Aqui há coisa de uns dias atrás, ao ver na televisão o serviço noticioso fiquei com a impressão de que se Portugal fosse assim como que um negócio, mais mês , menos mês, tinha de encerrar as portas, fazer o balanço, e entregar a chave ao senhorio.
Mais de metade do noticiário foi dedicado a reportagens feitas em fábricas que ou acabaram de falir declaradamente, ou pura e simplesmente ainda o não declararam, e deixaram de pagar os salários aos seus trabalhadores que, em desespero, os reclamam a patrões ausentes e por certo de carteiras bem cheias e de consciências ou pesadas ou ausentes.
Pelos nomes das fábricas aludidas, pude verificar tratar-se de fábricas de dimensões médias ou mesmo grandes, que ainda não há muitos anos, eram locais de trabalho absolutamente seguro, onde qualquer operário ansiava por certo puder trabalhar, pois não são ou eram de modo algum, unidades industriais artesanais com meia dúzia de empregados a laborarem lado a lado com os patrões.
Bem antes pelo contrário, fábricas como estas a que me refiro, e outras que todos os dias lhes seguem o caminho, eram há anos bem poucos atrás, a fina flor da industria nacional, onde pontificava a mais moderna tecnologia e onde os mercados estava em expansão e bem assegurados.
Agora, em efeito de dominó, parece ter-lhes dado algo de ruim nas fundações, e é vê-las a ruir como se não se aguentassem nas estruturas, e como se de um momento para o outro se lhes tivesse dado o bicho como sucede na maçã que tanto por aí temos e que ninguém quer.
Sem pretender entrar em profundas análises de economia, até porque sou de outro ramo, e para tal não me sinto autorizado, não posso deixar de achar estranho tal descalabro no nosso tecido fabril, e não posso deixar de me indignar com o modo como estão a decorrer certas coisas.
Primeiro, porque me parece que existe por aí muita falta de escrúpulos e muita safadeza por parte daqueles que ficando muito bem de vida, se não importam de declarar falência com toda a leviandade e devido a outros interesses, e deixam sem sustento e sem horizontes pessoas de média idade que deram metade da sua vida à fábrica em que trabalhavam.
Segundo, porque não consigo perceber uma coisa que cada vez se nota mais, e que nos mostra que em Portugal existem muito patrões bons para comprarem carros de luxo, beberem vinhos caros, e fumarem charuto, mas maus, muito maus para gerirem inteligentemente os seus negócios.
Para atestar isto, chamo para aqui o facto conhecido de ser Portugal o país da Europa onde são vendidos mais automóveis de gama alta, e onde nascem luxuosas vivendas ao jeito dos cogumelos, ao mesmo tempo em que os índices económicos andam pelas ruas da amargura.
Não quer dizer obviamente que isto tenha ligação directa com os tristes acontecimentos laborais que referi, mas que algo de estranho se passa na nossa economia, lá isso passa ! Quem tenha ido a Económicas em Coimbra, que o diga melhor que eu. Mas que é estranho, lá isso é!
De tudo isto, e de muito mais, resulta que estamos em mãos com um país onde campeia o descrédito de tudo perante todos, inclusive perante o Estado que nos governa, e que não devia nem fazer nem deixar fazer certas coisas.
Valha-nos ao menos que vai sendo um Estado democrático, onde a opinião vai podendo certa dita, e onde a esperança não pode morrer, mais não seja porque deve ela ser a última coisa a desfalecer.
Se esta se definhar, restar-nos- á irmos desenterrar o senhor Egas Moniz para mais uma vez o pobre coitado ir de corda no pescoço até junto de Espanha, para lhe e entregar-lhe a chave deste airoso espaço que ele ajudou a construir, e do qual apesar de tudo nós muito gostamos.
Para onde vamos?

Para onde vamos?
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