Nada de novo a ocidente

Muitas vezes a realidade coincide com a previsibilidade das coisas e quando damos por isso nada mais nos resta do que congratularmo-nos por ter acertado.
A comunicação social tem por hábito fazer muitas previsões a respeito de qualquer banalidade o que, de algum modo, vem habituando os portugueses a esse
trabalho de raciocínio premeditado. Não é a melhor forma de fazer as coisas, segundo penso. De uma forma ou de outra, isso conduz a uma certa influência que
pode ser errónea, completamente desajustada da realidade. No entanto nada disso aconteceu com estas eleições autárquicas.
As previsões, pelo menos as mais honestas, saíram acertadas. Não sei se se pode dizer o mesmo no que respeita ao partido socialista. Possivelmente estaria
a contar com outros resultados! Possivelmente deveria contar com outros resultados! Mas não foi isso que aconteceu.
A realidade é que o partido socialista teve o pior resultado autárquico de sempre. A que se deve este resultado? Será uma consequência da sua
governação? Há quem diga que não se devem tirar ilações nacionais de eleições autárquicas, mas o certo é que o povo sabe penalizar quem governa mal ou não lhe dá a segurança que merece. E eu acredito que, de algum modo, foi isso que aconteceu. O povo português está farto desta situação de insegurança, desta economia desgastada, da subida dos impostos, da subida do
custo de vida, do desemprego galopante, da incerteza do futuro. Claro que tudo isto se veio a reflectir nestes resultados, digam o que disserem.
Curiosamente, todos os outros partidos ganharam! Pelo menos todos reclamaram a sua quota-parte da vitória global. Até acredito que sim, mas só no global,
claro. Sempre é melhor falar do global, pois assim sempre se escondem os desaires locais. É o caso de Lisboa, que só não é possível esconder porque
é a capital e Carrilho é uma figura nacional. Aqui sim, o PS deveria ter ganho as eleições para ter um pouco mais de credibilidade. Não jogou a carta certa e Carrilho era decididamente uma carta fora do baralho!
O PSD foi efectivamente o grande vencedor desta corrida autárquica. Conseguiu mais Câmaras do que as que já tinha. Claro está que neste jogo, perdem-se
algumas câmaras e ganham-se outras. Há uma troca quase natural, como em Faro ou mesmo em Freixo. É a democracia! Contudo é um jogo difícil. Apostam-se
pessoas, jogam-se lugares e cargos, diz-se o que se não deve e promete-se o que não se pode cumprir.
Já se sabe que nem sempre os partidos comandam estas eleições. Às vezes há surpresas. O povo muitas vezes vota mais na pessoa do que no partido. E tivemos
alguns casos a comprová-lo: Felgueiras, Oeiras e Gondomar. E ainda há surpresas como a de Amarante! Só não entendo é como ainda há quem acredite
em certas pessoas, mas enfim! A democracia tem destas coisas! Também sabemos que até prova em contrário, todos são inocentes, muito embora hajam
indícios de jogos sujos e manobras esquisitas. Há que provar tudo isso, claro! E se a prova vier culpar estas pessoas? O que dirá depois o povo que os
elegeu? Pois é, errar é humano, não é?!
Quanto ao nosso canto nordestino, parece só ter havido uma pequena alteração:
o PS ganhou a câmara de Freixo ao PSD. De resto as previsões saíram certas e não foi preciso lê-las na comunicação social. Só em dois concelhos as
eleições foram mais renhidas: Vinhais e Mirandela, mas sem alterações de monta. Ainda não foi desta que o CDS/PP conseguiu ganhar Mirandela!
De realçar é a grande percentagem com que o PSD ganhou a Câmara de Vimioso, relegando o PS para uma posição bastante incómoda, especialmente depois de a
ter conservado mais de doze anos. É a síndroma do regresso! O mesmo que aponta a Soares 25% nas presidenciais! Curiosamente, em Faro resultou, mas o candidato que voltou a ganhar a câmara depois de a ter perdido para Vitorino, tem trinta e poucos anos! Boa diferença!
Parece pois que tudo se mantém. Se calhar há coisas que mudaram para pior, mas isso é outra história! De resto, nada de novo a ocidente!