Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Sem os jovens, mata-se o futuro

Talvez por ser longo, desesperadamente longo, o período em que o país se viu dominado pelo calvário mediático dos incêndios, notícias houve que, podendo trazer alguma aragem de optimismo, quase se diluíram na vaga deprimente desta já quase assumida fatalidade que é o destino trágico de um país em chamas. Assim foi com Andreia, aluna de mestrado da UTAD. Condoeu-se de uma menina de 14 anos, sua familiar, portadora de doença neuromuscular degenerativa, sem qualquer tipo de mobilidade, incapaz de comunicar, e, com os saberes do seu curso (Eng.ª de Reabilitação), desenvolveu um sistema automático de reconhecimento das expressões faciais que lhe permite interagir com um computador e daí comunicar com o mundo. A universidade reconheceu o carácter inovador deste protótipo, pois, havendo já softwares que reconhecem expressões faciais de pessoas ditas normais, nenhum funciona em situações desta natureza, podendo ser adaptado, caso a caso, conforme as especificidades de cada um.

Pela mesma altura, duas jovens da mesma universidade (Helena e Susana), alunas de Psicologia, criaram um projeto inovador (“Dog Stress Device”), que visa prevenir tentativas de suicídio em pessoas com história clínica de elevada ideação suicida, e que passa, basicamente, pela aplicação de um dispositivo electrónico na coleira de um cão treinado, a coabitar com a pessoa em risco, o qual se assume como mediador na monitorização do comportamento do dono. Uma equipa de psicólogos, munida de um descodificador, poderá então agir nas situações críticas.

Apenas dois exemplos. Jovens que põem o seu saber ao serviço do outro. Gestos generosos de quem quer melhorar a sociedade e que sonha com uma oportunidade para o fazer. Sonho, afinal, de tantos jovens portugueses bem formados que, em troca, recebem o quê? Desemprego, estágios atrás de estágios, precaridade sobre precaridade. São jovens cheios de energia, bem preparados, inovadores, que se veem enxotados das oportunidades de trabalho efetivo como se de uma praga se tratasse. Não admira, pois, que o seu desejo seja procurarem o futuro longe do seu país, como o demonstra o recente estudo da rede Universia ao deixar claro que 78% dos alunos planeia emigrar.

Grande paradoxo este! O país pobre gasta o que tem (e o que não tem) na formação universitária destes jovens, e, no fim, são os países ricos que ficam com o proveito!

In JN, 17-9-2016


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