2012, ao contrário dos anos transactos, não teve “estado de graça”. Nem sequer durante um mês, uma quinzena ou uma semana conseguimos acreditar que o novo ano traria nova esperança, nova tranquilidade, nova perspectiva da crise com que diariamente lidamos.
Bastava ter ligado a televisão, ouvido rádio ou lido as notícias on-line no dia da passagem de ano ou de ano novo para nos apercebermos que 2012 não seria um ano fácil, ou seja, para termos a dura realidade a abrir-nos os olhos: 2012 vai ser um ano nova e duramente marcado pela crise.
Mas eis que mesmo quando estamos preparados para dificuldades, uma parte do nosso país consegue ser Adamastor de si próprio. Vejamos o caso da Jerónimo Martins. Não se esquecem aqui as acções sociais a que o Eng.º Soares do Santos se dedica e a que dá corpo. Não coloco também obviamente o direito de cada qual fazer com o seu dinheiro e com os seus investimentos o que bem entender, mas discuto o esforço e dedicação que cada um de nós tem que fazer actualmente por Portugal, enquanto que, quem pode, procura soluções mais aprazíveis. E se os milhares de recibos verdes também o fizessem?...
Mas mais caricato ainda, qual Adamastor no Cabo das Tormentas, se tornou ouvir o Primeiro-Ministro de Portugal afirmar compreender os motivos que levaram o Eng. Soares dos Santos a tomar a decisão de passar a propriedade das empresas para a Holanda. Além de ser um discurso muito pouco apelativo e altamente castrador para o comum mortal que todos os dias lida com a carga fiscal portuguesa e com as dificuldades inerentes a estar inserido na economia portuguesa, é altamente contraproducente quando quaisquer declarações não ficam só pelo nível nacional, mas se transportam pela aldeia global.
Se não vejamos… Imaginemo-nos investidores que até ponderamos o risco de investir numa economia em risco como é actualmente a portuguesa… Ouvimos um grande empresário, natural desse mesmo país que deslocalizou recentemente as suas empresas, dizer que tem dúvidas que Portugal se aguente no euro e ouvimos também o dirigente do governo nacional a compreender os motivos dessa mesma mudança… Prevaleceria a vontade de ir em frente com o investimento?...
Isto já para não imaginarmos que, o que fez o grupo Jerónimo Martins, pode qualquer empresa fazer… E se assim fosse? Quantas horas conseguiria Portugal sobreviver sem a dura exclusão económica?
2012 será, todos o sabemos, um ano de aumentos e de cortes. Basta analisar estes primeiros 15 dias para nos depararmos com a difícil realidade. No entanto, parece começar-se agora a discutir com alguma seriedade a racionalização do Serviço Nacional de Saúde. Mas também aqui não podemos abandonar o nosso papel de intervenção enquanto cidadãos, sobretudo perante o panorama de envelhecimento da nossa região e do deserto em que nos estamos a tornar no que se refere a estruturas e serviços de saúde.
Racionalizar o serviço do Sistema Nacional de Saúde é certamente necessário, sob pena de não conseguir socorrer ninguém e perder qualidade e bons profissionais. Mas é também necessário que a dignidade humana não deixe de ser a prioridade no que concerne à organização do SNS, como aconteceria se os cuidados médicos passassem a ser decididos com base em critérios como o custo do tratamento ou a idade do paciente…
Resta-me desejar-vos a todos que 2012, apesar de tudo, consiga surpreender pela positiva e que, para todo o país, mas em particular para Trás-os-Montes, seja um ano de oportunidades.