Chrys Chrystello

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Sonhar ainda é gratuito

Crónica 176, sonhar ainda é gratuito 28 julho 2017

Ando farto de fazer zapping aos telejornais que se arrastam – não por horas, mas por dias a fio – sempre a esmifrarem a dor alheia, a tragédia, os fogos, as falhas disto e daquilo, as promessas eleitorais da próxima campanha autárquica e imaginei um mundo feito á minha medida.

Assim, enquanto as imagens desfilavam mortais eu imaginava um candidato autárquico a anunciar que decidira não se recandidatar pois não cumprira a maior parte das suas promessas eleitorais de há quatro anos.

Enquanto as chamas inflamavam o pequeno ecrã imaginei o governo, deputados, bombeiros, peritos florestais e demais interessados sentados em volta de uma larga mesa erguerem-se a celebrarem a vitória de terem chegado a acordo para as formas de evitar o flagelo dos incêndios que anualmente dilapidam o país há mais de 40 anos. Como não havia som não soube bem que medidas unanimemente acordadas eram essas que iam poupar milhões, apostando na prevenção em vez de os gastarem no combate às chamas.

Ao ver as recentes inundações que afetam pontos esparsos da Europa, imaginei que os órgãos dessa Europa desunida a que se chama EU, tinham unanimemente acordado em medidas ambientais para acabar com a manipulação da geoengenharia, causadoras de flash floods (enchentes repentinas), de granizo do tamanho de bolas de golfe, etc.

Ao assistir a crise humanitária das pragas de doenças que subitamente atacam um ou outro país, a mando das farmacêuticas a quem apenas interessa vender fármacos em vez de curar ou minorar a doença, descobri que uma companhia farmacêutica do Terceiro Mundo iria disponibilizar vacinas e tratamentos gratuitos contra as novas pragas que a humanidade propaga como se fossem naturais.

Só faltava mesmo apagar a dívida das nações para que pudessem crescer com os seus meios utilizando as riquezas naturais que os países dominantes exploram a seu bel-prazer competindo num mercado verdadeiramente livre sem manipulações especuladores da meia dúzia de bancos e de famílias que dominam a economia mundial.

Só faltava agora acreditar que a população mundial era toda educada e culta, sabendo votar sem ser lavada ao cérebro por políticos ambiciosos e que a novilingua da mentira e da falsa notícia fora exterminada, incapaz de medrar por entre gentes cultas e educadas. Mas isto já seria pedir muito e o mundo afinal nunca foi justo, nem educado, nunca deixou de discriminar, nunca deixou de explorar os mais fracos e indigentes intelectuais, através da política, da religião, do fanatismo, mas, se um dia, esse mundo existir é nele que quero viver num equilíbrio ecológico e ambiental em que a única incógnita seria a das forças naturais e seus eventos cataclísmicos, que nenhuma procissão aplacará… (sonhar ainda é gratuito!)


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