De tanto se falar na guerra, palavra que não fazia intenção de escrever qualquer artigo acerca dela, ainda que essa coisa sempre horrível seja o assunto do dia, e nos traga a todos com muita preocupação.
No entanto, duas simples imagens fizeram-me mudar de ideia, e impeliram-me para a escrita que neste momento desfila perante os olhos do senhor leitor. Uma e outra imagem, a tal coisa que vale por mil palavras, dizem respeito a duas crianças, um de cada lado da barricada, e cada qual vitima desta guerra insana como todas as outras,
mas mais atroz porque está mesmo a acabar de acontecer.
A primeira, chegou-me aos olhos através da televisão numa destas noites, e mostrava um bebe nascido prematuramente em Bagdade. O nascimento antes do tempo devido, explicavam, sucedeu porque com os bombardeamentos a grávida mãe entrou num completo descontrole nervoso que provocou o parto antes que fosse disso hora.
Até aqui nada demais, pois nascidos antes dos nove meses, é coisa que não falta neste nosso mundo de Deus que às vezes mais parece do demo, e nem eu estaria para aqui agora a gastar tinta com semelhante assunto. Só que o aspecto absolutamente chocante da cena, surge quando deparamos com um recém nascido metido numa incubadora, ligado a uns fios, visivelmente com o ritmo respiratório e cardíaco alterados, e em pânico instintivo.
Aquela desinfeliz criança, ainda mal abriu os olhos, e já está a ser vitima da maldade dos homens que teimosamente se recusam a partilhar este planeta que não lhes pertence, e que com a maior das desinteligências continuam a estragar, não cumprindo a sua principal obrigação, que é cuidá-lo muito bem, para que seres como os acabados de nascer o possam receber como herança para por sua vez o cuidarem.
A segunda imagem, deparei com ela num jornal do passado fim-de-semana, e mostrava-me uma rapariguinha americana, aí dos seus seis ou sete anos, filha de um militar, agarrada ao pai a chorar, numa cena de despedida por este ir para a guerra lutar. De certeza que por melhor que se explicasse, jamais este pai conseguiria dizer à sua filha porque motivo a ia deixar por uns largos dias, que podem ser meses, se não virarem uma eternidade.
Nós, os adultos, temos a mania de que só nós compreendemos o mundo, e que as crianças, por o serem, não conseguem ainda perceber a complexidade das teias que tecemos ao longo da vida. Só que, estamos profundamente enganados, ao termos a vida como algo de complicado, como algo de profundamente complexo. A vida é muito simples, por isso as crianças a compreendem, e só se torna complicada, porque os ditos
crescidos a complicam.
Se tiver dúvidas disso, senhor ou senhora que sito lê, experimente deixar num mesmo compartimento uma mão cheia de petizes das mais diversas nacionalidades, e das mas variadas etnias, e repare se passado o primeiro impacto eles estão ou não na maior das harmonias, entendam-se ou não se entendam no que toca a linguagem, e repare já agora, se colocam ou não entre si barreiras de cor de pele, ou obstáculos de fé neste ou naquele
Deus.
Em relação à guerra, a esta ou a outra qualquer, a História parece mostrar-nos que tal monstro faz parte da condição humana, e que sem a fazer acontecer os humanos não podem passar. É algo que todos dizem não querer, algo que toda a gente afirma detestar, mas raro é o século em que não houve dezenas e dezenas delas, todas justificadas por ideias ou causas supostamente muito nobres e muito altruístas até.
Não houve guerra em que aquele ou aqueles que a provocaram, não jurassem defender a maior das justiças, e não proclamasse o maior dos desinteresses pessoais.
Ao longo das Eras, o Homem para fazer aquilo que mais animal nenhum faz, - - exceptuando a hiena, matar os da própria espécie, tem-se socorrido sempre dos mais elevados argumentos, e tem sabido acalmar a própria consciência com a proclamada bondade das suas intenções, como se reconhecesse o erro que é a guerra em si própria.
Residirá nisto a réstia de inteligência, que apesar de tudo não basta para impedir a repetição dos horrores, que são suficientemente reconhecidos, mas não são findados porque os interesses obscuros de uns poucos se sobrepõem aos sofrimentos e aos sentimentos de muitos e muitos.
É pelo menos em meu ver, o caso desta guerra que vai a meio se tudo correr bem, mas vai no princípio se tudo correr mal, e para a qual se mobilizaram tantas forças, quantas
as faltas de justificações válidas para a sua realização. Escroques ditadores há-os em muitos outros sítios, armas perigosas em mãos indevidas é o que mais se vê, e terroristas à espreita, se os havia antes, muito mais os vai haver infelizmente depois.
Somente interesses de outro teor movem pois os senhores desta guerra, terrível como todas, e por isso tão injustificável como qualquer outra em qualquer tempo, seja para as crianças de hoje, adultos de amanhã, seja para os homens e mulheres deste tempo, tão
inteligentemente evoluídos, mas não ao ponto de fazer da guerra algo de que se possa garantidamente dizer JAMAIS.
Guerra jamais

Guerra jamais
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