José Rodrigues dos Santos (JRS) exagera nas suas análises sobre Cristo e sobre Maria.
A quem custa saber que Cristo não era Cristão se o Cristianismo foi inventado pelos seguidores de Cristo e não por Cristo? A quem custa saber que Maria podia não ser virgem se ela é um mito necessário? E, para os crentes, o que é que altera se Maria era virgem ou não?
Levantar a questão da virgindade de Maria é a prova de uma certa ingenuidade bacoca por parte de JRS. Como podia explicar-se a divindade de Maria se não recorrendo, no tempo dos mitos, a um mito, a uma ideia sobrenatural, a uma Atena sempre pura, sabedora e bela? Tal como a sobrenaturalidade de Cristo como o enviado de Deus, à semelhança do Júpiter de Cronos da mitologia grega?
É mais importante saber como se constituiu a doutrina da Igreja, ao longo do tempo, do que saber quem foi Cristo ou Maria. Cristo e Maria são o que deles fez a posteridade. Em primeiro lugar, os dois líderes da libertação dos escravos e dos colonizados, no Império Romano. Depois, os símbolos da unidade do Império e da divindade do Imperador, já em fase de crise do mesmo Império. E, posteriormente, ao longo da Baixa Idade Média (476-1150), o elo de agremiação social das comunidades desorganizadas.
A história posterior é marcada por enormes desavenças na comunidade cristã e pela emergência de novos poderes temporais, que procuraram roubar o poder à Igreja. A esta acabou por ficar reservado, já na segunda metade do Século XX, o papel de consciência moral da humanidade, de força de associação comunitária e de entreajuda entre pessoas e comunidades.
É esse ideal de vida que faz a força do cristianismo. Ele deixou-nos esta herança de busca do infinito e de tolerância para com a irreverência, para com a asneira e para com a crítica fácil. Este cristianismo de agora já não é o da Inquisição ou o do Absolutismo ou, mesmo, o do pré-Concílio Vaticano II. É muito mais aberto, muito mais crítico e muito mais humano. Por isso, ganhou legitimidade democrática.
27/10/2011