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Interioridade#1: A Interioridade num imbróglio à toa

Retrato de batista
Vítor Batista

Interioridade#1: A Interioridade num imbróglio à toa

A Interioridade vive um círculo vicioso do qual não consegue sair por razões de cultura geracional, um problema interno de perceção de valor por depreciação dos recursos próprios e uma recusa à solução por passividade, onde o lamiré da solução passa por uma estratégia para território, no território e com o território.

 

Há muito que ouvimos falar, prometer e oferecer uma descriminação positiva de incentivos às regiões Com Problemas de Interioridade. Revolta-me poder ler no próprio Diário da República expressões deste tipo: “Áreas territoriais beneficiárias dos incentivos às regiões com problemas de interioridade conforme o disposto nos…". A Interioridade é apenas a qualidade ou estado do que é interior e, mesmo reconhecendo neste nosso interior de Portugal um estado de desenvolvimento socioeconómico recessivo, apesar dos esforços locais, só por si, a interioridade não é sinónimo de pobreza ou de mendigação e muito menos sinónimo de Problema. Muito pelo contrário, são territórios ricos pelos recursos que têm, pelos produtos que produzem e, principalmente, pelo carácter resiliente das pessoas que geram. Mas, na verdade esta é mesmo a ideia que transmitimos de nós ao exterior.  Revolta-me sobretudo como transmontano, ao ponto de cada vez mais encontrar a verdade num dos pensamentos de Giovani Boccaccio: os ignorantes julgam a interioridade a partir da exterioridade.  

 

Assim nunca quebraremos este círculo vicioso

Desde há muito que nos deixamos levar pelas modas e bitolas da exterioridade, imitando-a nos seus padrões e querendo ser-lhe igual na forma, como se tudo o que a caracteriza fosse o melhor para nós e melhor do que aquilo que nos caracteriza como individuais, singulares e diferenciadores. A entranhada falta de confiança naquilo que nos caracteriza e o congénito desacreditar numa inversão das coisas, são o registo matricial do problema real vivido pela interioridade de hoje. Em vez de “arregaçarmos as mangas” e de nos “fazermos à vida, resignamo-nos a uma dominadora passividade de desenrascanço e de mera gestão do dia a dia. É nesta condição de “coitadinho” e “pobrezinho” que nos permitimos caracterizar por terceiros, ao ponto de aplaudirmos o mediatismo assistencialista e populista da exterioridade quando, de vez em quando, decidem lembrar-se de nós, com pequenas esmolas. Esmolas, que sabemos não resolverem o problema pela raiz, mas que dão jeito a alguns para continuarem a proclamar meros atos de rotina de gestão como grandes feitos e continuarem a alimentar a senda da venda de uma ilusão.

No último meio século, pelo menos, andámos entretidos a governar os nossos destinos numa abordagem de mera gestão corrente e deixámo-nos levar por uma competição interna de quem nos governa alternadamente, avaliada no sucesso das iniciativas pelo número de infraestruturas que conseguiu ou não exigir do Estado e na ignorância de acreditar que uma mera lista de infraestruturas e de serviços públicos bastará para dinamizar uma economia local, promotora de emprego e fixadora dos jovens. “Erro Crasso”, “vitória de Pirro” ou “calcanhar de Aquiles”, qualquer uma destas expressões caracteriza bem as vitórias alcançadas. No entanto, reconheço que estes erros de gestão não poderiam ter sido evitados, porque as raízes do problema da interioridade não são de natureza estrutural. A natureza é outra e exige outra ação.

 

O imbróglio é de natureza cultural

A minha geração cresceu a ouvir os pais, os avós e os bisavós dizerem lengalengas deste género: "Meu filho/minha filha, faz por estudar e livra-te disto”, “aqui não tens futuro", … “terras pequenas não fazem Homens grandes”, entre outras. Era isto que ecoava repetidamente aos nossos ouvidos, mas não foi só a minha geração a ouvir tal ladainha, nos ouvidos das gerações que me antecederam e precederam também ressoaram tais palavras. Foram décadas a fio nesta depreciação do território pelo descrédito que incutíamos nas gerações sucedâneas. Contudo, foram estas mesmas gerações que nos governaram e governam nas promessas de confiança e de desenvolvimento, nas quais elas próprias não acreditam, não por falta de faculdades, mas simplesmente por falta de perceção de valor, que não lhe foi transmitida ao longo do seu percurso de formação educativa.

Na verdade, nós não tínhamos e continuamos a não ter uma geração preparada, com atores capacitados para potenciar uma inteligência coletiva necessária a uma estratégia de coesão territorial, assente numa abordagem de envolvimento e partilha. Mas o erro não é uma coisa má! Efetivamente só se avança quando se perde o medo de errar e se ganha coragem para arriscar. O erro é a oportunidade de fazer um caminho de melhoria contínua e, por falar nisto, saliento que um déficit de cultura de melhoria contínua adicionado a um déficit de “emparcelamento” de ideias e mentalidades, são razões culturais que obstaculizam o nosso desenvolvimento, pela forte predisposição de se querer estar constantemente a reinventar a roda, pondo de lado tudo o que anteriormente se fez e fazer tudo novamente, à sua maneira, na cegueira de querer deixar a sua marca e na superioridade ilusória de achar que a sua ideia é melhor que qualquer outra. Isto, numa relação custo-benefício, é dos maiores desperdícios de recursos que jamais teria cabimento numa gestão privada saudável, mesmo numa alternância de gestores em ciclos curtos a acontecer.

 

Aculturar a metamorfose

Ultrapassar obstáculos de natureza cultural leva tempo e exige transpiração e muita inspiração, uma vez que as mudanças culturais requerem uma metamorfose assertiva, capaz de romper com um modo de pensar e agir do passado. A visão deve estar no horizonte de longo prazo, substituindo os indicadores de avaliação dos ciclos curtos de governação, e a Estratégia ser de Gestão Adaptativa e Participada, para se ser capaz de construir a tal ambicionada solução para o território, no território e com o território.

É evidente que o nosso problema não está fora, na Exterioridade. O problema da Interioridade é interno à própria Interioridade e somos nós a fonte de ameaça, pela passividade e resignação que assumimos, pela forma como constantemente empurramos o problema “com a barriga” e pela maneira como fugimos à responsabilidade de assumirmos a construção da solução. Solução que não está numa qualquer proposta individual de um programa ou iniciativa, mas na habilidade de contruir a solução participada, isto é, gerada nos esforços coletivos de um contexto de envolvimento participativo e não numa suposta solução milagrosa vinda da cabeça de alguém individualmente ou de um grupo ou setor restrito.

Por tudo isto, urge a necessidade de uma estratégia de longo prazo para podermos inverter a tendência negativa, alicerçada num sistema educativo que valorize e demonstre às novas gerações o potencial económico do território e que as capacite numa estratégia de confiança, em torno dos recursos endógenos e num olhar para o futuro.

 

Um lamiré de epifania

Reter capital humano e contrariar um êxodo não é tarefa fácil e não se consegue fechando ou escancarando portas, construindo muros internos ou simplesmente abrindo vias de comunicação com o exterior, até porque estas últimas têm dois sentidos e, num contexto de desvalorização do território, seriam sempre mais os que sairiam do que aqueles que ficariam, regressariam ou entrariam. Contudo, é desejável pensar em construir já o futuro, porque o futuro é apenas o resultado da ação do presente.

O vínculo e o perfil cultural de um indivíduo ou de uma geração estará sempre no resultado do percurso educativo que este(a) faz no território, até ao 12º ano de escolaridade, pois qualquer etapa seguinte, universitária a ou não, representa apenas o reforço de capacitação e excelência. Um concelho que se sente numa crescente incapacidade de reter e acompanhar os seus munícipes neste percurso, está sintomaticamente “anémico” e em estado de insolvência, por perda de capital humana. No entanto, é natural e vantajoso que um cidadão/munícipe, depois de um percurso de 12 anos de escolaridade que o capacitou num reconhecimento do valor dos recursos endógenos, saia do seu município para prosseguimento de estudos na formação pessoal, ao nível dos conhecimentos e das competências. Lá fora deparar-se-á com a realidade e muita adversidade que o fará valorizar ainda mais o seu território natal. Numa qualquer encruzilhada do seu percurso de vida, a ponderação e a decisão de regresso aumentará de probabilidade, por via do facto de ele ser o dono de um ativo valioso, herdado de seus pais, que potenciado pelo que aprendeu e experienciou, encontrará modelos de negócio capazes de lhe oferecer uma melhor qualidade de vida, comparada com uma outra qualquer ofereceria por um outro qualquer trabalho por contra doutrem, na vantagem de não estar desenraizado.

A solução está efetivamente nas gerações futuras e a nós cabe-nos a tarefa de lhe proporcionar todas as condições de futuro, sem continuarmos na ilusão de acreditar que um simples “cheque-natalidade“ ou uma procura de novos povoadores contrariem a tendência acentuada de despovoamento e envelhecimento da população. A solução está no futuro, naqueles que serão a nossa descendência e na nossa capacidade de lhe proporcionarmos as condições ideais, na perspectiva deles, e alinhadas com as suas expetactivas e aspirações. Não devemos impor-lhe o nosso contexto e a nossa vontade, porque o nosso contexto é passado e presente e amanhã estará démodé.

 

Um possível caminho: rede de nichos de competências num ecossistema conciliar.

Estou convicto que este possa ser um dos caminhos a seguir e deixo aqui dois possíveis pilares estratégicas de suporte à ação, que a Interioridade deve encarar como desafio e principalmente como oportunidade de melhoria:

  1. Aproveitar a “autonomia e flexibilidade curricular” do ensino básico e secundário, que permitir às escolas a gestão do currículo ajustado às necessidades especificas de cada território, de modo a que se alcancem as competências de um perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória. 
  2. Aproveitar a “globalização 4.0” no contexto da “quarta revolução industrial”, que está a transformar a sociedade e remodelar o futuro, ainda que as oportunidades oferecidas sejam enormes, também representa uma série de desafios e oportunidade.

No que diz respeito ao primeiro pilar estratégico, dispensam-se desenvolvimentos adicionais ao que já foi aqui dito, para dar espaço ao desenvolvimento do pilar estratégico 2, não tão linear e intuitivo. Mesmo não pretendendo ser exaustivo, identifico aqui duas possíveis vertentes de atuação em relação aos desafios/oportunidades para o nosso interior oferecidas pela digitalização, desmaterialização e automação da economia.

A primeira vertente, relaciona-se com o facto de cada vez mais haver lugar  a um contexto laboral que nos permite estar a trabalhar para qualquer ponto do país e/ou do mundo, sem exigir uma presença física, diária ou frequente nesse local, e dedicar tempo a outras atividades paralelas. Isto é dar oportunidade à criação daquilo que eu aqui chamaria de ECOSSISTEMA CONCILIAR, como oportunidade à retenção de capital humano em territórios deprimidos demograficamente.  

A epifania desta ideia conciliar surgiu-me numa conversa casual que tive com um ex-aluno meu, no passado natal junto à terra, onde ele me falou do seu percurso nesta última década. Na sua história de vida percebi duas coisas: terminara o mestrado com entusiasmo e excelência, numa área emergente das TI (Tecnologia da Informação), perfil que lhe garante admissão direta em qualquer emprego, nacional ou internacional, e que tomara a decisão de ficar na sua terra para levar por diante o legado da família (atividade agrícola), pelo infortúnio de ter perdido inesperadamente a presença física de seu pai. Apesar da forma orgulhosa como me transmitiu estas duas componentes da sua história, o entusiasmo não foi bem o mesmo em ambas as partes da história. Se na primeira parte, percebi um brilho no olhar a cada vez que falava, na segunda, asssisti a um ligeiro baixar de cabeça e desviar de olhar, em jeito de resignação. De imediato tive a certeza que vivia dominado por um conflito interno, no dualismo carreira profissional e missão de legado, então, aproveitando a pausa que se seguiu, felicitei-o pelo mérito académico, mas sobretudo enalteci-o pela coragem da sua tomada de decisão. Por provocação minha, a conversa prosseguiu naturalmente por mais algum tempo à volta das possíveis alternativas de conciliação dessas duas partes do dilema, sem prejuízo de nenhuma delas. Voltando à razão desta história, esta ideia conciliar só me “fez clik” mesmo no final da nossa conversa, aquando da despedida, e no momento em que ele me disse algo do género: “Obrigado, professor, por esta conversa! Daqui levo outra maneira de ver as coisas. Uma conversa que aguardava há mais tempo. Obrigado, mais uma vez”. Foram esta as palavras que me deixaram a pensar e que validaram este pensamento meu.

Já no segundo pilar estratégico, em torno do impacte e dos desafios do mercado de trabalho do futuro, pode ser abordada em torno do recente estudo, da responsabilidade da CIP- Confederação Empresarial de Portugal, divulgado em meados deste mês,  que conclui que em Portugal a automação pode custar 1,1 milhões de empregos mas criar outros tantos na próxima década, como resultado do processo de robotização e de digitalização de alguns setores, e que  consequentemente levará à necessidade de 1,8 milhões de trabalhadores terem de melhorar as suas competências ou mudar de emprego. Aqui, não posso deixar de ver desafios e, sobretudo, oportunidades para a região de Trás-os-Montes. Então, porque não aproveitar os dois polos universitários de excelência, que já possui, para disseminar e dinamizar na região a criação de uma rede diversificada de NICHOS DE COMPETÊNCIAS, estruturada em nós municipais?

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