Títulos, são uma coisa em que venha quem vier, os portugueses são imbatíveis, e por demais ciosos em mantê-los, tê-los, e mostrá-los.
Os que existem, são de todo o tipo e feitio, adaptam-se às mais variadas circunstâncias, alimentam as mais exacerbadas vaidades e como se de lapela no peito fossem, dão jeito a muito filho da mãe, como dizia o outro na cantiga.
Desde os licenciados que logo viram senhores doutores disto ou daquilo, que é como quem diz, da mula ruça, aos senhores condes ou viscondes daqui ou dali, à terra tal, capital daquilo, há de tudo e para todos os gostos.
Quanto aos primeiros, é ver a quantidade de cursos e mais cursos que por aí se inventam, que servem para tudo menos para alguma coisa, que não seja melhorar a imagem própria frente ao espelho. Vistas bem as coisas, muitos deles pouco acrescentam a não ser a abreviatura supostamente distintiva antes do nome no canto dos cheques.
Repara-se aqui que eu disse abusiva da abreviatura, porque como sabemos, doutor não é quem tirou somente licenciatura, doutor, é quem defendeu tese e queimou muita pestana a aprofundar conhecimentos em matérias e conteúdos de muito que se lhe diga.
Depois, temos o segundos, que se dizem os primeiros em tudo, os tais que por suposto indiciam condição de nascitura superior, sangue da cor do céu celeste, e postura cheia de altivez. Bem, no que a esses toca, ainda que pareça que caíram em desuso com a revolução de 1910, o certo é que por aí pululam em tudo o que é revista de vaidades ocas, e pasme-se, existem hoje mais títulos em vigor, do que à época da queda da monarquia.
Como, não sei nem porquê, mas garanto que não estou a inventar ou a brincar com estas coisas, ainda que pelo menos quanto a mim, até nem sejam assim tão serias, a não ser para os distinguidos, que por via do nascimento se ajuízam melhores que eu sei lá o quê.
Finalmente, temos então os títulos que as Terras, as vilas e as cidades, têm de mote próprio, e que com galhardia exibem. Eles vão desde por exemplo a Régua capital da Vinha e do Vinho, à Armamar capital da Maçã, à Bairrada capital do Leitão, à Paços de Ferreira capital do Móvel, à Gandra vila Universitária, e a mais um não findar de cidade ou vila disto ou daquilo.
Agora, a sério que não resisto a meter-me com a Gandra vila Universitária, que assim se afirma, se calhar por ter lá um qualquer Pólo Universitário de um curso assim tipo de croché ou algo do género, no meio daquela amalgama horrorosa de prédios e ruas de subúrbio recém construído.
Estes títulos, os últimos que aduzi, até poderiam ser uma boa ideia, caso não servissem somente ou pouco mais, do que para virem escritos no rodapé das cartas oficiais, ou para emoldurar os brasões das urbes respectivas. Realmente eles representam realidades sócio-económicas muito próprias dos que os ostentam, mas a pena é que pouco mais são do que um verbo de encher sem seguimento na sociedade, e sem uma complementaridade que seja capaz de os fazer corresponder ao que se diz e ao que se faz.
Muitos outro títulos se poderiam ainda referir, pois imaginação e presunção é o que mais nós temos, diz a história pelo menos desde as caravelas que em dada altura nos fizeram donos do mundo. Por agora fiquemo-nos por estes, que eu não quero que vossemecê senhor ou senhora leitora, me venha agora dar o título de chato, que a sério se o sou, é sem querer, ainda que às vezes seja de muito merecer.
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