Um rio pode ser largo ou ser estreito, mas cabe no seu leito somente o que pode ser dirigido, orientado de modo a não colidir com outros objectos que porventura naveguem no mesmo espaço. No entanto, se uma simples canoa se encontrar à deriva, ela será arrastada pela corrente e será um perigo constante para os que no mesmo espaço, naveguem.
Saramago escreveu um livro onde Portugal aparecia inserido numa jangada de pedra que se deslocava pelo oceano Atlântico, cujo destino ou porto de abrigo, não se vislumbrava muito bem. Pois imaginemos agora que esse Portugal se transforma num rio. Um rio navegável, não muito largo, não muito comprido, mas repleto de canoas, barcos e outras embarcações afins com pessoas a bordo em busca de um porto seguro onde se abrigarem temporariamente, mas sem um timoneiro que os guiasse. Seria uma confusão tremenda.
Este Portugal à beira-mar plantado que foi porto de abrigo e porto seguro para tantas embarcações nacionais e estrangeiras, tem-se visto um pouco à deriva como se fosse, não uma jangada de pedra, mas uma nau descomandada, embora pertencendo a uma frota enorme, também ela descomandada. Neste contexto, Portugal não é mais do que uma canoa. Nau é a Alemanha!
No entanto, internamente, esta canoa, luta para encontrar uma liderança capaz de ler uma carta náutica, capaz de interpretar os mapas, de traçar os rumos que a levarão a um porto seguro. É difícil! Todos pretendem saber mais do que realmente sabem, sejam eles capitães, timoneiros ou simples marinheiros.
Nos últimos tempos todos criticámos ou simplesmente mencionámos o nosso parecer sobre a possibilidade de os presidentes de câmara com três mandatos poderiam ou não concorrer novamente a outra autarquia. Isto é verdade. Uns eram de opinião que podiam, outros que não. A lei, mal elaborada, permitia que se interpretasse ao sabor dos interesses de cada um. Um defeito dos portugueses! Tem que haver sempre uma maneira de dar a volta à lei! A lei é aprovada na Assembleia e se estiver mal elaborada ou suscitar dúvidas, deveria ser imediatamente corrigida. Mas não foi. Claro que isto permitiu-nos conceber opiniões diversas e criticar os que queriam continuar a concorrer a autarquias deste país onde nunca tinham exercido o poder autárquico. Chamados os tribunais a pronunciar-se sobre tais pretensões, fomos confrontados com resoluções tão contrárias como as nossas opiniões. Ou seja, sobre a mesma lei e as mesmas pretensões, uns diziam que eram possível, outros que a lei o não permitia. Como dirigir um barco destes?
A um passo das eleições autárquicas, era urgente saber quem poderia concorrer e onde. O tempo a esgotar-se e as decisões sem serem tomadas, levaria a que muitas autarquias não tivessem candidatos e as eleições não se pudessem realizar por falta de listas. Uma situação nunca imaginada, impensável e com consequências desastrosas, derivadas de uma lei que os representantes do povo português não souberam elaborar! Quem diria?!
Claro que restava, em última instância, a decisão do Tribunal Constitucional. O tal que deverá defender a Constituição Portuguesa! E foi a ele que todos recorreram.
Nem todos concordaram com a decisão que daí saiu, mas a grande maioria respirou de alívio, pois os candidatos que supostamente eram duvidosos na sua pretensão, foram avalisados pelo T.C.. Até o Presidente da República ficou bem mais aliviado já que também ele não tinha querido tomar a decisão final. Decisões!
Agora, já com rumo certo, é necessário que estes timoneiros saibam guiar as suas canoas até ao porto onde querem desembarcar. Durante muito tempo, andaram à deriva, procurando o comandante certo. Neste rio tão pequeno e onde tantas embarcações navegam, é preciso ter em conta o espaço por onde seguem para não haver colisões e afundamentos! E o melhor é não se aproximarem muito das margens. Sigam pelo centro e desviem-se dos que vêm em sentido contrário. Chega de andar à deriva!
Uma canoa à deriva

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