É um verdadeiro chover no molhado, alguém escrever ou dizer que a região do Douro sofre de abandono e de desconhecimento acerca dos seus reais anseios e problemas por parte de quem dentro e fora dela manda. Então nos últimos anos, à medida que a celebram e a visitam para usufruto das coisas muito boas que ela proporciona, mais a esquecem passados que são os seus limites territoriais. Dá-se-lhes uma branca no miolo, diriam os de antigamente.
A título de exemplo, um só, mesmo que outros existam para amostra, trago a terreiro o problema dos trabalhadores da Casa do Douro a quem neste tempo de Natal, por certo bem amargas vão saber as rabanadas, pois não estou a ver que a quem não tenha sido pago o salário durante todo um ano, tenha assim grande disposição material e moral para receber com agrado o Pai Natal. Cada qual saberá de si, mas a lógica das coisas assim o diz como facilmente se entende, mesmo que aqui neste caso se refira algo sem ponta dela e muito menos de justiça.
Se não, que dizer de uma situação em que uma instituição em tudo comparada a pública pelos seus estatutos e pelos seus serviços, que não paga os ordenados a parte dos seus colaboradores, ao mesmo tempo que a outra parte deles os recebe por estar a cargo nesse contexto do ministério da Agricultura? Para o bem e para o mal, a Casa do Douro foi ao longo de mais de seis décadas o braço armado do poder central na região do Douro, fazendo-lhe fretes muitas vezes mais a jeito dele do que da Lavoura propriamente dita, por isso, não merecia ter sido descartada conforme foi e é.
O seus trabalhadores, então, muito menos. Não cometeram crime que justifique tamanho castigo, a não ser calhar o de não terem sabido a devido tempo fazer valer os seus direitos e a força da sua razão, mais não fosse através da razão da força. Nada justifica que sejam vítimas de estratégias insondáveis que visam a politica da terra queimada em relação a uma instituição que já foi forte entre os fortes mesmo a nível nacional, mas que teve o azar de poder ser obstáculo a muitos interesses instalados e a instalar.
Terá andado mal em muitas coisas, e deu largamente as costas para levar com o pau, pôs-se a jeito, mas os que a servem como forma do seu sustento e de mais as suas famílias, não têm culpa. Estão pois a ser acima de tudo sofredores de uma enorme injustiça. Obviamente que ao não ter disponibilidade de tesouraria para lhes pagar o seu empregador não pode cumprir com as suas obrigações, mas aqui não se trata de um problema similar ao de infelizmente tantos outros por esse país afora. Não há um qualquer patrão que faliu porque quis ou porque não soube gerir. Estamos perante uma situação em que os poderes públicos com responsabilidades directas no assunto, assobiam para o lado e seguem adiante. Ao longo de quase vinte anos, torneou-se o problema da Casa do Douro, andou-se em círculo, prometeu-se amiudadamente a luz ao fundo do túnel mas permitiu-se que o breu se instalasse. Mais uma vez, o mar bateu na rocha e quem se lixou foi o mexilhão.
Chegamos então a este Natal a uma situação inconcebível, injusta, e de abandono por parte de todos, Quase ninguém a não ser os directamente envolvidos falam do que se passa. Nem os meios de Comunicação Social, mormente as televisões sempre tão lestas a noticiar este tipo de factos, lhe dão a devida cobertura. Primam pela ausência. Não lhes interessa a coisa, porque a coisa, julgam eles, a poucos importará. È o que valemos cá no Douro vinhateiro, pois isto anda tudo ligado como dizia o outro.
Eis pois então como sendo o Natal quando um Homem quer, para os trabalhadores da Casa do Douro este ano não vai haver consoada. Quando muito, haverá animais no presépio.