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A Semana Santa no Portugal profundo

Retrato de parafita
Alexandre Parafita

A Semana Santa no Portugal profundo

1 – As tradições da Semana Santa apresentam-se, um pouco por todo o país, preenchidas com rituais cristãos e pagãos, cuja origem se perde na lonjura dos tempos. Às vias sacras, endoenças e autos da paixão, juntam-se as queimas do judas, o enterro do bacalhau, a corrida dos rapazes aos sinos, entre outras.

2 – As tradições dos ovos e coelhos da Páscoa, importadas de outras culturas, são reminiscências pagãs, associadas ao culto da fertilidade, sem origens definidas, que tanto podem vir da Europa Oriental como da China.

3 – Em Portugal, sobretudo em Trás-os-Montes, a tradição gastronómica incide sobre a confecção dos folares. São particularmente famosos os de Vinhais e de Valpaços. Após o prolongado jejum da quaresma, os folares da Páscoa aparecem recheados das melhores carnes que, ao longo de semanas, estiveram arredadas das mesas dos camponeses.

4 – Quanto aos autos da paixão, as endoenças e as vias-sacras, traduzem cenários de luto, de reflexão dolorida, expressos dos tons roxos e negros das celebrações. Algumas aldeias ainda conservam as 14 cruzes, ou cruzeiros, que representam as 14 estações que a via-sacra cumpre simbolizando o calvário de Cristo a caminho da crucificação.

5 – Os autos da paixão, enquanto representações de teatro popular, que narram os últimos dias de Cristo, desde a traição até à morte e deposição na cruz, envolvem cerca de quarenta figuras humanas recrutadas no seio do povo, muitas delas pessoas idosas e iletradas, pelo que conservam na memória, durante décadas e décadas, os dizeres dos personagens que encarnam. Alguns dos seus papéis eram, outrora, desempenhados com tal emoção e realismo, que, no ato de agredir ou chicotear, as vítimas chegavam a sair em braços e ensanguentadas de verdade das respectivas cenas, havendo ainda casos em que os atores ganhavam, pela vida fora, as alcunhas dos papéis que representavam, como por exemplo, Cristo, Judas, Caifaz, Pilatos, Fariseu ou Diabo.

6 – No concelho de Vinhais, há a tradição das endoenças, um ritual carregado de emoção, especialmente quando narra a procura desesperada de Cristo por Nossa Senhora, ora seguindo pelas ruas o seu rasto de sangue, ora perguntando a uns e outros se alguém o viu.

7 – Por sua vez, a queima do Judas e o enterro do bacalhau representam impulsos eufóricos de catarse e libertação perante os constrangimentos quaresmais.

8 – No Sábado de Aleluia, à meia-noite, havia outrora a tradição de os rapazes correrem a tocar os sinos das igrejas, que quebravam o silêncio quaresmal. Até então, os toques dos sinos eram proibidos, sendo substituídos por pungentes matracas de madeira e arame, que emitiam sons ritmados, com as quais um mensageiro percorria as ruas apelando ao recolhimento, à reflexão e à oração.

9 – A retomada do toque dos sinos à meia-noite de sábado era disputada pelos rapazes, na crença de que o primeiro que tocasse o sino seria recompensado na descoberta dos ninhos das melhores aves, especialmente a perdiz, o que, noutros tempos, era algo muito cobiçado.

10 – Em Montalegre, mantém-se viva a Queima de Judas, no Sábado de Aleluia. A Câmara Municipal organiza um concurso para melhor mobilizar a população. Mas esta tradição é igualmente ativa noutros pontos do país: Palmela, Azeitão, Vila Nova de Cerveira, Matosinhos, Santa Comba Dão, Tondela, Viana do Castelo, Vila do Conde, Milheirós de Poiares, Tondela, Ponte do Lima, entre outros. Nela se representa o julgamento de Judas Iscariotes, por ter traído Cristo por trinta dinheiros. O povo, armado de tochas, aguilhadas e outros meios, aguarda os momentos da acusação e defesa, a leitura da sentença e, por fim, participa no castigo fatal investindo sobre um sinistro boneco que se incendeia ou explode. Este castigo simboliza a expiação dos pecados do mundo e o fogo tem um carácter simbólico de purificação.

11 – Em Vila Real, esta mesma tradição tem o nome de “Enterro do Bacalhau”, um ritual que responde a outros “enterros”, de sentido inverso, outrora frequentes na região transmontana (enterro do galo na quarta feira de cinzas, enterro do Entrudo…). A tradição do enterro do bacalhau é hoje especialmente praticada na localidade de Constantim, nos subúrbios de Vila Real. Noutros tempos, era toda a cidade a vibrar com o ritual. Um bacalhau enorme feito de cartão seguia escoltado por militares e era julgado perante carrascos, juízes e advogados, tendo, como testemunhas de defesa, os marçanos das mercearias e, de acusação, os empregados dos talhos. O castigo a incidir sobre o bacalhau simboliza a libertação dos constrangimentos da Quaresma, que não permitia o consumo de carne. A partir do Sábado da Aleluia, dia da celebração, já o povo deixa de estar limitado ao consumo de peixe e festeja assim o regresso da carne.

12 – Por fim o Domingo de Páscoa. Mantém-se em Portugal a tradição do Compasso, traduzida num cortejo presidido pelo pároco que visita as casas dos fiéis dando a cruz a beijar e aspergindo com água benta os compartimentos. A carência de sacerdotes tem levado a que muitas aldeias festejem no domingo seguinte a Pascoela, que será a derradeira oportunidade de verem o Compasso a entrar nas suas casas.

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