No espaço de dois dias, cinco igrejas do pacato concelho de Bragança foram assaltadas, sendo que no último mês, por todo o distrito, foram 19 os assaltos a templos. Em todas as igrejas, os prejuízos materiais por devastação foram maiores do que as peças que os assaltantes roubaram, uma vez que as peças de maior valor já se encontravam em cofres bancários.
Nos últimos tempos, o nosso distrito tem conhecido episódios de crime localizado que têm como palco não só as cidades e vilas, mas também as aldeias que povoam o nosso nordeste transmontano. Numa altura de crise como a que estamos a viver, é infelizmente comum que a criminalidade aumente, mas tem particular relevância o facto de, de acordo com os números conhecidos no ano passado do Relatório Anual de Segurança Interna, terem sido os distritos do interior - nomeadamente Bragança, Évora, Santarém, Portalegre e Vila Real - os que revelaram uma mais significativa alteração do habitual clima de segurança, tendo sido os que registaram um maior aumento da criminalidade violenta, tipo de criminalidade que felizmente não se verificou nos recentes assaltos a igrejas.
Não esquecendo o contexto sócio-económico actual do nosso país, interessa perceber – sobretudo quem tem responsabilidades administrativas e governamentais - que a retirada de serviços públicos dos locais mais isolados do nosso país, além do tremendo impacto que tem na qualidade de vida dos cidadãos – tão cidadãos como quaisquer outros que vivam nas zonais mais urbanas do nosso Portugal – contribui também para o crescimento de fenómenos de criminalidade.
Dir-me-ão que não cabe à grande generalidade de serviços públicos qualquer missão ligada à segurança das populações e seus bens. É verdade. Mas não é menos verdade que zonas menos movimentadas e populacionais são alvos bem mais fáceis para actos ilícitos e que os serviços são um factor essencial para que haja mais movimento e pessoas em cada uma das localidades e para inclusivamente haver condições para que novas famílias e as famílias mais jovens locais se possam estabelecer condignamente.
Outra questão é o papel da PSP e da GNR e os contornos da remodelação mais profunda que parece estar eminente para estas forças. Se é indiscutível que temos necessidade de consciencializar gastos e que há alguns pontos em que é importante definir claramente as missões de cada uma destas forças de segurança e militarizada, é urgente que quando for feita a reorganização da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana que não se esqueçam as diferenças que existem ao longo do nosso Portugal e da importância que a GNR, a título de exemplo, tem para as nossas povoações do interior.
Pessoalmente, espero que a reorganização da PSP e da GNR não esqueça que é necessário poder para agir e autoridade – obviamente dentro dos limites legalmente impostos – para que a missão de segurança e defesa seja bem conseguida, estejamos a falar em zonas rurais ou urbanas.
No que diz respeito ao nosso distrito, é urgente que a política de proximidade às populações mais isoladas deixe de ser pontual, porque a segurança é um factor essencial para o dia-a-dia de qualquer cidadão de um país civilizado e não se podem esquecer os números que, por serem mais reduzidos devido à crescente desertificação do interior e que, por consequência, não são tão visíveis nas estatísticas, têm como vítimas pessoas.