Não é de agora nem de ontem que eu venho dizendo que Guterres não é socialista convicto, mas sim um democrata-cristão pouco assumido e envergonhado. A confirmação do que eu venho dizendo está agora bem à mostra nesta última remodelação governamental.
O modo como Guterres tem agido ao longo destes anos de mandato, é bem demonstrativo da sua insegurança política e mesmo do sector onde inserir a sua política, visto que nunca se deu bem com os mais radicais do seu partido. Os verdadeiros socialistas nunca tiveram pé de entrada no governo e mesmo no primeiro governo, lembramo-nos bem de que a maioria dos ministros e secretários de estado eram independentes. Isto deixava logo adivinhar duas ou três coisas: primeiro que não havia quadros disponíveis dentro do partido socialista; segundo, Guterres não queria meter no governo socialistas radicais e terceiro, Guterres não queria fazer uma verdadeira política de esquerda por não se identificar com essa esquerda ultrapassada que ainda existia no PS. Tudo isto vem sendo comprovado com as remodelações que ele tem feito ao longo da sua governação.
Finalmente, com um pouco mais de coragem e de discernimento político, lá foi buscar mais um punhado de independentes, só que desta vez são ministros e secretários que se situam à direita, mais propriamente na área da democracia-cristã. Que conclusões tirar disto agora?
Bem, primeiro pode significar que Guterres pretende uma aproximação à direita, e com isto ir buscar uma mais valia no equilíbrio governamental, minimizando as críticas deste sector; segundo pode querer dizer que é nesta área que se sente melhor e mais à vontade para governar e conta com eles para sustentar o governo, levando-o até ao final e por fim pode significar uma bofetada ao Partido Socialista de onde tem recebido críticas severas, muito embora tenha dito que lhe apetecia "ir às fuças à Direita".
Seja como for, Guterres está na ribalta para o que der e vier e não parece muito seguro de si. Isto pode ser um mal-estar do PS, já que as ameaças começam a fazer parte da linguagem socialista. O ministro Jorge Coelho já tinha ameaçado que "quem se meter com o PS leva" e agora vem Guterres a dizer que queria "ir às fuças à Direita" e no fim o que acontece? Vai buscar para seus ministros elementos da direita e que até já foram ministros. De qualquer modo, é preocupante este tipo de linguagem, especialmente vindo do próprio Primeiro-Ministro. Afinal onde pára o partido da liberdade, da tolerância, do espírito crítico? Não é aceitável que um Primeiro-Ministro diga coisas deste teor, já que ele deve ser o primeiro a ter uma conduta política, cívica e humana exemplar. Enfim, os portugueses sempre foram tolerantes!
Mas vamos à remodelação. Há um elemento bem nosso conhecido neste governo e que pelo que tem feito na CCRN, não dá garantias de fazer melhor no governo. Claro que falo Braga da Cruz. As divisões de dinheiros que tem feito na zona Norte, não nos tem bafejado. Vamos lá ver se no governo se lembra mais um pouco de Trás-os-Montes. Nas Finanças temos um velho conhecido que continua a subir na consideração de Guterres: Oliveira Martins. Bem precisamos dessa confiança! Na Saúde temos quase um estreante nesta área e não vejo melhoras imediatas. Esta pasta é complicada e está absolutamente descapitalizada. Onde ir buscar mais de trezentos milhões de contos? Na Defesa temos um verdadeiro Democrata-Cristão. Dissidente do PP de Manuel Monteiro, vem agora ocupar a pasta da Defesa. Muito embora tenha alguma familiaridade com as Forças Armadas, não vislumbro grande dinâmica nesta área. Também nós não precisamos de nos defender de ninguém a não ser de nós próprios! Na Educação temos agora Júlio Pedrosa, Reitor da Universidade de Aveiro e, de algum modo, muito ligado aos problemas da Educação. Foi crítico de Santos Silva e é muito crítico quanto à excessiva proliferação de cursos superiores que para nada servem. Por seu turno, Santos Silva, passa para a Cultura e a nódoa continua, já que a contestação de que foi alvo na Educação irá continuar nesta pasta. Agora irá viajar mais com toda a certeza.
Finalmente, outro homem que sobe e com algum mérito: José Seguro. Tem feito uma carreira brilhante desde a Juventude e tem sabido ocupar o seu lugar, merecendo por isso a confiança de Guterres, mas este é capaz de se situar mais entre os radicais, muito embora fique bem entre os democratas-cristãos juntamente com Guterres!
Emfim, Guterres pela quinta vez mexeu no seu governo e se calhar, não acerta mesmo com esta viragem estratégica. Os republicanos e laicos do PS não irão com certeza aceitar muito bem esta decisão do Primeiro Ministro, mas pelo menos Jorge Coelho tem dois dirigentes da sua confiança neste governo, o que já não é mau de todo!
A oposição, apesar de tudo, pede a cabeça de Guterres e até Durão Barroso já diz que está pronto para eleições antecipadas. Para quê? Será que pensa em ganhá-las sózinho? Ou será que ainda não aprendeu a máxima que diz que "é difícil subir, mas para cair é preciso tão pouco"! Que se espelhe nos ministros do PS!