Numa das suas habituais intervenções na televisão, Miguel Sousa Tavares naquele seu estilo peculiar, afirmou que em relação a Portugal e ao desenvolvimento que se não verifica, todos falhamos.
Dizia ele, que falharam os governos, falharam as Instituições públicas e privadas, e falhamos todo nós enquanto cidadãos de plenos direitos registados e plenos deveres nem sempre assumidos, cabendo-me a mim estes últimos considerandos.
A prova provada, como dizia o outro, da nossa ausência de desenvolvimento, está no estado a que isto chegou quase vinte anos depois da nossa adesão à Comunidade Europeia, e quase trinta depois da revolução que nos trouxe para o meio do mundo democrático. Isto se considerarmos o acto de colocar a cruzinha no boletim de voto como dado que baste para se viver em democracia.
O falhanço, começou a partir do momento em que por mingua de formação não conseguimos livrar-nos da mentalidade cinzenta que perdurou no país durante as quase cinco décadas que durou o Estado Novo. Tantos anos depois da morte do homem das botas de Santa Comba, e mesmo depois do rasgar de horizontes que o fim da ditadura permitiu, quase nada mudou nos nossos impulsos e anseios mais imediatos.
Continuamos de chapéu na mão a pedinchar as coisas a que temos direito, continuamos a bajular os que nos estão por cima, continuamos a invejar as galinhas do nosso vizinho, e continuamos a ostentar as poucas coisas que temos para que os outros se roam de inveja mediante o que alcançamos quantas vezes à custa de sabe-se lá o quê.
Por causa disso, não somos capazes de planear, não somo capazes de usar bem os recursos que temos, não somos capazes de discernir o que é essencial e o que é acessório, e só somos capazes de ser solidários, quando podemos temperar a nossa solidariedade com uma pitada de tragédia alheia sobra a qual vertemos incontidas lágrimas.
Nestes entretantos, admiramos países como a Irlanda e invejamos a Espanha. Um e outro eram nossos iguais em posses há vinte anos a esta parte, mas ambos fazem agora já parte de um outro mundo de maiores recursos e de melhor qualidade de vida num caminhar em que ficamos cada vez mais para trás, e se não adivinha reaproximação.
Vamo-nos iludindo com obras de encher o olho e esvaziar a barriga como os dez nos estádios da bola, ou como o comboio de alta velocidade agora prometido. Coisas absolutamente desajustadas num país em que faltam condições para a boa prática desportiva, e em que no grosso das linhas férreas ainda se viaja em carruagens de épocas idas e com percursos de outros tempos.
Do antigamente herdamos a pouca apetência pela cidadania, a estreiteza das linhas do horizonte, e um sentido cívico que se fica pelo quase nada. Não conseguimos livrar-nos do cinzento com que toldaram metade do nosso século vinte. Talvez por isso, o nosso século vinte e um se inicia do jeito que sabemos mas não desejamos.
Do que passou, já foi dito que todos falhamos. Espero que consigamos soprar a bruma, para que o nossos falhanço seja menor, e mais tarde os vindouros possam vencer.
Todos falhamos

Todos falhamos
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