada com um fanatismo exacerbado, com uma insensibilidade atroz, com
uma frieza que dá arrepios só de pensar nela!
Quanta vida ceifada sem razão alguma, sem culpa, sem motivo. Vidas com nome próprio, com nacionalidades diferentes, com famílias diversas, que acreditavam num futuro mais prolongado certamente!
O atentado contra o orgulho dos Estados Unidos da América, produziu com toda a certeza, os efeitos esperados pelos terroristas. Feriu profundamente não
só o orgulho americano como acabou por mostrar claramente que não há ninguém intocável. A ideia de que os EUA eram invioláveis e que o seu sistema de
segurança era o melhor do mundo, caiu por terra, juntamente com o seu orgulho. Pena foi que tivessem caído tantas vidas juntamente!
Estou convencido que se o ataque fosse realizado durante a noite, antes de as torres estarem quase cheias de trabalhadores, o efeito seria o mesmo e
não haveria a necessidade de se sacrificarem vidas inocentemente. As torres acabariam por cair igualmente e o orgulho americano ficaria ferido e a suposta invulnerabilidade não necessitaria de mais comprovativos.
O desmoronar das Twin Towers foi o desmoronar da superioridade americana face a um inimigo invisível e que não é fácil de encontrar. Podemos dizer que será árabe, ou não. Podemos aceitar ou não, que é Bin Laden. Podemos dizer que é capaz de ser japonês ou iraquiano. Seja quem for, para os EUA fica a certeza de que esta guerra não é fácil de ganhar, nem de empreender,
nem de dirigir. Não tendo um país por detrás deste atentado, torna-se difícil dirigir um ataque a coisa nenhuma. É necessário o maior dos cuidados nas tomadas de posição futuras.
Mas porquê esta violência? Torna-se cada vez mais claro que a actuação dos Estados Unidos no Médio Oriente, nomeadamente na resolução do conflito Israelo-Palestiniano, é a verdadeira causa, já que os árabes não perdoam a ajuda americana a Israel e o prolongar do conflito. Daí o surgimento da jhiad contra os americanos. Quantas vidas já foram igualmente ceifadas neste
conflito? E qual o resultado? Milhares de mortos, delimitações ténues de fronteiras, criação de um Estado frágil e sem acreditação mundial e a continuidade dos conflitos, tornando cada vez mais débil e longínqua a tão
ansiada paz.
Não vale a pena perdermo-nos em considerações sobre esta guerra interminável. Ela talvez seja a causa remota deste atentado, mas não é certamente a explicação para tamanhas atrocidades, só comparável com igual
barbárie que foram as bombas atómicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Iroxima e Nagasaqui. Embora não haja nada que possa justificar estas atitudes, sempre podemos dizer que os americanos limitaram-se então a
retaliar o ataque suicida a Pearl Harbour onde morreram 2.400 pessoas. Hoje, nada, mas mesmo nada, pode servir de justificação para tão grande mortandade!
A única coisa que podemos exigir, é que os culpados sejam apanhados e castigados pela justiça internacional, de modo a que isto sirva igualmente para que as potências mundiais se juntem em volta de causas comuns, cujo objectivo deve ser e será sempre a paz mundial.
Muitas lágrimas rolarão ainda por faces desconhecidas e perder-se-ão no espaço poeirento da destruição de um orgulho nacional. Muitos sorrisos, raiva e ódio incontidos se mostrarão de outras faces, onde talvez já tivessem também rolado lágrimas de dor e sofrimento. O paradoxo de atitudes similares, por causas semelhantes, com objectivos parecidos!
No meio de tudo isto, o homem, impávido e sereno, comandante de tropas universais, regulador do universo, controlador das estrelas, viajante intergaláctico, frio, insensível, onde as lágrimas não existem e os sorrisos
são somente a expressão de uma vitória esperada!
Uma lágrima... um sorriso!

Uma lágrima... um sorriso!
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