Passar para o conteúdo principal
Diário de Trás-os-Montes
Montes de Notícias
  • Início
  • Bragança
    • Alfândega da Fé
    • Bragança
    • Carrazeda de Ansiães
    • Freixo de Espada à Cinta
    • Macedo de Cavaleiros
    • Miranda do Douro
    • Mirandela
    • Mogadouro
    • Torre de Moncorvo
    • Vila Flor
    • Vimioso
    • Vinhais
  • Vila Real
    • Alijó
    • Boticas
    • Chaves
    • Mesão Frio
    • Mondim de Basto
    • Montalegre
    • Murça
    • Ribeira de Pena
    • Sabrosa
    • St.ª Marta Penaguião
    • Peso da Régua
    • Valpaços
    • Vila Pouca de Aguiar
    • Vila Real
  • Reportagens
  • Entrevistas
  • Fotogalerias
  • Vídeos
  • Opinião
  1. Início

Roubam-nos a Pátria!

Retrato de fernando
Fernando Campos Gouveia

Roubam-nos a Pátria!

“...
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei?

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d\'El Rei.”

(Jorge de Sena)

Somos decisivamente um povo de emigrantes. Dir-se-ia que a mais sintomática manifestação de vontade dos portugueses é o exílio voluntário, quando a terra é madrasta, as relações sociais desequilibradas e injustas ou o aparelho de poder asfixia as liberdades. Mais do que maiorias ocasionais nas urnas a períodos regulares, mais do que a adesão a ideários de partidos ou a organizações cívicas, mais do que manifestarem-se ruidosamente aos milhares nas ruas das nossas cidades ou permanecerem num silêncio soturno engolindo a raiva para dentro, largas franjas da nossa população emigram, numa atitude de desespero ou de inconformismo, raramente com planos bem urdidos para fundar uma nova vida, mas as mais das vezes emigram simplesmente ao deus-dará, confiantes em que uma réstea de sorte ou um esforço de abnegação lhes trará alguma perspectiva de vida, quando a terra já não tem nada para lhes oferecer.
Os fenómenos da emigração repetiram-se ciclicamente ao longo da nossa história. Há pouco mais de um século, as correntes migratórias para o Brasil provocaram a desertificação do nosso interior. Ao longo do século XX, outra parte importante da população emigrou para as colónias. A partir dos anos sessenta, foi a Europa saída da destruição da Segunda Guerra Mundial e empenhada na reconstrução que atraiu a grande maioria da nossa mão-de-obra, mesmo não qualificada.
Dir-se-ia que o instinto da emigração faz parte do nosso código genético, e muito boa gente, por boas e más razões, bem gostaria que o fenómeno fosse visto desta forma, como se um traço essencial do nosso carácter nos impelisse para a aventura, para o desconhecido, desejo inato de conhecer mundo e abanar imaginárias árvores de patacas. Infelizmente a realidade subjacente é bem menos romântica e bastante mais dura e sinistra. Na grande maioria dos casos emigra-se contra nós próprios, e os que fizeram a sua vida na emigração conhecem bem o sentimento de abandono, de solidão, de desprezos vários, e, mesmo quando emigraram voluntariamente, sintetizam na saudade um autêntico roubo da pátria, porque de roubo se trata quando quem governa o solo pátrio não tem a capacidade ou a vontade política pra os projectos mobilizadores, não é capaz de indicar o caminho com clareza de modo a fomentar a esperança ou, pior ainda, trai no poder as promessas enganadoras com que se legitimou.
A situação de Portugal como Nação é dramática. O Estado, endividado essencialmente para satisfazer vaidades pessoais ou interesses que se sentam como donos à mesa do orçamento, perdeu o crédito e hipotecou a soberania mendigando uma assistência externa que tem um preço elevado. A austeridade receitada pelos credores arruina o já débil tecido económico nacional e lança no desespero não apenas a juventude, a franja mais dinâmica da população, mas igualmente centenas de milhar de chefes de família, feridos no seu orçamento familiar, na sua dignidade e na imagem que projectam para os filhos e para sociedade.
Numa situação destas, que é excepcional, o país necessitaria de dirigentes excepcionais, abnegados, credíveis, acima das querelas partidárias e da linguagem burilada nos bancos do Parlamento ou do Governo. O sistema partidário, no entanto, não tem tais dirigentes para oferecer ao país, porque, por força das lutas internas e das vaidades dos líderes, não se escolhem necessariamente os melhores, mas os que satizfazem os interesses da vasta clientela que se alimenta do sistema e parasita o aparelho do Estado.
Saidos de uma governação que procurava manter-se através da propaganda, caímos numa governação tecnocrática, onde os principais expoentes não têm uma única ideia para além da cartilha que lhes foi dada de fora e da fé cega, quase fanática, nas receitas do ultra-liberalismo.
É neste contexto que fazem sentido alguns comportamentos e declarações dos nossos políticos, como a miséria cívica e política do discurso do Ministro da Economia, o discurso piedoso e de confessionário do nosso Cónego das Finanças e, acima de tudo, a audácia de algumas declarações do Primeiro Ministro.
A ideia de que as pensões deverão diminuir para metade no horizonte da maioria dos actuais activos não apenas carece de demonstração séria, mas é um factor em si mesmo desmobilizador, derrotista, de alguém que, em vez de arregaçar as mangas, aceita o fatalismo do empobrecimento e da miséria. Mas, pior que isso, a sugestão pública de que os portugueses procurem no exterior os meios da sua realização pessoal, emigrando para imaginários paraísos de desenvolvimento, lusófonos ou outros, não pode deixar de sentir-se como um empurrão para fora do país, como um despejo da sua própria casa.
Não basta o corte nos salários e pensões, a asfixia nos serviços públicos, a extorsão na prestação de serviços essenciais como os transportes e a energia, a injustiça de uma carga fiscal esmagadora e desigual, Passos Coelho vai mais longe do que qualquer outro governante antes dele: nega a pátria aos portugueses. Em vésperas de Natal, não se poderia imaginar maior calamidade política.
Boas Festas.

Partilhar
Facebook Twitter

+ Crónicas


A grande barrela!
Publicada em: 07/04/2019 - 17:39
Algumas reflexões sobre a eutanásia
Publicada em: 08/06/2018 - 02:21
Mercadores da morte
Publicada em: 08/12/2017 - 17:41
Catalunha
Publicada em: 08/10/2017 - 13:35
Património, impostos e desigualdade
Publicada em: 21/09/2016 - 14:05
Brexit: a Europa não morreu…mas
Publicada em: 01/07/2016 - 01:26
O Presidente
Publicada em: 25/01/2016 - 01:29
O direito (dever) de mudar de rumo
Publicada em: 05/12/2015 - 22:08
O que vale a palavra dos governantes?
Publicada em: 11/04/2015 - 00:55
Eu sou grego!
Publicada em: 25/01/2015 - 21:19
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
  • 6
  • 7
  • 8
  • 9
  • …
  • seguinte ›
  • última »

Opinião

Retrato de igreja
Manuel Igreja
O mundo da jovem Greta
09/12/2019
Retrato de luis
Luis Ferreira
Só coisas más acontecem
09/12/2019
Retrato de bj
Batista Jerónimo
Coesão territorial IV
06/12/2019
Retrato de chrys
Chrys Chrystello
Racismo a rodos
28/11/2019

+ Vistas (últimos 15 dias)

EDP vai vender barragens de Miranda do Douro, Picote e Bemposta
// Miranda do Douro
Quinta do Bill lançaram hoje a música “olhem os Caretos”
// Macedo de Cavaleiros
Souto de Moura prestigia Podence com a sua marca
// Macedo de Cavaleiros
Quinta do Bill criam hino aos Caretos de Podence
// Macedo de Cavaleiros
Equipa de investigadores do IPB vence mais um prémio
// Bragança

Publicidade Google

CRONISTAS

Retrato de Carmo
Ana Carmo
Retrato de Paulo
Paulo Fidalgo
Retrato de leon
José Leon Machado
Retrato de bj
Batista Jerónimo
Retrato de fernando
Fernando Campos Gouveia
Retrato de Moreira
Nuno Moreira
Retrato de bob
António Bob Santos
Retrato de Jorge Nunes
Jorge Nunes
Retrato de luisbastos
Luís Mota Bastos
Retrato de luis
Luis Ferreira
Retrato de Duarte
Duarte Mairos
Retrato de parafita
Alexandre Parafita
Para sugestões, informações ou recomendações: diario.tm@hotmail.com

Formulário de pesquisa

Diário de Trás-os-Montes

© Diario de Trás-os-Montes (Desde 1999)

Proibida qualquer cópia não previamente autorizada.



  • Ficha Técnica
  • Estatuto Editorial
  • Contactos
  • Login


Bragança

  • Alfândega da Fé
  • Bragança
  • Carrazeda de Ansiães
  • Freixo de Espada à Cinta
  • Macedo de Cavaleiros
  • Miranda do Douro
  • Mirandela
  • Mogadouro
  • Torre de Moncorvo
  • Vila Flor
  • Vimioso
  • Vinhais

Vila Real

  • Alijó
  • Boticas
  • Chaves
  • Mesão Frio
  • Mondim de Basto
  • Montalegre
  • Murça
  • Peso da Régua
  • Ribeira de Pena
  • Sabrosa
  • St.ª Marta Penaguião
  • Valpaços
  • Vila Pouca de Aguiar
  • Vila Real

Secções

  • Douro
  • Trás-os-Montes
  • Livros
  • Mirandês
  • Emigração
  • Diversos
© Diário de Trás-os-Montes