Todos nos congratulamos, julgo eu, com a liberdade alcançada num determinado momento, seja onde for. Especialmente nos casos onde ela foi conquistada a pulso e após longos anos de angústia assustadora. No entanto, ela vem sempre acompanhada de regras que são necessárias cumprir para que tudo se perceba e algumas delas podem até ser contrárias ao que nós denominamos de liberdade. É que na verdade, a liberdade começa e acaba onde começa e acaba a liberdade dos outros. Andamos lado a lado e algumas vezes entramos em colisão, naturalmente.
Isto leva-nos a equacionar os parâmetros da liberdade e a justificar as regras que a regem. Afinal a liberdade não é tão lata como pensamos nem é tão democrática como queríamos que fosse. Em conclusão, podemos dizer que não somos livres de fazer o que queremos, mas sim e somente, de fazer o que é permitido por lei. E é aqui que se insere a democracia e se percebe o que ela é, já que a liberdade é a verdadeira reguladora da democracia. E se a liberdade tem limites, o mesmo acontece à democracia, naturalmente.
Vem isto a propósito do empolgamento noticioso de que tem sido alvo o barco do aborto que agora se encontra ao largo da Figueira da Foz e proibido de atracar no território português. A posição do governo português e dos portugueses quanto ao aborto é bem clara, já que a mesma foi referendada e se encontra legislada. Tudo com clareza democrática e plena liberdade de votação. Nada a apontar. Funcionou a liberdade e a democracia.
Como país democrático que somos, aceitamos que qualquer outro país seja de opinião contrária quanto ao aborto e que tenha as suas leis de acordo com a sua política. E também aceitamos que haja pessoas que sejam contrárias à opinião expressa pela maioria dos portugueses. É justo. O que não se pode aceitar é que essas pessoas queiram interferir infringindo a legislação vigente, numa clara afronta aos governos, sejam quais forem.
A organização holandesa que comanda o barco clínica do aborto, não pode enfrentar os governos e os países por onde quer passar, numa clara afronta às leis em vigor e numa mostra de superioridade intelectual, transmitindo a sua ideia sobre o aborto e não admitindo que outros possam ter opinião diferente, num verdadeiro atentado à democracia e à liberdade de opinião. Isto é inadmissível! Nem sequer está em questão a opinião sobre o aborto. O que está em questão é enfrentar um governo, um país, num claro afrontamento político, derrubando as barreiras democráticas e a liberdade de cada um, questionando os governos e a sua autoridade perante meia dúzia de pessoas que se dizem pertencer a uma suposta organização que defende o aborto. Isto é verdadeiramente um atentado!
Claro que não questiono o facto de essa organização defender o que quer que seja. É livre de o fazer. O que eu questiono é o facto de isso não lhe dar o direito de colidir com a liberdade dos outros e tentar impor a sua vontade, contra a vontade de uma maioria e contra as leis existentes.
Portugal é um país democrático e de direito. Rege-se por leis aprovadas por uma assembleia democrática, que sustenta um governo democrático. Tem todo o direito de negar a entrada a uma organização estrangeira, que se passeia em barco e que tudo faz para ser ouvida, incluindo afrontar directamente os governos para que assim a sua voz vá mais longe.
Na verdade, ser a favor do aborto como defende esta organização, não é mais do ser uma organização assassina que, defendendo supostamente as raparigas e mulheres grávidas, seja qual for a situação, defendem o aborto puro e simples, sem qualquer explicação. A vida humana não tem preço, não interessa e por isso mesmo, elimina-se conforme der jeito. Francamente!
Se, em vez de se passearem de barco, tentando chamar a atenção para uma coisa sobre a qual todos têm uma opinião formada, gastassem esse dinheiro com as crianças deficientes ou em comida para as crianças que, em África sofrem uma fome atroz, seria muito melhor e todos contribuiríamos de bom grado. Certamente ninguém contestaria esse peditório! Mas enfim!...
Como o caso é deveras diferente, não será lógico que o governo português permita a entrada desse barco clínica que navega em defesa da morte prematura, afrontando leis e governos, com ameaças de tribunais, como se isso assustasse quem quer que fosse! O que me intriga é igualmente a posição de pessoas, supostamente inteligentes, como as que integram o Bloco de Esquerda ou o Partido Comunista! Claro que nem todos podemos gostar do amarelo, mas atirarmo-nos todos ao mesmo poço… Já sei que a liberdade assim permite, mas… e a inteligência?
Não adianta nada falar aqui do aborto e da posição que cada um possa ter. O que está em causa é a afronta descarada de uma suposta organização apoiada por duas instituições estrangeiras, aos governos e à legislação dos países, querendo fazer vingar a sua posição quando afinal, as pessoas já as manifestaram democraticamente! Assim, sem mais nem, menos.
Mas para quem não saiba, Portugal também é contra o aborto depois das doze semanas. Depois já é crime e nós não somos criminosos nem queremos fazer parte dessa espécie de gente!
Um barco no alto mar

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