Aguarda-se por estes dias o conhecimento da personalidade que vai presidir aos destinos do IVDP, o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto durante os próximos anos. É muito natural até que quando estas linhas escritas chegarem aos meus caros leitores já se saiba quem nos coube em sorte para papel de tão elevado relevo na nossa vida regional.
Seja como for, neste momento da coisa, ainda não é pelo menos pública a novidade que esperamos. Outra região esta fosse, e não faltariam por aí expectativas e nem faltariam por aí genuínos interesses acerca de quem vem. Infelizmente contudo, e bem ao nosso jeito, semelhante assunto a poucos apoquenta, atarefados que andámos com as vindimas que já vão no lavar dos cestos. Fosse como fosse, estou em crer que pouca atenção haveria de merecer este cozinhado feito em lume brando lá para os lados de Lisboa. Por lá fazem e baptizam, e por cá, com maior ou menor gosto, engole-se como fatalidade a escolha doutamente concluída, que a nossa vida não é isso e as aperreações são mais que muitas. Encolhem-se os ombros, e bota-se para a frente que alguém há-de cuidar do que é preciso.
Lá se vão ouvindo pelos cantos e pelas mesas do café opiniões supostamente referidas como as mais sábias, lá se vão ouvindo nomes saídos em jeito de ultimas e fidedignas fontes, mas de resto ninguém quer verdadeiramente saber. Longe, nos aveludados corredores do poder sabem da nossa inércia, e pouco nos ligam. Escolhem se calhar tipo “pim-pam-pum”, ou respeitando critérios do insondável para o comum dos mortais, para depois solenemente se dar a imprescindível posse ao insigne nomeado.
Para mim nada a opor ao com toda a certeza ilustre nomeado até porque ainda não nem sei quem é, mesmo que desconfie. Não posso deixar de lamentar é por um lado a falta de auscultação pela parte que toca á região directamente interessada. Se ela existiu, peço desculpa que eu não sei tudo, mas quanto me foi dado saber, poucos ou nenhuns durienses foram tidos ou achados mais não que fosse em jeito de apalpar de pulso á forma de quem vê como param as modas. Mas pelo outro lado, e continuando a lamentar, se calhar por cá também poucos ou ninguém estariam interessados em dar esmola para semelhante santo. Assim, lá vamos indo cantando e rindo, pelo menos enquanto o quilo de uvas der para o naco de pão, nem que este seja de centeio e se coma rijo como xisto para não dizer outra coisa que seria de má-criação.
Volvendo ao escolhido que ainda não conhecemos, uma coisa no entanto me parece certa. Nas conversas tidas por aí, existe uma ideia que trespassa todas, e que merece ser tida em linha de conta, tanto por quem nomeia, como por quem é nomeado. Tem ela a ver com o facto de toda a gente desejar uma personalidade que venha por bem, e obviamente todas vêm, mas essencialmente que venha predisposta ao diálogo. A região está farta de questiúnculas entre as instituições e entre os agentes que nela interagem. Algumas arestas a limiar já são seculares, mas vai sendo tempo de se unirem os irmãos desavindos, mais não seja porque estes estão condenados a depender um do outro. Produção e Comercio vivem da mesma seiva, basta somente que a repartam com justiça e com inteligência. Ao Estado via IVDP cabe unir e orientar quando tal se justifique.
Por isso, com maior ou menor expectativa, no Douro Vinhateiro está-se não á espera do salvador surgido do nevoeiro, mas de alguém que tenha a noção nítida daquilo que o espera. Que seja bem-vindo, e que venha preparado, para a difícil e ingrata missão que o aguarda. Ajude-o Deus Nosso Senhor que eu não posso.