Todos sabíamos já qual seria o resultado destas eleições para o Parlamento Europeu. Na verdade a abstenção continua a ter um score ganhador, para mal dos nossos pecados. Nossos, entenda-se, portugueses, pois o povo deste país à beira-mar plantado, continua a marimbar-se para a Europa onde o querem enfiar, um pouco à força, obrigando-o a viver de acordo com regras que não entende ou às quais não tem o devido acesso e explicação.
Deste modo, a abstenção ganha, mais uma vez, esta corrida ao Parlamento. Perante os resultados, o PS ganhou aqui em Portugal, seguido da Coligação, muito embora este ganhar seja uma realidade virtual, já que os dados estão viciados. De facto, se em cada cem portugueses, só votaram trinta e cinco e destes, dezasseis votaram no PS, é claro que o resultado espelhado é puramente virtual, mesmo que continuemos a dizer que quem ganhou foi efectivamente o PS. É facto que ganhou o PS, seja com que número fosse de votos. O que isto demonstra não é o que os partidos querem que demonstre. Isto nada tem a ver com critica ao governo ou cartões amarelos ou verdes. Isto nada tem a ver com o modo como o governo tem governado e, se tiver é numa percentagem muito pequena. O que isto tem a ver é que para os portugueses a Europa diz muito pouco e não se interessam grandemente com a política que se faz lá. Esta é que é a realidade, digam lá o que disserem os partidos políticos. Ninguém deixou de ir à praia para ir votar. Ninguém deixou de ir à sua aldeia visitar a família, para ir votar. As pessoas estão-se borrifando para o que se passa na Europa. Para os portugueses, os euros deputados são uns indivíduos que vão para o Parlamento Europeu ganhar uns balúrdios e não fazem grande coisa. E perante esta perspectiva, quem é que vai incomodar-se com votações europeias?
Assim, de nada servem as alegações que o PS faça em prol da sua vitória, pois igualmente as faz o Bloco de Esquerda ou as que fazem os partidos da coligação. Todos têm razões que justifiquem as suas asserções, mas nenhuma justifica certamente, o resultado directo e as intenções dos portugueses nesta atitude de abstenção. Simplesmente os portugueses não quiseram ir votar e mais nada. Sem interesse.
Os sessenta e cinco por cento dos portugueses que não apareceram a votar são de todos as variantes políticas e talvez até sejam a maioria dos partidos da coligação e se assim for, os resultados perante uma diminuição da abstenção, seriam outros com toda a certeza e outros cantariam vitória. Mas não. Os portugueses não pretenderam dar o seu voto a algo que não lhes dá valor. Ainda falta muito para a Europa dizer mais alguma coisa aos portugueses. Eles ainda não compreendem porque é que tiveram de deixar de produzir certos produtos, dos quais viveram a vida inteira, só para obedecer às determinações da Europa! É difícil! E não é só compreender, é igualmente necessário justificar o porquê.
Daí que extrapolar resultados sérios de vitória perante uma plataforma de votação desta natureza, é puramente aleatório e viciado. A realidade requer muito mais honestidade nas apreciações deste quadro. Não podemos brincar aos políticos, nem aos comentadores ou analistas experimentados. Não podemos brincar, simplesmente. Isto é demasiado sério. Muito mais sério num momento em que Portugal perde um deputado europeu devido ao crescimento do Parlamento Europeu com a entrada dos novos países. Isto é que ninguém disse! Isto é que ninguém frisou! Afinal nós estamos só a perder!
Mas se quisermos analisar os resultados europeus, afinal o mais legítimo, quem ganhou foi a direita e o Parlamento, mais uma vez mais, terá nesta família o seu espelho. Esta é que é a verdade europeia, a tal que justifica resultados, sejam eles de onde forem e de quem forem. Não se busquem justificações internas para o que deve ser e é externo aos países, pois o Parlamento Europeu é constituído por todos os deputados de todos os países membros. E quando lá estiverem, que saibam ao menos defender os interesses de Portugal e que não sejam, subservientes e submissos, quando aqui fazem tanto alarde das suas potencialidades. A humildade é uma qualidade grandiosa e nunca foi defeito. Que todos os defeitos fossem este!
Mas… ganhar seis mil contos… pode ser defeito, sim, para quem nada faz em prol do seu país e não vai pagar os votos dos que acreditaram em alguma coisa! Se calhar, o grande sonho dos portugueses era que a abstenção ao ganhar, fizesse acordar aqueles que, desprevenidos, ainda foram atrás de um outro objectivo, quiçá inimaginável mas, francamente pueril, que poderia trazer resultados mais imediatos aos que lutam por uma Europa Unida e forte, capaz de fazer vingar a sua vontade em momentos decisivos. Sonhar é fácil!