Manuel Igreja

Manuel Igreja

Pobres e Mal-agradecidos

TIMOR. Vai em vinte anos, Portugal viu os olhos dos seus humedecerem-se por causa da causa timorense. Antigo e longínquo território seu ilegitimamente ocupado pela pérfida Indonésia com a cumplicidade de outros em que o conceito de bem é o do próprio umbigo, era para nós cá ao longe tido como terra de gente nossa tão sofrida como querida.

No dia doze de Novembro de mil novecentos e noventa e um, revolveram-se-nos as entranhas perante as imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz quando centenas de indefesos absolutos foram mortos pelos militares absolutamente opressores e cruéis. Logo ali, duma assentada, pereceram no tiroteio duzentos e setenta e um jovens.

Por isso, todo o mundo, ou quase, em geral se revoltou e se emocionou, e Portugal em particular chorou. De lés-a-lés, o canto à beira mar plantado, foi varrido por uma enorme onda de emoção e de solidariedade. O sofrido povo de Timor, era gente cá de casa. Qualquer malfeitoria que lhe fosse feita, e foram muitas e grandes, era malvadez perpetrada a um dos nossos. Mobilizaram-se então meios materiais e humanos para se ir em socorro dos timorenses. Passada que foi a tormenta por vitória da justiça sobre a opressão, tirou-se de cá, para ir para lá. Não faltaram cooperantes prontos a dar de si e a colocar ao dispor todo um vasto leque de saberes de forma a se dar estrutura a um país acabado de nascer como Nação independente. Os heróis de Timor, com Xanana Gusmão à cabeça de imediato passaram a ser igualmente nossos e venerados valentes. Nação sem os ter desde a era das caravelas, nada nos custou a veneração.

Devido a tudo isto e a mais alguma coisa, não me parece pois bem o comportamento de Timor, ou antes, das suas instituições do Poder perante Portugal nos últimos meses. Começaram os senhores agora improváveis heróis, por não nos ter em conta devida na triste cena da entrada da Guiné Equatorial para a CPLP – Comunidade de Países de Língua Oficial Portugueses, na qual os nossos maiores representantes foram tratados com desdém, como meros serviçais a quem não se passa cavaco, como se costuma dizer, e vieram agora sem pudor e sem pejo expulsar da sua terra um conjunto de portugueses que ali prestavam serviço de cooperação, sem que antes tivesse havido o mínimo cuidado no trato e na diplomacia.

Na minha maneira de ver, senti-me. Não sei se os factos em si próprios justificam ou não a atitude de os não querer dentro de portas. A gente sabe bem que nestas coisas, nem sempre o que parece é, ou o que é parece, por isso, abstenho-me de opinar quanto a isso. Agora, o que sei, é que jamais pode ser justificada e compreendida a atitude de se escorraçar, de se lhes dar um pontapé no dito cujo, se é que me faço entender, sem dizer “água vai”. Foi assim tipo vão-se daqui antes que seja tarde.

O senhor Xanana, outrora recebido na terra lusa quem nem um Papa, deu-se ao desplante de nem sequer atender o telefone ao nosso Primeiro-ministro e seu colega Pedro. Por falta de disponibilidade foi a desculpa esfarrapada e ofensiva. Quanto a mim, este é o ponto da questão. No mínimo temos o direito de enquanto país amigo com provas dadas, de sermos tratados com mais cuidado. Com mais consideração. Mas não. Eventualmente falta o chá a alguém em terra de muito petróleo.

TIMOR, por via de o ter, até pode vir a ser rico. Mas seja como for, agora, hoje, os seus dirigentes não passam de ser líderes pobres e mal-agradecidos. Mesmo que estejam pessoalmente milionários.


Partilhar:

+ Crónicas