Ana Soares

Ana Soares

Medidas COVID nas escolas… sem sentido!

Todos sabemos que este ano de 2020, quase a acabar por sinal, nos trouxe inúmeras mudanças de hábitos, a grande maioria das quais derivadas da pandemia. Se algumas se mostram essenciais para combater um contágio exorbitante, algumas outras – além de não fazerem qualquer sentido – são até contraproducentes. Destas, e limitando-me ao contexto escolar até ao primeiro ciclo, referirei o facto de muitas escolas terem deixado de realizar a escovagem de dentes (refiro-me essencialmente a creches e jardins de infância) e também o terem proibido que as crianças levassem bolo de aniversário.

O fim do hábito da escovagem de dentes após o almoço, sobretudo até ao 1.º ciclo em que as crianças adquirem e autonomizam rotinas, é um erro crasso, como se esta questão higiénica e de saúde fosse opcional, transmitindo às crianças a ideia de não ser indispensável. Diz-se que o facto de não existir lavagem dos dentes se prende com questões de higiene, pelo que pergunto… Sendo essencial a supervisão, em tempos não pandémicos, para que não haja, por exemplo, troca de escovas entre crianças, não é possível manter o mesmo esforço agora? E, mesmo que fosse necessário dividir os grupos – o que daria certamente mais trabalho – não se sobrepõem a questão da higiene e saúde oral? Bem sei que há algumas décadas o dentista e a saúde oral era algo perfeitamente secundário, a que a grande generalidade da população só recorria em último caso, mas felizmente já não é assim… Ou será que o facilitismo se sobrepõem? Isto já para não falar de algumas teorias, como a defendida no British Dental Journalpor Martin Addy que afirma que a lavagem dos dentes deve até ser reforçada em altura de pandemia…

Outra questão com a qual discordo profundamente é a proibição das crianças levarem bolo de aniversário para a escola. Compreendo que houvesse regras quanto à não existência de velas nos bolos (por motivos óbvios de higiene) mas não a sua proibição. Portanto, o que estou a falar é de crianças até à primária, que nunca usam máscara em ambiente escolar, levarem o bolo, cantarem os parabéns e comerem de um bolo cortado por um adulto (educador ou auxiliar) presente na sala. A este título importa recordar que estas mesmas levam diariamente coisas de casa para a escola (batas, mochilas, lanches, garrafas) que são usadas pela própria criança (pelo menos) e pelo adulto responsável (mais uma vez me reporto a crianças até ao primeiro ciclo). Depois, porque está cientificamente comprovado (aliás, é das poucas evidências que se mantém desde que o vírus pandémico que nos assola começou a ser seriamente estudado) que é um vírus respiratório e conjuntival que não se transmite por alimentos. Vejam a este título a informação disponível nos sites da DGS, ASAE, OMS e CDC (Centers for Disease Control). E sublinho também a importância da saúde mental e emocional das crianças, numa data que a esmagadora maioria espera com particular alegria e entusiasmo, num ano onde lhes foram roubados os abraços e brincadeiras de rodas com os colegas, os sorrisos e colo das educadoras e até muitos momentos de partilha que as escolas retiraram das suas actividades. Até as simples festinhas de Natal, em que as crianças tanto gostam de mostrar os seus talentos à Família, foram suprimidas (deixo aqui uma menção de reconhecimento às instituições que recorreram às novas tecnologias para que este momento, ainda que diferente, não deixasse de existir). Porque lhes retirar também a partilha do bolo e dos “parabéns” num dia de afectos como o aniversário, agredindo emocionalmente as crianças num ano em que tanto já lhes foi tirado?

Não há dúvida que é necessário existirem regras e que há que as cumprir. Penso até que deveriam ser mais apertadas em épocas como a natalícia que se avizinha. Mas o facto de se criarem regras que não têm qualquer razão de ser, não é só ignorância e fundamentalismo infundado. É de uma gravidade e insensibilidade atroz.


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