Não, Naide. Não tens de pedir desculpa

Obrigado, Naide. Aceita um abraço, nesta hora difícil para ti.
Mais difícil para ti do que para qualquer um dos que reivindicavam uma medalha através de ti.
Bem mais difícil para ti do que para todos aqueles que, não conhecendo as contingências do desporto, não imaginam sequer que isto pode acontecer aos melhores. Quantos, no futebol, sendo idolatrados muito mais que tu, não falham penatis e penaltis, golos e golos!
Perdoa, Naide, a esta pátria doente que não te sabe merecer. A esta pátria indecorosa que não te ajuda, que não te saber dar condições nem apoio psicológico mas que coloca a imprensa toda atrás de ti, a criar uma pressão psicológica insuportável e uma ansiedade que faz bater o coração mais depressa antes da corrida que depois dela.
Eles não sabem, Naide. Eles nem imaginam, Naide, o que é preciso sofrer para se ser campeão, como tu. Só aqueles que já competiram, que já experimentaram o sofrimento das derrotas sem perceber porquê te saberão compreender.
Aos outros, perdoa-lhes tu, eles não sabem o que dizem porque eles não sabem nada de desporto, nada da ansiedade, nada do mundo a desabar sobre nós.
Não te conheço pessoalmente, Naide. Não és da minha geração. Mas gostaria de estar junto de ti para te dar um abraço e poder dizer-te que tu és uma das maiores na tua especialidade e que esta pátria que tão mal trata os seus atletas e tão poucas condições lhes dá, não te merece.
Por isso, perdoa-lhes, não sabem o que dizem. Esta pátria parece uma pátria de incultos, de doentes psicológicos, que não têm o sentido das realidades, que pensam que um país pequenino e pobre como o nosso pode construir campeões ao virar da esquina. Tão depressa sobem à exaltação como caem na frustração.
Desta vez foste tu a mártir. Não te deixes abater. Os campeões estão todos contigo.
19/08/08
Henrique Ferreira