Contraditório ou talvez não. Tudo depende dos meios e dos objectivos, mas o silêncio não é decididamente a plataforma do protagonismo. Pelo menos não o
é de modo natural e fácil.
No entanto e porque não é fácil conviver com o silêncio na maior parte das vezes e situações, os portugueses têm vindo a suster a respiração e a gerir o pensamento, face ao silêncio do actual governo. Se uns falavam demais outros falam de menos! Na verdade, desde que o actual governo tomou posse que as decisões ou apenas comentários não saem da boca de ninguém. É talvez
uma estratégia ou pura e simplesmente bom senso. De facto, não estando ainda aprovado o programa de governo, não faz muito sentido pronunciar-se sobre
qualquer coisa com ele relacionado.
Mas se esse silêncio tem efectivamente alguma virtude, já o facto de ele existir e permitir o protagonismo a outros, não terá o mesmo peso virtual.
Todos sabemos que o governo se calou e se mantém calado desde que tomou posse.
E se não percebermos bem porquê, basta lembrar-nos o que disse Vitorino à comunicação social na noite em que o PS ganhou as eleições:
«Habituem-se!». De facto estamos a habituar-nos e ele nem sequer pertence ao governo!
Contudo não se pode dizer que a comunicação social ficou sem notícias da área governativa, já que em vez do governo, quem aparece agora em todos os
telejornais é o Presidente da República. Todo o protagonismo vai inteirinho para Jorge Sampaio e até parece que quem governa é de facto ele! A qualquer
pessoa menos sabida destas coisas da política, pode chegar a ideia de que é ele o primeiro-ministro, de tanto o ver na televisão em intensas intervenções de fundo.
Já há efectivamente quem pergunte onde anda o
governo?
Bom, enquanto temos o silêncio do governo, vamos tendo o protagonismo de Sampaio e ainda bem, pois ainda poderíamos cair na tentação de pensar que
estaríamos sem governo! Curioso barco este, que não tinha nem capitão nem comandante!
Mas não vale a pena esperarmos muito protagonismo por parte do governo ou até de Sampaio, já que a Quinta das Celebridades começou e é lá que estão, de
facto, as grandes figuras nacionais! A partir de agora só vai dar Quinta e mais Quinta. Para sabermos alguma coisa sobre os impostos, pensões, segurança
social, educação e economia, teremos de ler os jornais diários.
Não é aqui que vamos encontrar as pessoas mais célebres. Os mais criticados, talvez!
O povo português sabe escolher nos momentos próprios, as pessoas e as coisas de que necessita para se divertir e para se governar.
Já lá vai o tempo de que em Portugal só se falava de Futebol e Fado ou seja de Amália e de Eusébio. Não havia mais protagonistas nem pessoas suficientemente célebres.
Agora os tempos mudaram. Há muitas celebridades e os que pertencem ao governo não o são de facto. Estes são pessoas puramente simples e normais. Pelo menos a maior parte deles!
Teremos então a Quinta das Celebridades a concorrer com o governo, pelo menos em questões de protagonismo e o governo até vai agradecer esta coincidência, já que lhe permitirá manter o tal secretismo e até uma certa incógnita que o irá favorecer, sem dúvida alguma.
O caricato da questão é que muito embora o povo português não tenha escolhido as celebridades para a Quinta, aceita-as com a melhor das vontades e
terá de escolher os que vai deitando fora, semana após semana! Estranha maneira de votar! Se o povo pudesse votar desta forma nos membros do governo, o
que aconteceria?! É caso para pensar!