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A linguagem do capitalismo

Retrato de fernando
Fernando Campos Gouveia

A linguagem do capitalismo

A sociedade pós-moderna em que vivemos exerce o poder, em grande medida, pela comunicação, e esta é essencialmente composta duma imagem que se mostra e dum discurso que se sustenta. A linguagem passou assim a ser um elemento essencial do exercício do poder. É pela palavra que se chega aos mais recônditos lugares do globo, é pela imagem que um cidadão dos confins da China pode ter acesso ao conhecimento dos produtos ao mesmo tempo que um banqueiro de Nova York. A abolição das fronteiras nacionais e das barreiras à livre circulação das mercadorias e capitais, a que chamamos globalização, tende a aplanar línguas e culturas e, com a subalternização de formas diversas de ver o mundo, produzir uma massa uniformizada com uma visão única, padronizada, normalizada pela comunicação de massas.

Neste contexto de crise em que mergulhou o sistema financeiro, que arrasta consigo a economia e a sociedade, o capitalismo tenta sobreviver pela comunicação. De facto, é difícil explicar ao cidadão comum em que consiste a crise. As referências do cidadão comum ao dinheiro e ao crédito baseiam-se num conhecimento empírico ligado a um facto fundador concreto e palpável: o dinheiro nasceu como equivalente de bens ou serviços que se trocam e correspondendo ao valor desses bens ou serviços. Ora, o desenvolvimento do capitalismo levou a que este conceito de base deixasse de ter qualquer conteúdo: a moeda é criada essencialmente pelo crédito e este é multiplicado sem haver uma correspondência efectiva entre a sua multiplicação e a efectiva criação de riqueza. O capitalismo assenta hoje numa espécie de fé (como se fosse uma religião). A fé no sistema é que o mantém de pé. No dia em que os detentores do dinheiro (os depositantes) pretenderem reavê-lo na totalidade o sistema desfaz-se.

O sistema e os seus arautos têm multiplicado os discursos em que apelam à confiança, e temos ouvido proclamar até à exaustão que não há alternativa ao sistema capitalista e que a crise se deveu apenas a uns poucos gananciosos que se desviaram da cartilha de virtudes do sistema. E se abríssemos os olhos?

Apesar dos eufemismos inventados pelo capitalismo para edulcorar a linguagem bélica que está subjacente à sua natureza, é preciso saber que o sucesso de uns, no capitalismo, representa dramaticamente o empobrecimento e a exclusão de outros. A melhor prova é-nos dada pelos últimos vinte anos de liberalismo e globalização. A acumulação de fortunas individuais atingiu dimensões nunca antes verificadas, ao passo que a exclusão e a precaridade flagelam largas partes do globo e amplas franjas de população, mesmo nas sociedades ditas mais ricas.O capitalismo é o matar ou morrer, é a guerra pelo domínio, pela supremacia, seja das matérias-primas, seja do mercado. Os meios de o conseguir são diversos. A sã concorrência que o capitalismo apregoa é uma ilusão todos os dias desfeita pela avalanche das fusões e aquisições, pela corrupção nos serviços públicos, pelo domínio dos mecanismos de comercialização, pela subversão das regras de comércio, pela violação generalizada das leis, pelo desprezo diário dos direitos dos consumidores e dos cidadãos. Subsumir toda esta avalanche de deslealdades, fraudes, abusos, crimes, usurpação dos Estados, no conceito geral de iniciativa privada é o mesmo que querer vestir de virgens imaculadas os milhares de prostitutas das nossas cidades.

A iniciativa privada, factor de liberdade e de emancipação individual, é um direito a exercer por cada cidadão do mundo com a consciência de que os outros têm o mesmo direito e, portanto, com a consciência de que os nossos direitos têm de ser harmonizados com os direitos dos outros; o capitalismo, pelo contrário, é a filosofia do domínio dos concorrentes, sem olhar a meios, pois apenas o fim interessa: o fim é a acumulação capitalista, o domínio do mercado e através dele o poder e o domínio do Estado.

A actual crise começa a dar exemplos cheios de significado. Os políticos que vieram a terreiro defender os banqueiros, fizeram-no antes de mais com o objectivo de salvar o sistema, pois eles são os meros serventuários do sistema. Até há pouco, a sua preocupação maior era o equilíbrio das contas públicas, a redução dos défices, não hesitando com isso em lançar milhares de pessoas para o desemprego, apertar os regimes de pensões, sobrecarregar de impostos as classes mais modestas, reduzir drasticamente os serviços à colectividade, espartilhar os sistemas de saúde e bem estar colectivo, comprometer a educação e abandonar à lei da força os sistemas de justiça públicos. Tudo em nome do equilíbrio orçamental. Declara-se a crise e já não há défice a reduzir, nem contas públicas a equilibrar, nem utilização racional de recursos, nem preocupação com as gerações futuras, nem vergonha na alteração radical do discurso.

No meio disto, um argumento ganhou vulto: a falha da regulação. Ora cá está, a falha da regulação!!! Mas a regulação não é o eterno e definitivo argumento do liberalismo que pretende reduzir o Estado a zero? O Estado não tem nada a fazer na economia. Deve limitar-se a regular! Não é este o argumento estafado por todos os profs liberais, desde a escola de Chicago até aos aprendizes liberais da nossa praça? Então aí têm o que é a regulação. Se não percebem, para o nosso país eu explico:

Há mais de trinta anos, o capitalismo, ressuscitado depois de metido o socialismo na gaveta dum primeiro ministro tão famoso pelo seu ardor democrático como pela sua ingenuidade em economia, pegou numas dezenas de jovens economistas brilhantes da nossa melhor escola e nomeou-os gestores públicos. Eram todos keynesianos, mas, muito abertos de espírito e sequiosos de modernidade, em breve se converteram ao liberalismo puro e duro e ao monetarismo da escola de Chicago. Ocuparam rapidamente os postos de comando da banca (pública e privada) e das empresas públicas bem como os postos-chave dos ministérios da economia e das finanças, das instituições reguladoras. No fim dos respectivos mandatos trocavam de cadeiras. Saíam da administração dum banco para o Banco de Portugal ou Caixa Geral de Depósitos, passavam daqui para a Direcção-Geral do Tesouro ou mesmo para ministros ou secretários de Estado, faziam uma perninha na Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários, reformavam-se com chorudas reformas e prémios de fim de funções e iam arredondar os proventos com um lugarzinho confortável na administração do Montepio Geral ou numa Fundação milionária.

O que é certo é que todos são amigos de todos, pardais da mesma ninhada, colaboradores num ou noutro momento das suas carreiras. Como acham que se fiscalizam uns aos outros? Como estranhar o discurso dum Governador do Banco de Portugal que não viu nada, não sabia de nada, não foi informado de nada? Como acreditar num administrador dum Banco falido, entregue aos cuidados do Estado de todos nós, que não viu o seu Presidente enriquecer, criar negócios paralelos, vigarizar os depositantes e os accionistas em proveito próprio? É isto a regulação em Portugal! E de todas as outras regulações do sistema. Um clube de amigos de elite que gerem a crise dos outros em proveito próprio, que confiam uns nos outros, uma espécie de /”Umo di honore”/ de certas sociedades informais do crime, que actuam segundo códigos próprios e nunca se mordem uns aos outros.

No meio disto, a promiscuidade entre o governo e os interesses dessa classe é evidente, e não é a prisão dum banqueiro que vem provar-nos que o poder do Estado pode ser exercico em proveito de todos os cidadãos. O Estado está entregue aos mesmos, e pobres de nós, votantes de quatro em quatro anos, que ao votar numa espécie de binómio cara/coroa acabamos por nos enredar no seu discurso, na sua mentira, e legitimar a sua ignomínia.

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