Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Torga, um transmontano que nunca transigiu

Ontem, 17 de janeiro, 19 anos após a sua morte, Sabrosa homenageou Torga com muita dignidade. Falou-se muito da sua obra e da sua vida. As suas obras mais emblemáticas (Bichos, Contos da Montanha, Novos Contos da Montanha, Diários, Vindima…) são verdadeiros hinos à cultura do povo, aos seus instintos de sobrevivência, retratando a dureza do mundo rural transmontano, o confronto do homem com as leis divinas e terrestres que o aprisionam.

Mas ficou sobretudo claro que estas celebrações têm de servir, não apenas para reforçar o conhecimento e o estudo da obra de Torga, mas também para enaltecer e enobrecer todo este território que lhe serviu de berço e de inspiração. Não pode permitir-se, por exemplo, que continuem a difundir-se, nos jornais, nos livros e na net, frases como: “nascido em São Martinho de Anta, aldeola perdida na província nordestina de Trás-os-Montes”. S. Martinho de Anta não é aldeola nem aldeia. É uma vila respeitável e não está perdida. Pelo contrário: é uma das mais bem localizadas de Trás-os-Montes.

Muitos jovens atenciosos, ávidos de memórias sobre o escritor, queriam saber tudo. O presidente da Junta de Freguesia de S. Martinho de Anta, José Luis Gonçalves, aproveitou para transmitir aos jovens a grande mensagem de Torga, recordando como a recebeu, ele próprio, em rapaz. Quando foi anunciado nos jornais que iria aos Açores receber um prémio, disse-lhe o Zé Luís: “Então mais um prémio, sr. doutor?”. E ele: “E sabes por que recebo este prémio, rapaz? Porque nunca transigi.”


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