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A História não acabou

Retrato de fernando
Fernando Campos Gouveia

A História não acabou

Parte importante da actualidade que nos transmitem os órgãos de comunicação social são questões políticas efémeras, de importância menor. O próprio jogo da disputa político-partidária alimenta-se bastante mais de pequenos incidentes do quotidiano artificialmente ampliados por razões de oportunismo do que da discussão de verdadeiras estratégias alternativas a médio e longo prazo. Os partidos a que se convencionou chamar do arco do poder, os que têm hipóteses mais ou menos prováveis de chegar à governação, não diferem muito nas suas linhas programáticas essenciais e diferem ainda menos nas suas práticas políticas.

É que o exercício da governação nas sociedades burguesas ocidentais está manietado pela acção de grupos de pressão, que retiraram aos governos a capacidade de exercer o poder no sentido que lhes ditaria o resultado do voto dos cidadãos. É por isso que o jogo político se tornou uma mentira pegada, em que o discurso eleitoral se destina apenas a alcançar o poleiro. Alcançado este, o exercício político é uma mera gestão de interesses obscuros, de acordo com as forças de pressão dominantes. Os governos limitam-se a fazer arbitragens menores, a cultivar a própria imagem e, como se diz agora, a marcar a agenda política.

Este estado da autodenominada sociedade da informação não é uma especificidade portuguesa. Passa-se o mesmo, em maior ou menor medida, em todas os países em que uma certa estabilidade constitucional e política conduziu a algum progresso material e anestesiou as classes médias - aquelas cuja oscilação determina normalmente o partido no poder; e baseia-se numa forma de comunicação politicamente correcta, com uma semântica própria, que tende a omitir as questões de fundo e a silenciar as franjas marginais da opinião. A moda é ao centro, o centro é o poder e poder é domínio da comunicação.

No entanto, e por muito que esta afimação contrarie as opiniões trinfantes do liberalismo, a História não acabou: a terra move-se, já dizia Galileu, e as sociedades transformam-se todos os dias, porque têm em si mesmas os germes da transformação. Se pararmos uns momentos o filme da actualidade e compararmos a sociedade de hoje com a de há dez, trinta, ou cinquenta anos atrás, verificamos isso mesmo, a sociedade mudou-se, mesmo que tenhamos dificuldade de ver como e por que razões e com que alavancas. Sentimo-lo no dia a dia, como nos apercebemos de que a árvore cresceu ou de que as pedras criaram musgo. E a razão de não nos termos apercebido antes é que vivemos depressa demais, sob a pressão do quotidiano, do imediato, da falta de tempo, em resumo, sob a tirania duma actualidade feita hora a hora e a alta velocidade.

Mas esta forma de viver a actualidade tem consequências no estado e na evolução da sociedade, pois a impossibilidade de ver e analisar a prazo impede a formação de estratégias e dificulta as opções políticas coerentes e estáveis. Não será por causa desta desorientação ideológica que uma parte cada vez mais importante do eleitorado das nossas democracias formais não vê qualquer utilidade em votar? Não será esta carência de ideologias que impede as verdadeiras mudanças e eterniza regimes de compromisso imorais, que só cairão de podres ou por cataclismos sociais?

Nas últimas décadas passou a ser pecado falar de esquerda e de direita e políticamente correcto sustentar que as lutas de classes são um anacronismo histórico, que o capitalismo puro e duro não existe. E, no entanto, estas realidades são bem palpáveis no dia a dia, se quisermos dar-nos ao trabalho da reflexão honesta sobre os factos.

Portugal sempre foi, a este propósito, um país atrasado relativamente a outros. Andamos normalmente a reboque das situações, esperamos para ver, desconfiados das inovações, medrosos do futuro. Não temos, enfim, uma visão estratégica sobre a nossa posição do mundo, confiamos no nosso instinto do desenrascanso para sobreviver às crises. Mas esta nossa natureza inconstante, imediatista e improvisadora tem algumas vantagens, e tem seguramente a vantagem de nunca sentirmos com tanta violência as mudanças sociais. As grandes convulsões sociais da Europa - A Reforma, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, as grandes guerras - chegaram a Portugal ou através de idéias minoritárias sempre reprimidas por poderes conservadores ou nas últimas ressacas dos acontecimentos, suportadas a custo pelos mesmos poderes.

Neste momento a actualidade europeia mostra os sinais evidentes duma luta de classes surda mas nem por isso menos violenta: empresas de grande dimensão e com interesses globais - Danone, Marks & Spencer, Erikson, Moulinex, entre outras - procedem a despedimentos em massa não por estarem em risco de falência, mas porque a ganância dos seus accionistas entende que certos locais de fabrico deixaram de ser interessantes. Preocupam-se tão pouco com a sorte dos trabalhadores como os negreiros do Século XVII ou os industriais do início da Revolução industrial. É verdadeiramente a luta do capital financeiro contra o trabalho, sem vergonha, sem ética (esta questão da ética ou da falta dela será objecto de outra crónica). As cotações na bolsa sobem quando se anunciam despedimentos. Os governos - sejam liberais, socialistas ou democratas-cristãos - todos do centro político, confessam-se impotentes para disciplinar o capitalismo selvagem que lhes impôs a globalização e lhes contesta o direito de legislar em matéria económica. Apetece perguntar para que querem o poder que lhes conferem os cidadãos, se não podem usá-lo para disciplinar a sociedade.

O que há de novo neste processo é que já não são os partidos tradicionais de esquerda a vir à luta e dar a resposta. Esses, desacreditados aos olhos dos cidadãos mais frágeis pelos seus desvios ideológicos e compromissos ao centro, vêem agora os movimentos sociais autónomos ocupar a rua e conduzir a contestação. A cimeira de Seattle no ano passado, como as reuniões das elites financeiras de Davos ou de Genebra, não foram perturbadas por partidos comunistas, quase envergonhados, mas sim por movimentos sociais com elevada capacidade de mobilização, que comunicam pela Internet e se expandem rapidamente. São eles que congregam descontentamentos acumulados de desempregados, de excluídos, de pequenos agricultores desiludidos, num amplo movimento que tem possibilidades de vir a constituir uma plataforma global de luta contra a globalização financeira. Muitos deles estão unidos numa organização nascida em França em 1998 e já espalhada por duas dezenas de países, incluindo Portugal. O seu nome é uma sigla, mas tem em português uma tonalidade premonitória. Fixem-lhe o nome, pois poderá vir a fazer história:ATTAC!

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