Ronald Reagan morreu, Margaret Thatcher também, e o mundo que ambos deixaram, não está assim lá muito bem. Vamos a ver até se sobrevirá muito para além deles, pelo menos nos moldes em que se afirmou nas últimas décadas perante tudo e todos de qualquer canto já descoberto, sendo que por descobrir muito mais não haverá.
O presidente dos Estados Unidos da América e a Primeira-ministra inglesa que Deus Nosso Senhor haja e que acima mencionei foram à sua maneira e para o bem e para o mal, dois dos políticos que mais influenciaram o século vinte da nossa era. Para sermos mais exactos, poderemos dizer que o americano influenciou somente porque lhe faltou estatura e carisma, mas inquestionavelmente a senhora britânica marcou a bem marcar.
Reagan, que antes fora actor mediano para não dizer medíocre de filmes de cobóis, sofria de dores de cabeça quando tinha se pensar muito, mas Thatcher era ladina e mais fina que raposa de pêlo grisalho. Tinha firmes convicções próprias, sabia para onde queria ir, e nada a fez desviar a rota. Botava para a frente e quem quisesse que viesse atrás. Tinha vontade de ferro, não dobrava a interesses, e sabia que a liderança das nações é para ser exercida por quem ocupa cargo para tal desiderato.
Se a autoridade advinha ou não pela via democrática já seria para ela outra conversa, mas o certo, é que quanto a si, cada coisa devia estar no seu lugar. A Política na Política, as Finanças nas Finanças, a Economia na Economia, e a Tropa na Tropa. Não foi como o grosso dos políticos de hoje em dia para quem os ventos da navegação nunca são favoráveis porque não sabem a que porto devem dirigir-se. Andam ao sabor das correntes, buscando essencialmente as melhores zonas de pesca para si e para mais os que os de próximo os rodeiam.
Por isso, concorde-se ou não com a senhora baronesa filha de merceeiro, nada custa tê-la como uma grande mulher, daquelas que de calças ou de sais, estão em vias de extinção. Não foi homem num contexto a eles destinado, mas esteve primeira entre os primeiros. Nesse aspecto, admirei-a enquanto foi viva, mesmo que nem sempre ou quase nunca tivesse sido por ela e por mais os caminhos que seguiu e nos fez seguir. Nesse aspecto, valia mais que tivesse estado quieta.
Sou-lhe crítico e a mais ao americano Ronald. Tenho para mim, que implementando as doutrinas do liberalismo económico puro e duro sem as devidas reservas e os necessários cuidados, foram os coveiros da liderança da civilização ocidental. Encavalitados no potencial das novas tecnologias que emergiram no seu tempo de liderança, deram o pontapé de saída no processo de livre circulação global de tudo o que é instrumento financeiro. Ajudaram a tornar o planeta muito mais pequeno. Isso foi e é bom, mas tornou-se crescentemente mau.
Sem regras, sem rei nem roque, o lucro ganancioso passou a ser o objectivo principal do capital que passou a visar exclusivamente o lucro pela lucro e a riqueza sem distribuição equilibrada, inteligente e justa. Foram atrás dos ditames dos gurus do ultraliberalismo económico, fizeram deles lei, e com os que se lhes seguiram por convicção e/ou por interesse, tornaram o nosso quotidiano muito pior. Basta olharmos em nosso redor.
Esqueceram-se eles e os outros, que para haver competição aberta e absolutamente alargada, se aconselha que exista igualdade nas circunstâncias.
A partir de si e de mais as suas políticas, a industria ocidental foi à cata da mão-de-obra quase escrava para os lados de onde o sol nasce para a manufacturação dos produtos que nós pelas bandas fomos adquirindo. Imperceptivelmente, graças à globalização e à falta de regras minimamente protectoras, a força que a detenção do poder financeiro sempre dá, antes apanágio do mundo ocidental, esfumou-se.
O eixo deslocou-se, e o nosso mundo tombou. Ainda não ruiu completamente, mas pouco lhe falta. Findamos a primeira década do seculo vinte e um, absolutamente entregues a quem tem intermináveis fluxos financeiros cuja nascente nos está territorial e civilizacional muito longínqua. Os que por ideologia cega ou por interesse próprio seguem o trilho destapado pelo senhor Reagan e pela Senhora Thatcher, afiançam que a única via é o nosso retrocesso. Empobrecer e semear a insegurança levando-nos para níveis semelhantes aos do tempo da revolução industrial de há cento e cinquenta anos, será para os doutos figurões a meta a atingir. Temos comido de mais, devemos voltar ao tempo de uma sardinha para quatro e do privilégio sentido por se ter emprego.
Nisto, a senhora Thatcher que recentemente saiu em funeral, não terá a culpa toda. Não lhe terão até faltado as boas intenções. Mas dessas está o inferno cheio. Que se não cruze com elas por ter ido dar a outros sítios. A ela e a mais o seu amigo da América mais não lhes posso desejar, mesmo que tendo para mim que foram dos primeiros na escavação do enorme buraco em que nos encontramos.