A Dona Fátima, possivelmente doutora, não sei, pois julgo que todos o são, muito mais ela que é brasileira afinal, era uma respeitável autarca e o “ ai – Jesus “ do seu partido no que concerne a edis sempre prontos a ganhar eleições.
Com ar ladino, e mais fina que um alho, foi ao longo dos anos ganhando influências e arrecadando votos, a troco de uma fonte aqui, outra ali, uma rotunda acolá, uns trocos bem grossos para o glorioso lá da terra, e uns beijos nesta, e um aperto de mão naquele em dias de mercado.
Tudo corria de feição nas seus domínios tipo feudo, ali nas terras de Entre Douro e Minho, até que, injustiça das injustiças, clamou-se, alguém se lembrou de descobrir que havia mais que muitas irregularidades no exercício da sua função, e que razões para lhe apontar o dedo seriam para cima de duas mãos cheias.
Chegados que fomos ao tempo das eleições autárquicas, as tais em que ela ganhava quase sem sair da cama, como se costuma dizer, e apesar de tudo, os impolutos prègadores da moral e altos responsáveis do seu partido, houveram por bem assobiar para o ar, e fazendo de conta que nada se passava, não hesitaram em apresentá-la de novo a sufrágio, do qual ela se sagrou vencedora.
Mas os meses foram correndo, e as coisas foram ficando negras para o lado da senhora dona Fátima, sua excelência senhora doutora, até há pouco, verdadeira abelha mestra naquela colmeia onde ao que parece nem tudo decorreria como mandam as regras que se impõem em todo o canto que se diga evoluído e com esclarecimento que baste para que a democracia medre.
Em face do caldo que se ia entornar, vá lá saber-se como, quando a nossa eficiente justiça deu por isso, e quando lhe ia a deitar a mão, já a senhora estava muito longe
gozando as delicias das praias por onde andou Cabral em mil e quinhentos da nossa era.
Daqui só pode resultar que ou alguém soprou inconfidências aos seus honrados ouvidos, ou então tem ela dons de adivinhação, o que a ser verdade, muito jeito lhe farão naquelas bandas, onde por dá cá aquela palha se consulta pai de santo e especialista em ligações privilegiadas com o Além.
Durante breves momentos parecia que iam cair o Carmo e a Trindade, que bem razões havia para isso, mas inexplicavelmente, ou talvez não, não mais se sentiram que umas leves brisas, de um lado ao outro do espectro político. Cada um com o seus rabos de palha que podem arder, todos os partidos se limitaram a tossir fingindo incómodo.
A tempestade que se impunha, essa mas de sinal contrário, sucedeu na terra onde a senhora exerceu os seus mandatos. Pelo menos ao que parece, a grande maioria dos seus patrícios acha muito bem que ela tenha fugido á justiça, que até se tenha abotoado a bom abotoar como dizem que se abotoou, pois nada disso conta em face
do balde alcatrão derramado encima do chão por onde circulam os belos automóveis de todos os contentamento.
Por todo o país, de resto, o pensar não é muito diferente, tenho para mim. Uma nação que já bateu alegremente no fundo, que já perdeu a capacidade de se indignar e de aquilatar o que está certo ou está errado, a dona Fátima é só mais uma pessoa mais fina que muitas outras, as quais perante ela somente sentem inveja de não poder fazer o mesmo que ela fez, ou dizem que fez, pois todos somos inocentes até prova em contrário.
Aliás a inocência da senhora presidente de Câmara que deu “ ás de Vila Diogo “, nem é sequer o que está a ser discutido, ou é colocado em causa. Infelizmente, e para agravar a radiografia social deste nosso pobre país, a questão já nem aí se coloca. Em vez da sua inocência ou da sua culpa, os que a defendem, e são muitos, trovam semelhantes coisas pela eficiência suposta, ou não, da sua actuação à frente dos destinos do seu concelho.
É a verdadeira defesa do vale tudo, e dos fins a justificar os meios. É a mais completa falta das noções cívicas de verdadeiro fundamento, e a mais completa ausência da noção do que é certo ou é errado. É enfim, o terceiro-mundismo no seu estado mais puro, e o irreversível afastamento da Europa dos países civilizados e de cidadanias plenas.
O caso da dona Fátima, é grave por tudo o que aparenta, mas é mais grave ainda, por aquilo que representa, e que é nada mais nada menos do que um país onde parece que está tudo grosso ou coisa que o valha.
O caso da Dona Fátima

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