Aqui há uns dias atrás, que é como quem diz, numa destas noites que acabaram de passar, veio-se-me à ideia o fazer deste texto por mor de duas telenovelas, uma portuguesa e outra brasileira, , e de duas músicas que nelas se ouvem.
A de produção lusa, é aquela à qual nós vamos estando mais ou menos atentos, mais não seja porque foi rodada como eles dizem, aqui no Douro, mais concretamente na zona de Poiares e da Régua, e a vinda do lado de lá do mar, é aquela que fala de uns italianos idos para o interior brasileiro, e que pela qualidade que ostenta, de resto como é hábito por aquelas bandas, bem merecer que a gente lhe deite pelo menos o olho de quando em vez.
Mas coisas à parte, o que me motivou para o abordar da questão, foram como disse, duas das músicas de fundo que passam em algumas cenas. Uma e outra, entram pelos nossos ouvidos, quando os cenários são de índole tradicional e onde supostamente se pretende dar brilho ao meio profundamente rural em que os autores nos pretendem mostrar.
Nada de mal até aqui, e pelo menos ao que me parece até é de aplaudir semelhante técnica, que de resto é tão velha como a própria arte de botar imagens encima de película. Só que, e daí o meu reparo, se na telenovela brasileira tudo se encaixava, a letra é bonita e a música harmoniosa e bem enquadrada, na telenovela portuguesa, a música não se encaixa, e está completamente desenquadrada da região retratada, ainda que uma e outra, região e música sejam absolutamente rurais.
A dita música de fundo que surge quando aparece a aldeia de Poiares, como sabemos integralmente duriense, é típica do folclore minhoto, e faz-nos de imediato imaginar cenas das romarias da região dos verdes prados, habitada por gentes cujo quotidiano em pouco se assemelha ao nosso.
Mas se calhar nada disto importa assim lá muito, pele menos no contexto de que falo. No entanto, semelhante caso pode ajudar-nos a pensar acerca de uma outra coisa, a qual tem a ver com o desconhecimento que existe acerca
de nós, e com o modo distante com que os senhores lá de Lisboa nos tratam.
Parece que para eles, tudo o que está para cima de Vila Franca de Xira é campo, e é tudo romanticamente igual e merecedor de tratamento sobranceiro e descuidado, como se a sabedoria das coisas tivesse escorrido toda lá para junto do Terreiro do Paço, ou do medonho Centro Comercial das Amoreiras.
Revelam pois grande ignorância os tais senhores, o que só lhes fica mal, e revelam ainda pior, a mais completa falta de profissionalismo.
A assim não ser, saberiam que para mostrarem imagens das pessoas e das paisagens do Douro, não poderiam colocar como seu suporte sonoro, o “ Hei-de ir ao Senhor da Pedra “ cantado com voz esganiçada de moçoila do Alto Minho, mas deveriam antes tocar na grafonola por exemplo o “ Fui ao Douro às Vindimas “ , cantado por um alegre rancho de raparigas de lenços na cabeça e rapazes de cestos vindimos às costas.
Não o sabem, isto e outras coisas mais acerca de tudo o que não é o seu pequeno mundo de luzes esmorecidas, porque não querem, e porque julgam que nem sequer vale a pena, como se o saber ocupasse lugar, e como se o povo para quem trabalham mais não fosse do que um ror de papalvos, que para adormecer mas não necessitam do que uma mão cheia de tretas mal contadas.
Tretas mal contadas

Tretas mal contadas
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