Manuel Igreja

Manuel Igreja

Um Brinde ao Sport Clube da Régua

Daqui a um ano, o Sport Clube da Régua vai fazer setenta anos. Pode não parecer assim muito, mas são sete décadas. Já terá tido melhores dias, mas também já teve piores, e ao que parece está aí para as curvas. No mínimo, vai aos cem, diria eu caso falássemos aqui de pessoa conhecida de ambas as partes, de mim que escrevo e de vossemecê que lê. Seja como for, falamos de algo que conhecemos e a quem reconhecemos todo o mérito, e isso é que importa para que se formulem desejos de longa vida.

O “Régua”, a brincar a brincar, é uma das mais antigas associações de um cidade ainda nova se atentarmos à escala do tempo nessa coisa dos anos de vida de uma terra, e sem sombra de dúvida alguma, é se não a mais representativa, pelo menos é uma das mais abrangentes e mais transversais. A par da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, é das associações cívicas mais amadas pelos reguenses de gema, entendendo-se estes não necessariamente pelo local de nascimento, mas antes pela forma sentida com que se vivem as coisas que sucedem neste espaço urbanizado e tocado pelo Douro.

Como comecei por dizer, tempos houve em que o clube ombreou com os da sua igualha em termos de dimensão, desportivamente falando, e foi de se lhe tirar o chapéu, mas também passou por dias em que quase se lhe apagou a chama, e pouco faltou para que se corresse o ferrolho nos velhos portões de ferro. Nessa altura, convém que se diga, davam estes acesso a um espaço físico que em nada nos dignificava a todos. Mas pronto, foi arranjada uma solução, deitou-se mãos à obra, e hoje está ali uma coisa que é um brinco.

Bem sei que alguém se mexerá na cadeira neste ponto do escrito, porque de imediato lhe ocorre que o assunto é mais lato, e é de pano para mangas caso se queira discuti-lo, mas isso são contas de outro rosário. Certo, é que se agiu e se evitou a vergonha de termos ali um verdadeiro campo das covinhas, que foi um recinto do meu tempo em que se jogava mais às canelas do que à bola.

Dizem os antigos que mais vale fazer do que estarrecer à espera que chova, por isso, vale sempre a pena, assim como valeu quando três ou quatro associados, tiveram a ousadia e o arreganho para avalizar um razoável empréstimo bancário para se saldaram as dívidas que à época eram assim daquelas próprias dos antigos ricos que habituados a viver à tripa forra se viram sem teres nem haveres. Ao Sport Clube da Régua ia sucedendo a mesma coisa, e só não aconteceu porque alguém em boa hora o amparou. Bem hajam, pois então.

Passou-se por isso o cabo das tormentas pelos lados do Campo Artur Vasques Osório, e não se esmorecendo, seguiu-se em frente. O clube foi desenvolvendo a sua actividade desportiva nos diversos escalões, tendo inclusivamente implementado a prática de modalidades novas, não parando mesmo quando por mor das obras se teve de andar com a casa às costas como caracol. Modernice à parte, mas respondendo às actuais solicitações e aproveitando os novos recursos, criou-se um sítio na internet, um site, como se costuma dizer, pelo que muitas coisas da vida passada e actual do clube se podem visualizar com um simples toque no teclado.

Não se consegue enxergar o futuro, porque esse a Deus pertence, mas tenho para mim que muito se veria se tal fosse humanamente possível. A fundamentar este meu crer, podemos por exemplo referir o modo como nos finais de Novembro foi festejado o sexagésimo novo aniversário do clube. Não estive lá em pessoa, mas sei por relatos, que não faltou animação nem esperança, juntamente com muita vontade de fazer acontecer. Deu-se prova de vitalidade, disseram-me. Só se necessita que o bom senso continue a imperar, de maneira a que se não embarque em folias e nem se persigam objectivos desajustados com o que se pode sustentar. De resto, é caminhar em frente com o pé firme que alicerça os bons resultados.

O Sport Clube da Régua é de todos. Dos que gostam e vão ao futebol, mas também dos que nem por isso vão à bola. Não importa. O que importa é que enquanto associação cívica, é da comunidade. Na nossa qualidade de elementos desta, só nos fica bem, erguer-lhe em saudação um cálice de vinho fino. Já agora, vai mais um à saúde de todas as outras. E à nossa, que também merecemos. Digo eu.


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