Na época em que os romanos andavam por cá e mandavam no território que é hoje Portugal, houve um governador que mandando uma missiva para o imperador lá em Roma, lhe pediu que o retirasse daqui, porque não se entendia com os nativos, porque estes não se governavam e nem se deixavam governar. Não me recordo bem do nome do valente, mas também não vale a pena ir ali ver, pois isso é agora de somenos para o assunto que pretendo abordar.
Pode ter sido uma mera questão de desabafo, ou o arranjar de um pretexto para conseguir a guia de marcha de regresso ao lar, mas o certo é que o pedido ficou registado nos anais, afianço eu que já o vi referido em diversos locais diferentes. Seja como for, convenhamos que facilmente se acredita e se dá razão ao representante do César, quando nos quedamos a pensar um pouco no modo como as coisas se foram desenrolando pelo lado que nos toca.
Nem será necessário ir até ao tempo das Descobertas, nem imaginar o imbróglio que deve ter havido para se meter aquela gente naqueles barcos todos, mas podemos recuar até aos meados do século dezanove para nos apercebermos da confusão que foi quando se decidiu a construção das primeiras linhas do comboio quando uns achavam muito bem e outros muito mal. Mas não indo tão longe no tempo, e ficando-nos pelos dias que correm, podemos lembrar-nos da indecisão que chegou desde o Salazar até agora sobre a construção da Barragem de Alqueva, e podemos olhar para o que se vem passando com a construção do aeroporto e da linha do TGV.
Toda a nossa História nos diz que não há alteração estrutural que valha, sem que no nosso país logo se levante acesa discussão e se ouçam doutas opiniões a favor ou contra, num arrastar de situações que só não são muitas vezes cómicas porque são dramáticas e mexem com coisas muito serias. Todos ralham e berram dizendo da sua razão, uns e outros esgrimem argumentos floreados cientes da sua capacidade para salvar o mundo, e não se faz obra sem que derrape em prazos e em custos, mais que ferradura de burro em chão coberto de codo.
Quando alguma reforma ou alteração estrutural avança sem que assim seja, arrasta-se pelos anos em experiências infrutíferas e desinfelizes que só levam ao desmanchar do que havia sem que nasça o que é suposto nascer. Atente-se no que se vem passando no sector da Educação desde que floreou a democracia em Abril, e logo se concluirá onde quero chegar. Avançou-se com a coisa, andou-se aos trambolhões com aquilo que de mais sério existe, mas ainda hoje se não concordou com o que se fez, e nem se atina com o rumo que se deve seguir.
Outro sector de igual ou maior importância até, o da Saúde, vive igualmente desde há décadas a aguardar reenquadramento eficaz, mas está no ponto em que bem sabemos. Avançou-se recentemente com a reestruturação, mas atabalhoadamente e sem se garantir os pés em terreno firme. Fecha-se aqui e ali sem saber o que vai dar, e sem que se abra aquilo que deve ser aberto para se garantir a qualidade de serviço minimamente exigida. Não se teve em conta o contexto social tocado pelas alterações, colocou-se o Serviço Nacional de Saúde sob quatro rodas, nasceu a sensação de abandono nas mentes dos cidadãos que mais necessitam de cuidados, e granjeou-se por aí uma balbúrdia politica maior que recinto de feira popular em dia de festa do padroeiro.
Estivesse por cá ainda agora o tal romano, e por certo como se andasse num carrossel, logo ele gritaria: Tirem-se daqui que não sei andar nisto!.