É tido como processo habitual, encerrar o ano fazendo um balanço geral. Isto serve para todas as empresas, já que é necessário fechar as contas do ano e apresentar o balancete final, alguns à procura do saldo positivo, outros querendo que ele seja negativo à força, para poder fugir ao pagamento fiscal que lhe seria devido. Enfim! Todos temos de fazer um balanço. Até mesmo quem nunca teve, nem tem empresa para fazer o balanço indispensável, acaba por fazer o seu próprio balanço sobre o ano que termina. E nós fazemos. Sem problemas. Ao longo do ano todos o foram fazendo, cada vez que se queixavam, ou não, de alguma coisa que acontecia.
Pois é, e ao queixarem-se imploravam a Deus para que tivesse piedade de todos nós! Nós, isto é, do mundo inteiro. Na verdade este mundo, roda a uma velocidade diferente! E talvez esse segundo a mais que lhe adicionaram na passagem do ano, não seja mais do que o resultado de tanto desastre!
O ano que agora partiu, deixou escrito na história da humanidade tantas calamidades que mais parece o caminho final da existência humana do que outro caminho qualquer em prol do progresso. E se o progresso se medir pelo número de mortos, pela quantidade de aviões que caíram, pelo número de fogos que destruíram propriedades, cidades, pessoas, pelos tsunamis que mataram milhares de pessoas, pelos furacões e pelos tufões e outros movimentos da natureza idênticos, sem contar com o próprio ser humano que resolve contribuir para a desgraça, incendiando carros e cidades ou promovendo a guerra, então este mundo evoluiu bastante! Mas se for o contrário, então este mundo está mesmo à beira do caos. O fim está perto.
Mas além das forças da natureza, todos temos de enfrentar outras forças que interferem connosco no nosso dia-a-dia. Algumas delas nós conseguimos controlar de vez em quando, mesmo que até esse momento chegar, tenhamos que esperar, mas outras não somos capazes de evitar. Durante este ano tivemos que aguentar a política de guerra de um Bush paranóico que resolveu inventar uma desculpa para invadir o Iraque e prender Sadam, tivemos que suportar uma política internacional terrorista onde sobressaiu Ossam Bin Laden e todos os mortos de Madrid, tivemos de suportar as atrocidades cometidas no Iraque, os atentados terroristas, os desacatos dos emigrantes em França e tantos outros elaborados pela mão do homem!
E em Portugal? Nós além de termos suportado todas as outras tragédias ainda aguentámos com as que surgiram dentro das nossa fronteiras. E não foram poucas!
Portugal à beira de uma crise conjuntural, abandonado por Durão Barroso e logo sucedido por Santana Lopes, caiu numa situação que daria azo ao Presidente Sampaio para dissolver a Assembleia e convocar eleições. Uma catástrofe enorme que foi criticada por todos os quadrantes políticos. O resultado dessa actuação foi o surgimento de um governo inadequado e impreparado para assumir tal tarefa. Com o espelho da crise à frente e com o machado de Bruxelas sobre a cabeça, Sócrates resolveu fazer cumprir as determinações da Comunidade e não ultrapassar, fosse de que maneira fosse, o limite de convergência imposto. Assim, viu-se confrontado com uma série de greves nacionais que já não víamos desde o governo de Mário Soares. Greves na função pública, nos enfermeiros, nos médicos, nos trabalhadores das autarquias, nos tribunais, no sector jurídico, nos professores e em várias empresas. Greves e mais greves! Empresas que fecharam. Quase meio milhão de desempregados. Licenciados que não encontraram emprego, apesar das promessas. Para piorar toda a situação, atravessámos uma seca que levou à falência alguma, senão toda, a agricultura produtiva do país.
A inflação subiu, apesar do esforço, os combustíveis subiram, os transportes, os impostos seguiram a trilha. O custo de vida tornou-se quase impossível de aguentar, pelo menos para a grande maioria. Para compor o ramalhete, surge uma série de leis avulsas, dirigidas para todos os sectores, numa tentativa de travar as manifestações. Algumas até eram necessárias! Também não se pode errar em tudo! A Educação foi abusada e agredida e houve que regredir em muitos pontos, ficando outros em pleno lamaçal à espera de salvação. Cerca de 40 mil professores desempregados. Os tribunais viram-se ultrajados pelo poder executivo, quando este nada tem a ver com o poder judicial! Os médicos viram companheiros seus chegarem de Espanha e ocupar alguns lugares. O sector da enfermagem, com tanta vaga e tantos profissionais à espera de colocação, não vê abrir-se uma só! Não vale a pena continuar!
Perante tanta desgraça e só para terminar, o nosso primeiro-ministro cai na neve ao tentar equilíbrio em cima de uns skis durante as férias de Inverno e teve de ser evacuado para Portugal para ser tratado! Se não consegue equilibrar umas coisas tão pequenas como quer equilibrar o país? E ainda temos, (como me podia esquecer?), os quatro cavaleiros do apocalipse, que andam por aí a mendigar votos para chegarem a Belém!
Mas não se pense que é tudo tão tristonho. Não senhor! Para acabar o ano em beleza, tivemos cerca de 10 mil turistas no Funchal na passagem de ano e tivemos a partida do rali Lisboa – Dakar e a despedida do senhor Presidente da República! Haja Deus!