Se num dia que há-de vir, alguém quiser exemplificar aquilo que o poder central não deve fazer a uma determinada região, bem pode agarrar no modo como os senhores lá da capital têm lidado com a região do Douro, praticamente desde o tempo do senhor marquês de Pombal, que não seria grande peça na opinião de alguns, mas perante o qual nós nos devermos vergar.
Basta vermos a estradas em que circulamos e que são já do seu tempo, às promessas não cumpridas no que toca aos problemas da Casa do Douro, e a outras coisas que não vale a pena referir, para logo concluirmos que quem manda no país, do Douro só sabe que é nome de rio, e do Douro, só quer, se tiver esse bom gosto, apreciar os seus deliciosos vinhos.
Ainda agora, com o Museu do Douro, está a passar-se algo de bradar aos céus, e algo capaz de fazer remexer os fígados de um cristão, por mais pacato que ele seseja, pois que eu saiba qualquer um se revolta perante a falta de palavra dada, e perante coisas que se dizem e se não fazem.
Criado que foi o Museu do Douro, há já uma mão cheia de anos por unanimidade no Parlamento, bem se pode dizer que esse foi o único gesto político digno de registo no que a ele respeita. Mas note-se que ainda mal ele era nascido, ainda nem forma tinha, e já os senhores do Porto, que nos vêem como mera colónia, o tentaram puxar para lá, como se o Douro a quem a “ metrópole “ tanto deve, não fosse merecedora de albergar um Museu que testemunhe a grandiosa e penosa obra a que deu forma.
Depois, foi um não acabar de palavreados ocos e intenções vãs, aquilo que dos vários governos restou e resta acerca do Museu do Douro. Valeu-lhe a dedicação e o bem saber fazer de uma equipa que contra ventos e marés, o tornou uma realidade bem visível, e uma obra a que se não pode travar de todo o andamento, e se não podia negar a existência.
Como tal se não pôde, optaram então os governantes deste país desigual, manter o assunto em banho-maria, enquanto iam debitando discursos para adormecer, como se estivessem e estejam a tratar com gente lerda e que não merece mais do que as poucas sobras dos banquetes dos outros.
Mas como se não pode enganar toda a gente durante o tempo todo, chegamos a um ponto em que há que decidir e pôr preto no branco o que se pretende fazer com o Museu do Douro, por parte do governo da república. Aqui a porca torceu o rabo, como se diz por estes lados, e como para os governantes o Douro só serve para dar ao país um dos seus mais valioso produtos de exportação, parece que lhes está a custar meter a mão na carteira que é de todos nós, e colocar encima da mesa o dinheiro que compete ao governo da nação para que de uma vez por todas a Fundação do Museu do Douro passe do papel à prática.
Palavra que não entendo as desculpas de mau pagador, pois ainda em Dezembro do ano passado, perante outro ministro e quatro secretários de Estado, aqui na Régua, ouvi com estes ouvidos que a terra há-de comer, Pedro Roseta, ministra da Cultura, afirmar que a compra da Casa da Companhia Velha para a Sede d o Museu, era uma questão de semanas.
Chegados que somos no entanto a esta altura do ano, não só a compra se não realizou, como há más notícias para o Museu por parte do governo , que acha bem que exista um Museu do Douro, mas põe o rabo de fora, e não quer assumir a sua parte na função.
Não tenho o ministro como mentiroso, e até é alguém de respeito e simpatia. Mas alguém lhe devia dizer por um lado, que o prometido é devido, e por outro, que se calhar não é nem nunca foi ministro, a não ser no nome do cargo que lhe deram, mas para cujo exercício nunca lhe passaram o devido cartão.
Seja como for é tempo de os líderes da região mostrarem o que valem, e que façam erguer por aí um grande clamor, para que o Museu do Douro, e outras coisas que merecemos mas não temos, seja uma realidade ao serviço dos que cá labutam e dos que por cá aportem em busca do muito que temos.