Pelos que se diz, o Presidente da República é ou pelo já foi escutado, o Primeiro-Ministro idem em aspas, e o Procurador Geral da República, disse recente e publicamente que suspeita que também o é. Enfim, mais parece que neste desconchavado país, não há titular de cargo importante que ainda não tenha as suas conversas telefónicas escutadas vá lá saber-se porquê, para quê, e a mando de quem.
Isto enquanto temos montes e mais montes de processos criminais inconclusivos, montanhas de casos que deram todo o brado quando levantaram fervura na comunicação social, mas que passados os ecos, logo caiem no role do esquecimento com a opinião publica a deleitar-se com novos mexericos entretanto badalados.
Mais parece que uns quaisquer senhores à falta de mais o que fazer, dotados dos meios e conhecedores das técnicas, se entretêm como comadres desocupadas a coscuvilhar as conversas alheias assumindo todo o ar de quem por essa via vai salvar o mundo, o prender todos os magarefes que pretendem fazer todo o mal a todos os portugueses e a todas as portuguesas.
Quem dá a ordem para que assim seja, até parece que ninguém sabe, o que se faz com as conversas gravadas é um mistério para a maioria dos cidadãos escutados ou não, e mesmo quando é suposto que os suportes informáticos ou magnéticos que as contêm estão guardados a sete chaves, logo o seu teor surge escarrapachado nas paginas dos jornais tenham estes um cariz mais sensacionalista, ou uma imagem mais circunspecta a atirar para o deontologicamente certo.
No reino que em muitas coisas está sem “rei nem roque”, caminha-se alegremente para o suicídio de valores que deveriam ser eternos e inquestionáveis. Falar confidencialmente seja com quem for, e pelos meios que se quiser, é algo de imprescindível numa sociedade plural, livre e democrática. Caso as policias ou o poder que regula a lei e a ordem entendam que certo titular ou determinado cidadão deve ser vigiado ao ponto de ser escutadas as suas conversas telefónicas, devem então fazê-lo comprimindo rigorosamente as regras e cingindo-se estritamente ao necessário, sem que exista sombra de duvida no acto e sem que corram grandes riscos de se escutar aquilo e quem se não deve.
Homens e mulheres de um país livre e integrado na civilização mais avançada de que há memória, obviamente a Europeia, não podemos permitir que nos façam regressar a um passado em que até as paredes tinham ouvidos. Há mais de três décadas que o sol expulsou o cinzento no quotidiano de Portugal, por isso não vamos agora deixar que se instalem as nuvens da suspeição por “dá cá aquela palha”, não vamos deixar que as vozes se transformem em murmúrios, e não vamos permitir que nada se respeite.
Se queremos viver num país evoluído e garantidamente firme em termos de justiça social e politica, temos de exigir que as averiguações se encaminhem e se concluam pelos meios
previstos, e não podemos permitir que à semelhança do que sucede para aí desde sempre, os processos averiguados e desencadeados morram nas gavetas cobertos de pó e sem efeito produzido, unicamente porque a dado momento se esbarrou com figurões que se supõem intocáveis e com interesses que de tão instalados mais parecem duradoiros e moralmente correctos.
O senhor Procurador Geral da República teme estar a ser ouvido quando fala ao telefone, e tenho para mim que todos por aí abaixo e por aí acima o temem de igual forma. Faça-se algo pois então por favor para que tudo seja esclarecido, e para que as abjectas fugas de informação virem algo do passado neste nosso país que mais apetece dizer não estar grande coisa no presente, e mais parece de futuro muito difícil.
Alguém me escuta?